São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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Renan discursa, mas não prova que dinheiro era seu

Presidente do Senado defende-se no caso do pagamento de pensão feito por lobista

EM DISCURSO EM PLENÁRIO , o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu-se da suspeita de ter usado dinheiro do lobista Cláudio Gontijo, da construtora Mendes Júnior, para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha em 2004. Disse que todos os recursos eram seus, mas não há prova disso nos papéis que distribuiu. O advogado da jornalista negou que havia um fundo de R$ 100 mil para a educação da criança, como informou o senador.
Renan não mencionou seu papel na liberação de verbas para obras da Gautama; a ministra Dilma Rousseff negou ter tratado do assunto com ele. Gravação registra conversa do senador com executivo da Caixa Econômica preso pela Polícia Federal.

"Todos os recursos foram meus", diz senador

Lula Marques/Folha Imagem
Renan Calheiros exibe cópias de suas declarações de Imposto de Renda para se defender do que chamou de "pseudo-escândalo"


FERNANDA KRAKOVICS
RANIER BRAGON

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante de um plenário lotado em plena segunda-feira, o senador Renan Calheiros fez um discurso de 23 minutos para se defender. Afirmou aos colegas previamente convocados para a sessão que o lobista Cláudio Gontijo, da Mendes Júnior, intermediou alguns pagamentos por ser seu amigo "há mais de 20 anos", mas negou que tenha usado dinheiro que não o seu para repassar à mãe da criança.
"Todos os recursos pagos foram meus, recursos próprios, para os quais tenho condições", afirmou o presidente do Senado, que recebe salário bruto mensal de R$ 12.720.
"Não tenho nenhuma relação com a construtora Mendes Júnior. Essa ilação que foi feita não indica nenhuma conduta minha que implicasse benefício, apoio ou qualquer outra forma de favorecimento."
Reportagem da "Veja" afirma que Gontijo repassou desde 2004 a Mônica Veloso, a pedido de Renan, R$ 16,5 mil mensais, o que representaria R$ 12 mil de pensão mais R$ 4.500 de aluguel de imóvel. Pedro Calmon, advogado de Mônica, disse que os fatos narrados pela revista são corretos, mas corrigiu o valor de R$ 16,5 mil para R$ 12,5 mil: R$ 8.000 de pensão e R$ 4.500 de aluguel.
Renan não se referiu aos valores da revista. Entregou aos senadores e à imprensa cheques e contracheques onde há registro de que pagou do seu bolso cerca de R$ 3.000 à jornalista a partir de 25 de dezembro de 2005, quando reconheceu a paternidade da filha, hoje com 2 anos e 10 meses de idade.
Antes dessa data, Renan pagaria à mãe da criança, a título de "assistência à gestante", R$ 8.000 mensais, mais o valor do aluguel (que ele não especificou) de sua moradia entre março de 2004 e novembro de 2005. Para esses gastos, não apresentou comprovantes. Sua assessoria argumentou que isso violaria o seu sigilo bancário e disse que Renan entrega anualmente sua declaração de renda ao Senado -lá estariam registrados esses pagamentos.
De acordo com a assessoria de Renan, o pagamento foi feito "algumas vezes" em dinheiro e na maioria das vezes depositado na conta da jornalista. O senador disse ainda que constituiu um fundo de R$ 100 mil para custear despesas futuras com a educação da criança.
Sobre Gontijo, Renan disse que recorreu a ele para buscar discrição. "Ele era a pessoa para fazer a interlocução entre as partes, uma vez que tinha amizade com a mãe da criança. Poucas pessoas de minha estrita relação pessoal compartilhavam dessas agruras."
Com a mulher, Verônica Calheiros, presente no plenário -a quem pediu "perdão"- e com voz embargada, Renan tentou limitar o caso a uma questão pessoal. "Confesso que tive uma relação que me deu uma filha. Episódios como esse geram contendas que muitas vezes terminam nas Varas de Família. Não fugi a esse calvário. Assumi, como pai, minhas responsabilidades."
O discurso não foi interrompido por nenhum senador, o que é raro. Entre os presentes estavam o ministro Hélio Costa (Comunicações), o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), o líder do partido na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), e o líder do governo na Câmara, deputado José Múcio (PTB-PE).
Renan não explicou sua relação com o dono da construtora Gautama, Zuleido Veras, preso na Operação Navalha acusado de fraudar obras públicas. Mostrou trecho da declaração do Imposto de Renda de 2005 para provar que é dono da fazenda Novo Largo, em Alagoas, e rebater a acusação de que ela estaria em nome de laranjas.
A sessão foi suspensa após o discurso. A mulher de Renan foi à Mesa beijá-lo, e senadores foram cumprimentá-lo. "Só quero que a minha família não seja prejudicada. Quero que seja preservada", disse Verônica.

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