São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009

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Morre aos 94 o advogado Goffredo da Silva Telles

Professor emérito da USP é autor da "Carta aos Brasileiros", marco contra a ditadura

Goffredo alternou vida acadêmica com política: foi deputado constituinte em 1946 e secretário do prefeito Adhemar de Barros

ago.1977/Arquivo Folha Imagem
Goffredo da Silva Telles Júnior lê sua "Carta aos Brasileiros", pela restauração do Estado de Direito


DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Foi enterrado ontem, em São Paulo, o corpo do advogado Goffredo da Silva Telles Júnior. Autor da "Carta aos Brasileiros" -marco da luta pela redemocratização do país-, professor Goffredo morreu na noite de sábado, aos 94 anos, de causas naturais.
Seu corpo foi velado no salão nobre da Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco, palco da resistência contra a ditadura. Foi sob as arcadas da Academia de Direito que Goffredo leu, em agosto de 1977, a carta em defesa do Estado de Direito no Brasil.
Além da viúva, Maria Eugênia, e da filha, Olívia, amigos e ex-alunos homenagearam Goffredo, professor da faculdade de 1941 a 1985.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou, em nota, a sua morte. "Lecionou na Faculdade de Direito, conquistando a admiração de milhares de alunos, dando lições não apenas de direito, mas também de humanismo, generosidade e fé."
Representante de Lula no velório, o advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, apontou o professor como "símbolo da USP e da luta pelos valores republicanos".
Alunos de Goffredo, os ministros Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), e Flávio da Cunha Bierrenbach, do STM (Superior Tribunal Militar), e os ex-ministros Celso Lafer e Márcio Thomaz Bastos compareceram ao enterro. ""O político é um servidor público. Ele deve servir ao público e não se servir do público". Nunca me esqueço dessa expressão dele", lembrou Lewandowski.
O vice-governador do Estado, Alberto Goldman, o secretário de Justiça, Luiz Antonio Marrey Filho, e o ex-ministro Miguel Reale Júnior assistiram ao velório, marcado pelo canto de trovas acadêmicas.
Presente ao local, Almino Affonso, ex-ministro de João Goulart, afirma que a conclamação "Estado de Direito, já" -expressa na carta- inspirou o movimento pelas Diretas Já.
Subscrita por mais de cem juristas, o documento manifestava a fidelidade aos "princípios basilares da democracia". "Queremos dizer, sobretudo aos moços, que nós aqui estamos e aqui permanecemos, decididos, como sempre, a lutar pelos direitos humanos, contra a opressão de todas as ditaduras", pregava.
Goffredo alternou a vida acadêmica com atividade política. Entusiasta da campanha constitucionalista de São Paulo, de julho de 1932, foi deputado constituinte em 1946 e secretário municipal de Cultura.
Durante o velório, o professor Sérgio Resende de Barros leu outro manifesto de autoria de Goffredo, desta vez, uma saudação aos calouros da turma de 2007. Nela, Goffredo -que foi casado com a escritora Lygia Fagundes Telles- recomenda que os advogados resistam à tentação da corrupção.
"Não é de estranhar que, em épocas corruptas, de "mensalões", "sanguessugas" etc., os setores normais da população vivam a clamar por "ética na política", redigiu ele.


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