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Programa petista prevê medidas emergenciais para exportação
DA REPORTAGEM LOCAL
O programa de governo da
campanha presidencial de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), aprovado ontem pelo diretório nacional
do partido, promete medidas
emergenciais de recuperação das
contas externas, como a desoneração das exportações -com,
por exemplo, o fim da chamada
"cumulatividade das contribuições" (cobrança em cascata de tributos como a Cofins e o PIS)- e
uma política de substituição de
importações, sem o estabelecimento de barreiras alfandegárias.
Prega a colocação do desenvolvimento econômico e social como
eixo nacional, sem quebra de contratos ou medidas unilaterais.
Desde a fundação do PT, em
1980, esse é o texto econômico do
partido menos intervencionista e
beligerante e mais concessivo à
economia de mercado [veja quadro nesta página".
A renegociação do pagamento
da dívida pública é vista como
possível, se a situação econômica
estiver equilibrada. O aumento do
prazo de pagamento da dívida é
um ato de vontade do mercado,
segundo a avaliação petista. Uma
melhor dinâmica econômica pode permitir renegociação vantajosa à medida que os contratos forem vencendo.
O programa de governo afirma
que o partido respeitará as metas
econômicas aprovadas pelo Congresso na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2003, ainda em discussão e que estabelece o percentual necessário de superávit primário (economia de despesas para o pagamento de juros), as metas de inflação e de crescimento
do Produto Interno Bruto.
O governo Fernando Henrique
Cardoso aumentou de 3,5% para
3,75% do PIB o superávit primário previsto para este ano, em razão do chamado "pacote calmante", que tenta conter a desconfiança do mercado sobre a capacidade
de pagamento da dívida pública.
Assim, o PT promete seguir a
meta estabelecida pelo governo,
sob a alegação de que haverá um
período de transição em que a
melhor ou pior performance dos
indicadores econômicos dará menor ou maior margem de manobra em direção à colocação do social como eixo das políticas públicas prioritárias.
O partido pretende unificar os
diversos projetos sociais do governo em um programa de renda
mínima. O texto não especifica
valores nem número de beneficiados, o que os petistas prometem
fazer no segundo semestre.
Essa seria uma das medidas que
estimulariam a ampliação do
mercado interno, outra componente da tentativa de redução da
vulnerabilidade externa da economia sem choques.
Com a balança comercial (exportações menos importações)
superavitária e o aumento do
consumo interno, o PT acredita
que o país abrirá espaço para a diminuição gradual das taxas de juros -em nível não especificado
no programa de governo.
Crescimento do mercado interno e distribuição de renda imediata formariam o que os economistas do partido chamam de
"círculo virtuoso", que levaria à
redução da dependência externa e
possibilitariam a retomada do desenvolvimento.
Ruptura
O texto explica uma frase contida nas "Diretrizes Econômicas do
PT", proposta aprovada em encontro nacional do partido em
dezembro passado, em Recife: "A
implantação de nosso programa
de governo para o Brasil, de caráter democrático e popular, representará uma ruptura com o atual
modelo econômico".
Os petistas afirmam que essa
ruptura significará a mudança de
eixo da economia com priorização do crescimento e do social,
mas não é sinônimo de decisões
administrativas unilaterais.
Na tentativa de sinalizar o caráter negociador de uma eventual
Presidência petista, o programa
de governo prevê a realização de
amplos fóruns nacionais para
tentar chegar a propostas consensuais para as reformas tributária,
previdenciária, trabalhista, agrária e política.
As medidas de estímulo às exportações e de redução das importações seria emergenciais porque o estabelecimento de consenso para a reforma tributária pode
demorar até dois anos, acreditam,
tendo efeito só no terceiro ano de
uma eventual gestão petista.
A proposta de cobrança progressiva do Imposto de Renda, ou
seja, quem ganha menos paga
menos e quem ganha mais paga
mais, já defendida por Lula em
campanha, não é explicitada.
O partido defende o princípio,
mas não o discute fora do contexto da reforma tributária. O texto
não contempla um aumento da
alíquota do IR. Em campanha,
Lula chegou a citar um percentual
de 50% para os mais ricos.
A avaliação do PT é que a atual
equipe econômica está trabalhando com uma metodologia de
equilíbrio macroeconômico que
leva a permanentes impasses. O
sistema de controle da inflação é
apontado como extremamente rígido, dependente de uma âncora
fiscal que exige cada vez mais arrecadação e uma rolagem de dívida pública arriscada.
(PF)
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