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Indígenas isolados correm risco de extinção, diz ONG
Segundo organização inglesa, grupos estão localizados no Maranhão e em Mato Grosso
Funai reconhece gravidade do caso, mas afirma que toma medidas preventivas; para antropólogo, solução está na demarcação de áreas
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
Relatório da ONG inglesa
Survival International aponta
que duas tribos brasileiras de
índios isolados estão entre as
com maior risco de extinção na
América do Sul.
O estudo indica que os territórios de índios awá (ou guaja),
no oeste do Maranhão, e de índios kawahiva do rio Pardo, que
vivem no norte de Mato Grosso, estão sendo destruídos pela
exploração ilegal de madeira.
Juntos, os dois grupos somam,
no máximo, 110 índios.
Indígenas isolados são populações que vivem até hoje sem
contato com outras tribos ou
órgãos indigenistas. De acordo
com a CGII (Coordenação Geral de Índios Isolados), ligada à
Funai (Fundação Nacional do
Índio), foram identificadas 69
áreas no país onde podem existir índios não contatados.
A ONG aponta ainda que outras duas tribos do Peru e uma
do Paraguai também correm
risco de extinção. No Peru, o
problema é a exploração de petróleo e madeira. Já no Paraguai, são criadores de gado brasileiros que ameaçam os índios.
A existência dessas populações veio à tona em maio de
2008, quando a Funai divulgou
imagens de grupos isolados no
Acre. Fotos de índios tentando
acertar o avião dos "invasores"
com arcos e flechas tiveram repercussão internacional.
À época, o episódio gerou
contestações sobre a existência
dos grupos. No relatório, a
ONG cita o caso de um jornal
britânico que publicou reportagem lançando dúvidas sobre a
história e, meses depois, admitiu a validade das imagens.
Segundo Fiona Watson,
coordenadora da Survival International, as fotos criaram interesse de pessoas que não sabiam da existência de grupos
isolados em pleno século 21.
Ameaças
O relatório classifica como as
principais ameaças aos índios
isolados, em caso de contato, a
exposição a doenças, como gripe e sarampo, e os conflitos
com grupos armados.
No caso brasileiro, a pressão
mais forte vem dos setores madeireiro e de mineração, explica Elias Biggio, coordenador do
assunto na Funai. Ele diz que a
fundação está a par da possível
extinção dos grupos e trabalha
com frentes de proteção e expedições periódicas para garantir a proteção das áreas.
Watson defende a atuação do
órgão, mas expõe como problema a lentidão do Judiciário.
"Quando há invasões de madeireiros e grileiros nessas áreas,
processos e punições demoram
a acontecer." A reportagem
tentou ouvir representantes de
madeireiras em Mato Grosso,
mas não foi atendida.
Um dos especialistas consultados para o relatório, o sertanista José Carlos Meirelles, que
trabalha em uma das frentes de
proteção da Funai, diz que, com
a ação de madeireiras, os isolados são "empurrados" para
áreas já habitadas, o que pode
gerar conflitos.
"Eles fogem de processos de
pressão dessas frentes econômicas, já sabem quanto é ruim
o contato com a sociedade",
afirma Biggio, da Funai. Uma
das soluções defendidas por ele
é a demarcação das terras, o
que garante a sobrevivência física e cultural dos indígenas.
A mesma ideia é defendida
por Pedro de Niemeyer Cesarino, doutor em antropologia pelo Museu Nacional. "Demarcação de terras não é empecilho
para o desenvolvimento, mas
condição essencial para que ele
não seja feito às custas do meio
ambiente e dos habitantes da
floresta", afirma ele.
Para o antropólogo, falta uma
visão geral de governo que torne o tema prioritário, ao invés
de considerar de forma equivocada a presença dos isolados
como um obstáculo.
Colaborou NANCY DUTRA, da Redação
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