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Roriz oferece sigilos, mas sem efeito prático
Ao se explicar na tribuna, senador entrega duas folhas em branco assinadas; segundo o regimento, porém, teria de fazer procuração
Em discurso cheio de menções religiosas, ele diz que pediu "a Nossa Senhora
que me desse forças para enfrentar esses desafios"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No mesmo dia em que o
PSOL pediu abertura de processo no Conselho de Ética, o
senador Joaquim Roriz
(PMDB-DF) fez um discurso
emocionado na tribuna do Senado, em que negou as denúncias contra ele, fez acenos ao
PMDB por socorro e saiu em
defesa do presidente do Casa,
Renan Calheiros (PMDB-AL).
"A imprensa, quando quer,
massacra, destrói. Vejam o que
está acontecendo com o nosso
amigo, senador Renan Calheiros. Será que é justo? Será que é
justa tanta maldade para com
um homem que tem relevante
trabalho prestado ao seu país e
ao seu Estado em particular?",
questionou Roriz.
A maior parte do discurso, de
40 minutos, foi lida. Ele não
permitiu nenhum aparte de senadores e tentou destacar, várias vezes, o sofrimento que
diz ter passado.
"Como sofri nesta semana!
Confesso que chorei, que rezei
muito. Sou homem temente a
Deus, vou à missa todos os domingos, sou homem de comunhão sagrada. Não falei antes,
porque o sofrimento era tão
grande!", afirmou. "Prostrado
de joelhos, pedi a Nossa Senhora que me desse forças para enfrentar esses desafios, essas
maldades que doem no coração
de um homem cristão."
Também ofereceu ao Senado
duas folhas em branco com a
sua assinatura. A primeira, pediu que fosse enviada ao Supremo Tribunal Federal, para que
a Justiça "escreva qualquer texto" pedindo a quebra do sigilo
bancário, fiscal e telefônico dele e da família. A segunda seria
destinada à Polícia Federal, para que esta fosse autorizada a
pesquisar "em qualquer lugar
do planeta Terra" se ele tem
outra conta bancária que não
seja a do Senado ou a do BRB
(Banco de Brasília), envolvido
nas denúncias.
Sem efeito
O gesto, entretanto, não tem
efeito prático. O primeiro vice-presidente do Senado, Tião
Viana (PT-AC), avisou Roriz logo no fim do discurso que ele
deveria fazer uma procuração
assinada, já que um papel em
branco não estaria de acordo
com as regras do regimento.
O discurso foi em tom de desabafo. Na prática, não deu informações novas para rebater
as acusações. Roriz foi flagrado
negociando partilha de dinheiro de origem ignorada com o
ex-presidente do BRB Tarcísio
Franklin de Moura -que é suspeito de ter desviado R$ 50 milhões do banco.
Assim como fizera em nota,
sustentou sua defesa afirmando que o dinheiro em questão
partiu de um empréstimo feito
de um amigo, o presidente do
Conselho de Administração da
Gol Constantino de Oliveira,
conhecido como Nenê. "Quem,
em sua vida, nunca pediu um
empréstimo a um amigo ou a
um banco qualquer? A quem
interessa tudo isso?"
"É verdade que o empréstimo foi viabilizado a partir do
desconto de um cheque, emitido contra o Banco do Brasil, pelo Banco de Brasília. Contudo,
trata-se de operação legal, que
as instituições bancárias, muitas vezes, realizam com o propósito de atrair clientes de
grande porte econômico-financeiro, como é o caso do beneficiário do saque. Qual o banco,
neste país, que não gostaria de
ter Nenê Constantino como
cliente?", questionou.
Sobre o grampo em que ele é
flagrado negociando o local da
entrega do dinheiro, Roriz disse: "Sabe-se que nem sempre as
expressões utilizadas numa comunicação telefônica têm uma
exata correspondência com o
texto da mensagem".
Roriz disse que "jamais confundiu a questão pública com a
privada" e que sempre manteve
um comportamento ético no
"trato do interesse público".
Sem citar nomes, atribuiu a
responsabilidade pelas denúncias a pessoas que "estão tentando muito cedo iniciar o processo político de 2010".
Sem grandes aliados no Senado, ele lembrou que é do
PMDB e fez um apelo ao partido da base do governo. "Sou
coerente com meu partido e,
até o último dia, votarei a favor.
Nunca votei uma mensagem
sequer contra o presidente."
(LETÍCIA SANDER E SILVIO NAVARRO)
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