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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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Reuniões como a cúpula entre os dois países, no último dia 20, eram reservadas à Europa e a México e Canadá, parceiros no Nafta

Interesses comuns aproximam Brasil e EUA

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

Desta vez é difícil contestar a avaliação da diplomacia brasileira de que o relacionamento com os Estados Unidos atingiu um novo patamar, tão mais forte e intenso que os mais entusiasmados chegam a definir como inédito em 171 anos de relações diplomáticas.
É verdade que diplomatas costumam vender ao público os aspectos positivos de qualquer relacionamento, em vez de enfatizar as fricções que não raro também existem. Mas, desta vez, a partir da cúpula Brasil/EUA, no dia 20, há razões para tomar como verdadeira a avaliação.
Primeiro, porque Washington reserva esse tipo de reuniões de cúpula, envolvendo o governante e um punhado de ministros, para apenas três aliados: Canadá e México, parceiros no Nafta, e União Européia, a segunda potência econômica do planeta.
São, por definição, países (ou um bloco) com o qual o relacionamento é intenso e, portanto, justifica um tratamento diferenciado. Com o Brasil, não.
Mesmo do lado brasileiro, diplomatas de grande experiência não recordam ter havido reuniões com tantos ministros presentes de parte a parte, exceto, talvez, com a Argentina.
O novo patamar de relacionamento tornou-se possível porque as partes acharam conveniente deixar no congelador os temas que causam divergências, como é o caso da área comercial.
"Alca (Área de Livre Comércio das Américas) mal foi mencionada", depõe Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do presidente brasileiro. Não obstante, figurou no comunicado final de tal forma que causou muito ruído internamente (ver texto abaixo).
A decisão era não só enfatizar itens em que a cooperação é possível e desejável, mas também olhar para a frente. A mudança de patamar no relacionamento não surge só do simbolismo da cúpula, mas, principalmente, do interesse norte-americano em dar sequência aos entendimentos iniciados em Washington.
Todos os grupos de trabalho conjuntos criados no dia 20 já têm reuniões previstas para o outono (do Hemisfério Norte, que começa dia 21 de setembro).
O elenco de temas é portentoso. "O Grupo para o Crescimento" (entre o Tesouro dos EUA e a Fazenda brasileira) vai discutir política fiscal, reforma tributária, redução das barreiras para criação e expansão de pequenas e médias empresas, aumento do crédito e do investimento em negócios, comércio, desenvolvimento de infra-estrutura e fortalecimento da concorrência doméstica.
O Comitê Consultivo sobre Agricultura vai discutir um plano de trabalho que incluirá temas como as negociações comerciais em andamento, questões sanitárias e fitossanitárias.
Os EUA comprometeram-se a dar total colaboração ao plano de "inclusão digital" do governo brasileiro. A cooperação inclui criar, por meio de grupo comandado pelos Departamentos de Estado, Comércio e Energia dos EUA, uma plataforma do setor privado de ambos os países para desenvolver uma incubadora de empresas de novas tecnologias.
Todas essas iniciativas, de preparação no curtíssimo prazo, "forçarão o Brasil a avançar na sua própria agenda em cada um dos temas", diz o embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa.
Se falou muito, também, de Oriente Médio. Mais especificamente do "Mapa do Caminho", o plano de paz elaborado pelos Estados Unidos, com respaldo de Rússia, União Européia e Nações Unidas. O que é natural: vencida a guerra no Iraque, o plano passa a ser a prioridade um da administração norte-americana.
Para o governo brasileiro, a hipótese de pacificação regional é importante, na medida em que Lula já anunciou uma viagem à região, ainda este ano. Será uma viagem de negócios e a paz é, obviamente, o melhor ambiente para fazer negócios.


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