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Morre aos 94 o advogado Goffredo da Silva Telles
Professor emérito da USP é autor da "Carta aos Brasileiros", marco contra a ditadura
Goffredo alternou vida acadêmica com política:
foi deputado constituinte
em 1946 e secretário do prefeito Adhemar de Barros
ago.1977/Arquivo Folha Imagem
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Goffredo da Silva Telles Júnior lê sua "Carta aos Brasileiros", pela restauração do Estado de Direito |
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Foi enterrado ontem, em São
Paulo, o corpo do advogado
Goffredo da Silva Telles Júnior.
Autor da "Carta aos Brasileiros" -marco da luta pela redemocratização do país-, professor Goffredo morreu na noite
de sábado, aos 94 anos, de causas naturais.
Seu corpo foi velado no salão
nobre da Faculdade de Direito
da USP, no largo São Francisco,
palco da resistência contra a ditadura. Foi sob as arcadas da
Academia de Direito que Goffredo leu, em agosto de 1977, a
carta em defesa do Estado de
Direito no Brasil.
Além da viúva, Maria Eugênia, e da filha, Olívia, amigos e
ex-alunos homenagearam Goffredo, professor da faculdade
de 1941 a 1985.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou, em nota, a
sua morte. "Lecionou na Faculdade de Direito, conquistando
a admiração de milhares de alunos, dando lições não apenas de
direito, mas também de humanismo, generosidade e fé."
Representante de Lula no velório, o advogado-geral da
União, José Antonio Toffoli,
apontou o professor como
"símbolo da USP e da luta pelos
valores republicanos".
Alunos de Goffredo, os ministros Ricardo Lewandowski,
do STF (Supremo Tribunal Federal), e Flávio da Cunha Bierrenbach, do STM (Superior
Tribunal Militar), e os ex-ministros Celso Lafer e Márcio
Thomaz Bastos compareceram
ao enterro. ""O político é um
servidor público. Ele deve servir ao público e não se servir do
público". Nunca me esqueço
dessa expressão dele", lembrou
Lewandowski.
O vice-governador do Estado, Alberto Goldman, o secretário de Justiça, Luiz Antonio
Marrey Filho, e o ex-ministro
Miguel Reale Júnior assistiram
ao velório, marcado pelo canto
de trovas acadêmicas.
Presente ao local, Almino Affonso, ex-ministro de João
Goulart, afirma que a conclamação "Estado de Direito, já"
-expressa na carta- inspirou
o movimento pelas Diretas Já.
Subscrita por mais de cem juristas, o documento manifestava a fidelidade aos "princípios
basilares da democracia".
"Queremos dizer, sobretudo
aos moços, que nós aqui estamos e aqui permanecemos, decididos, como sempre, a lutar
pelos direitos humanos, contra
a opressão de todas as ditaduras", pregava.
Goffredo alternou a vida acadêmica com atividade política.
Entusiasta da campanha constitucionalista de São Paulo, de
julho de 1932, foi deputado
constituinte em 1946 e secretário municipal de Cultura.
Durante o velório, o professor Sérgio Resende de Barros
leu outro manifesto de autoria
de Goffredo, desta vez, uma
saudação aos calouros da turma de 2007. Nela, Goffredo
-que foi casado com a escritora Lygia Fagundes Telles- recomenda que os advogados resistam à tentação da corrupção.
"Não é de estranhar que, em
épocas corruptas, de "mensalões", "sanguessugas" etc., os setores normais da população vivam a clamar por "ética na política", redigiu ele.
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