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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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CONFLITO AGRÁRIO

Ruralista afirma que governo prepara estatização das propriedades privadas no campo, como na URSS

Fazendeiros se armam e culpam Lula

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PARANAVAÍ

A explosão de acampamentos de sem-terra à margem de rodovias pelo país levou os produtores rurais a voltarem a se armar contra invasões. As lideranças ruralistas apontam o presidente Lula como o responsável pela elevação do clima de tensão no campo.
"A agitação voltou depois da declaração infeliz, ou propositada, do presidente Lula de que iria cuidar dos acampados", diz Marcos Prochet, 44, presidente da UDR (União Democrática Ruralista) Noroeste do Paraná. Segundo ele, os fazendeiros estão armados para enfrentar possíveis invasões.
"Vamos usar a mesma agressividade para reagir às ações armadas dos sem-terra. Isso é permitido por lei e será feito", disse.
Segundo Prochet, o noroeste do Paraná estava calmo até a posse de Lula. De 86 invasões em 2000, havia só duas áreas invadidas no final de dezembro. Após a posse de Lula e até a última sexta-feira, o noroeste contabilizava 16 novos acampamentos de sem-terra.
"O mais grave é que existiam ordens de prisão para 17 líderes do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]. Depois que Lula assumiu, as ordens foram revogadas e esses líderes voltaram à ativa, num total desrespeito às leis", disse Prochet.
Para ele, o inimigo é o governo Lula, "que só não tomou nossa terra ainda porque é o agronegócio que sustenta o país". Prochet, no entanto, afirma que o governo está se preparando para, por meio de procedimentos administrativos, "fazer do Brasil o que fizeram com a União Soviética, estatizando as propriedades privadas".
A criação de um cadastro nacional de informações rurais seria, de acordo com Prochet, o primeiro passo para a estatização das terras. "O produtor não é afeito à burocracia, e esse cadastro vai pegar muita gente", afirma.
Não é só no noroeste do Paraná que os fazendeiros estão se armando. Na região central e no centro-oeste do Estado, o PCR (Primeiro Comando Rural), criado pelo médico Humberto Mano Sá e com nome inspirado na organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), tem incentivado a contratação de seguranças pelos fazendeiros.
O Pontal do Paranapanema, em São Paulo, a Zona da Mata em Pernambuco e o Triângulo Mineiro são regiões onde os proprietários rurais admitem a formação de milícias armadas. Essas seriam as áreas mais tensas do país, mas não as únicas, segundo Narciso Rocha Clara, 47, presidente do Sinapro (Sindicato Nacional dos Produtores Rurais).
Rocha Clara diz que no Paraná a situação é mais grave "porque além da postura de Lula de acobertar os crimes dos sem-terra, o Estado tem ainda um governador militante do MST, que é o senhor Roberto Requião [PMDB]".
"Vamos sobreviver, mesmo tendo uma governador [Requião] mancomunado com o MST e um presidente que usa programas fantasmas para enviar recursos aos sem-terra", afirma Marcos Prochet. Segundo ele, o MST utiliza os acampamentos para "fazer número na busca de recursos em cestas básicas, do programa fantasma chamado Fome Zero".

"Só bala conserta o Brasil"
Na última quinta-feira, a Agência Folha conversou com vários fazendeiros da região de Paranavaí (551 km a noroeste de Curitiba). No Bar do Sidalino, tradicional ponto de encontro de fazendeiros da cidade, eles foram unânimes nas críticas ao governo Lula e na preocupação com os caminhos da reforma agrária.
"Só bala conserta o Brasil", afirmou o comerciante e pequeno proprietário rural Ângelo Gardin. Segundo ele, os problemas no campo começaram "com as leis trabalhistas, que acabaram com os colonos, e com a política paternalista das cestas básicas. Bom mesmo era no tempo do regime militar", afirma.
Dalton Costa Goetten, 53, proprietário de 1.404 hectares em fazendas no Paraná e em Mato Grosso do Sul, reclama que falta mão-de-obra no campo, por culpa da política de distribuição de cestas básicas. "O peão trabalha três meses, sai da fazenda, entra na Justiça Trabalhista e arma um barraco de lona, à espera da cesta básica do governo", afirma.
O produtor de leite Mauro Rodrigues Souza, 41, dono de 288 hectares em Terra Rica (noroeste do PR), afirma que os assentamentos no noroeste do Paraná não resistiriam a uma auditoria do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). "Sou vizinho de um assentamento e vejo. Tem cara que, depois de três meses no lote, já teve luz cortada por falta de pagamento."


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