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Alstom pagou propina à Petrobras, diz testemunha
Empresário contou à PF que filial suíça fez depósitos em offshore para a estatal
Depósitos feitos em conta
no Uruguai em 2002 tinham relação com obra que estatal fazia à época, a TermoRio, segundo uma testemunha
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um empresário preso pela
Polícia Federal contou em depoimento que a Alstom usou
uma conta bancária que ele tinha no Uruguai para pagar propina à Petrobras.
Segundo o empresário, os depósitos feitos em 2002 nessa
conta, de US$ 550 mil (R$ 1,6
milhão naquele ano) e 220
mil (R$ 612 mil), tinham relação com uma obra que a Petrobras fazia à época, a TermoRio,
a maior termoelétrica do país.
A Alstom forneceu as turbinas
da TermoRio num contrato de
US$ 550 milhões (cerca de
R$ 1,61 bilhão, segundo o câmbio de 2002). A Petrobras detinha 43% da TermoRio em
2002. Em dezembro do ano seguinte, passou a controlar 50%
da termoelétrica.
A Folha obteve cópia do depoimento do empresário Luiz
Geraldo Tourinho Costa, que
faz parte de um processo que
foi protegido por segredo de
Justiça. Ele foi preso em maio
de 2006 pela PF sob a suspeita
de que tentava aplicar um golpe em empresas elétricas como
Itaipu e Eletronorte. Foi inocentado porque o suposto golpe teria sido abortado pela PF
na Operação Castor.
O empresário conta no depoimento que emprestou a
conta de uma offshore que ele
tinha no Uruguai, chamada
Aranza, a pedido de José Reis,
que ocupou a vice-presidência
da Alstom entre 1999 e 2004.
Os depósitos de US$ 550 mil e
220 mil foram feitos pela filial da Alstom na Suíça. O advogado de Reis, Eduardo Muylaert, diz que seu cliente nunca
participou de negócios desse
gênero.
Segundo Costa, ele cobrou da
Alstom uma taxa de 5% sobre
os valores depositados para que
a empresa usasse sua conta no
Uruguai. Esse país foi escolhido
porque é um paraíso fiscal e
permite movimentações financeiras sem os registros exigidos
por outros países.
Um ex-executivo da Alstom
que acompanhou o caso contou
à Folha, sob a condição de que
seu nome não fosse revelado,
que a propina vinda da Suíça
era para que a Petrobras regularizasse os pagamentos das
turbinas para a Alstom, que estavam atrasados.
A Alstom, uma das maiores
empresas de energia e de transportes do mundo, está sob investigação na Suíça e na França
sob a suspeita de ter pago propinas para ganhar negócios públicos no Brasil, na Venezuela e
em Cingapura. Reportagem do
"The Wall Street Journal" citou como exemplo de corrupção uma propina de US$ 6,8
milhões que a Alstom teria pago a políticos paulistas para ganhar um negócio de US$ 45 milhões do Metrô.
O epicentro da investigação é
a filial suíça da Alstom -a mesma que fez os dois depósitos na
offshore uruguaia que teria sido usada para pagar a suposta
propina à Petrobrás.
Senador é citado
No mesmo ano em que ocorreu a apreensão dos depósitos
feitos pela Alstom suíça, em
2002, a Procuradoria da República no Distrito Federal propôs uma ação por abuso de poder econômico contra o então
candidato a senador Delcídio
Amaral (PT-MS).
Os recursos usados na campanha teriam origem ilícita e
teriam saído do caixa da Alstom, segundo a Procuradoria.
De acordo com a ação sugerida, "a Petrobras foi lesada em
pelo menos cerca de 22 milhões
de dólares no que diz respeito à
compra de uma turbina GT24,
de fabricação da AB-alson, firma francesa. Parte do dinheiro
originário dessas transações
suspeitas veio, através do candidato Delcídio, para a campanha eleitoral, financiando as
despesas para o Senado Federal
do referido candidato e de outros candidatos do mesmo partido [o PT]".
Delcídio foi diretor de energia e de gás da Petrobras de
1999 a 2001. Era essa diretoria
que tocava o negócio da TermoRio pelo fato de a termoelétrica
ser movida a gás natural. O contrato da TermoRio com a Alstom foi assinado em 2001. A
termoelétrica, localizada em
Duque de Caxias (RJ), ficou
pronta cinco anos depois.
O Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul investigou a acusação da Procuradoria de que Delcídio teria
recebido propina da Alstom,
mas a apuração foi arquivada
por falta de provas.
O senador disse à Folha que
nem estava mais na diretoria
da Petrobras em 2002, quando
foram feitos os depósitos da
Alstom suíça. A investigação
desse depósitos nunca foi concluída pela Polícia Federal.
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