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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PARTIDO
Instituição é a mesma na qual Marcos Valério fez saques em dinheiro totalizando R$ 21 mi
PT emprestou R$ 3,6 mi do Banco Rural no governo Lula
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O PT conseguiu no Banco Rural
em 2003 e 2004, os primeiros da
gestão Luiz Inácio Lula da Silva,
empréstimos cujo saldo atingia
R$ 5,167 milhões em dezembro
do ano passado. Sediado em Belo
Horizonte, o Rural tem relações
com o publicitário Marcos Valério de Souza, apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos operadores do
"mensalão" -o suposto pagamento de parlamentares em troca
de apoio político ao Planalto.
Em 2002, o PT só tinha contas
bancárias no Banco do Brasil, em
agências de São Paulo e Brasília.
No ano seguinte, o partido passou
a ser cliente de outros bancos e
abriu uma conta no Banco Rural,
onde conseguiu financiamento de
R$ 3,597 milhões, apesar de registrar patrimônio líquido negativo
de R$ 4,196 milhões.
Isso significa que se o PT vendesse seus ativos e recebesse os
créditos a que tinha direito, ainda
faltariam R$ 4,196 milhões para
pagar suas obrigações.
Nas poucas vezes em que se manifestou sobre as acusações que
pesam contra ele, Valério reconheceu que tem relação bastante
próxima com a diretoria do Rural.
Em entrevista à revista "Veja"
desta semana, o publicitário disse
que era amigo do dono do banco,
José Augusto Dumont, morto no
ano passado. "Éramos muito
amigos. Quando ninguém me dava crédito, ele me emprestava dinheiro", declarou.
Valério reconheceu na mesma
entrevista que esteve "várias vezes" no BC (Banco Central) na
companhia de Dumont. Segundo
ele, o Banco Rural era seu cliente e
queria adquirir o controle dos
bancos Mercantil de Pernambuco
e Econômico, que estão em processo de liquidação no BC.
O publicitário disse ainda à "Veja" que conheceu o tesoureiro do
PT, Delúbio Soares, "em meados
de 2002". É "meu melhor amigo,
um bicho do mato como eu", afirmou, sobre Delúbio. Ao "Jornal
Nacional", Valério disse que viajou duas vezes em avião do Banco
Rural.
No depoimento que deu no
Conselho de Ética da Câmara dos
Deputados, Jefferson afirmou que
recebeu R$ 4 milhões de Valério
em maços de R$ 50 e R$ 100 envoltos em cintas do Banco Rural e
do Banco do Brasil. O pagamento
seria parte de um acordo de ajuda
do PT ao PTB nas eleições municipais de 2004.
Os dados sobre os empréstimos
do banco mineiro estão nas prestações de contas de 2003 e 2004
que o PT apresentou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), assinadas por Delúbio e pelo presidente
do PT, José Genoino.
A documentação registra financiamento do Banco Rural de R$
3,597 milhões, concedido no dia
28 de novembro de 2003. No ano
seguinte, em 21 de dezembro, o
valor subiu para R$ 5,167 milhões,
o que colocou o banco na condição de maior credor do PT. O balanço também registra débito de
juros de R$ 137 mil em 21 de dezembro de 2004.
A assessoria de imprensa do PT
informou que o aumento do valor
se deve à rolagem do empréstimo,
com a incorporação ao principal
dos juros e encargos.
Crédito na praça
O Rural não foi o único banco
que aumentou o crédito ao PT
nos últimos dois anos. O BMG,
também de Belo Horizonte, concedeu empréstimo de R$ 2,4 milhões no dia 17 de fevereiro de
2003. No balanço do PT de 2004, o
valor deste financiamento subiu
para R$ 2,741 milhões.
O Banco do Brasil, que em 2002
era o único credor do PT, também
aumentou seus empréstimos ao
partido. Os financiamentos passaram de R$ 705 mil, em 2002, para R$ 1,05 milhão em 2003 e, em
2004, chegaram a R$ 3,5 milhões.
Somados, os saldos dos empréstimos dados ao PT pelas três instituições financeiras atingiram R$
7,047 milhões em 2003 e R$ 11,860
milhões no ano seguinte. Neste
período, a situação financeira do
PT piorou e seu patrimônio líquido negativo passou de R$ 4,2 milhões para R$ 24,7 milhões.
Analista financeiro ouvido pela
Folha disse que não é usual a concessão de crédito a um cliente que
apresenta situação financeira semelhante à do PT. Em sua opinião, a operação pode ocorrer se
for apresentada uma "garantia
muito forte". No caso do PT, as
garantias são fracas, já que o partido tem poucos imóveis em seu
ativo. Uma saída seria a apresentação de aval ou fiança fortes.
O PT afirma que a garantia do
empréstimo são as receitas do
partido, que subiram de R$ 13,53
milhões em 2002 para R$ 32,74
milhões em 2003 e R$ 48 milhões
no ano seguinte. O analista ouvido pela Folha observou que o aumento da receita foi acompanhado da elevação dos gastos do partido, o que levou o patrimônio líquido a ficar negativo.
A assessoria do PT informou
ainda que os empréstimos não foram pagos e continuaram a ser renegociados. A determinação da
direção do partido é quitar todas
as dívidas até o fim deste ano.
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