São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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Roriz oferece sigilos, mas sem efeito prático

Ao se explicar na tribuna, senador entrega duas folhas em branco assinadas; segundo o regimento, porém, teria de fazer procuração

Em discurso cheio de menções religiosas, ele diz que pediu "a Nossa Senhora que me desse forças para enfrentar esses desafios"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No mesmo dia em que o PSOL pediu abertura de processo no Conselho de Ética, o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) fez um discurso emocionado na tribuna do Senado, em que negou as denúncias contra ele, fez acenos ao PMDB por socorro e saiu em defesa do presidente do Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
"A imprensa, quando quer, massacra, destrói. Vejam o que está acontecendo com o nosso amigo, senador Renan Calheiros. Será que é justo? Será que é justa tanta maldade para com um homem que tem relevante trabalho prestado ao seu país e ao seu Estado em particular?", questionou Roriz.
A maior parte do discurso, de 40 minutos, foi lida. Ele não permitiu nenhum aparte de senadores e tentou destacar, várias vezes, o sofrimento que diz ter passado.
"Como sofri nesta semana! Confesso que chorei, que rezei muito. Sou homem temente a Deus, vou à missa todos os domingos, sou homem de comunhão sagrada. Não falei antes, porque o sofrimento era tão grande!", afirmou. "Prostrado de joelhos, pedi a Nossa Senhora que me desse forças para enfrentar esses desafios, essas maldades que doem no coração de um homem cristão."
Também ofereceu ao Senado duas folhas em branco com a sua assinatura. A primeira, pediu que fosse enviada ao Supremo Tribunal Federal, para que a Justiça "escreva qualquer texto" pedindo a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico dele e da família. A segunda seria destinada à Polícia Federal, para que esta fosse autorizada a pesquisar "em qualquer lugar do planeta Terra" se ele tem outra conta bancária que não seja a do Senado ou a do BRB (Banco de Brasília), envolvido nas denúncias.

Sem efeito
O gesto, entretanto, não tem efeito prático. O primeiro vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), avisou Roriz logo no fim do discurso que ele deveria fazer uma procuração assinada, já que um papel em branco não estaria de acordo com as regras do regimento.
O discurso foi em tom de desabafo. Na prática, não deu informações novas para rebater as acusações. Roriz foi flagrado negociando partilha de dinheiro de origem ignorada com o ex-presidente do BRB Tarcísio Franklin de Moura -que é suspeito de ter desviado R$ 50 milhões do banco.
Assim como fizera em nota, sustentou sua defesa afirmando que o dinheiro em questão partiu de um empréstimo feito de um amigo, o presidente do Conselho de Administração da Gol Constantino de Oliveira, conhecido como Nenê. "Quem, em sua vida, nunca pediu um empréstimo a um amigo ou a um banco qualquer? A quem interessa tudo isso?"
"É verdade que o empréstimo foi viabilizado a partir do desconto de um cheque, emitido contra o Banco do Brasil, pelo Banco de Brasília. Contudo, trata-se de operação legal, que as instituições bancárias, muitas vezes, realizam com o propósito de atrair clientes de grande porte econômico-financeiro, como é o caso do beneficiário do saque. Qual o banco, neste país, que não gostaria de ter Nenê Constantino como cliente?", questionou.
Sobre o grampo em que ele é flagrado negociando o local da entrega do dinheiro, Roriz disse: "Sabe-se que nem sempre as expressões utilizadas numa comunicação telefônica têm uma exata correspondência com o texto da mensagem".
Roriz disse que "jamais confundiu a questão pública com a privada" e que sempre manteve um comportamento ético no "trato do interesse público".
Sem citar nomes, atribuiu a responsabilidade pelas denúncias a pessoas que "estão tentando muito cedo iniciar o processo político de 2010".
Sem grandes aliados no Senado, ele lembrou que é do PMDB e fez um apelo ao partido da base do governo. "Sou coerente com meu partido e, até o último dia, votarei a favor. Nunca votei uma mensagem sequer contra o presidente."
(LETÍCIA SANDER E SILVIO NAVARRO)

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