São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2004

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ALTA ESPIONAGEM

Presidente do BB afirma que tratou de assuntos de interesse comum ao governo e à Telecom Italia em reunião investigada pela Kroll

Monitoramento é desagradável, diz Casseb

Adriano Machado/Folha Imagem
O presidente do BB, Cássio Casseb, durante pronunciamento


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, manifestou ontem indignação com o monitoramento da Kroll do qual foi alvo. "Esse tipo de coisa invade a gente, é desagradável. Se encontrarem qualquer coisa, que publiquem tudo. Não existiu nada. Não tenho nenhum motivo para ter qualquer questionamento."
A invasão de privacidade de que foi vítima, segundo o presidente do BB, seria um tipo de ocorrência que "faz com que muita gente competente não queira trabalhar em governo, porque cria uma exposição que desagrada".
Em seu primeiro pronunciamento público após a divulgação dos relatórios que apontavam a espionagem, Casseb, visivelmente irritado, disse que, na reunião que teve com executivos da Telecom Italia em Lisboa, no ano passado, tratou de "assuntos de interesse comum" ao governo e à empresa, sem detalhar quais seriam os temas abordados no encontro.
Conforme reportagem da Folha, a reunião foi monitorada pela Kroll, empresa contratada pela Brasil Telecom para espionar a Telecom Italia. O caso foi descoberto pela PF em março, nas investigações relacionadas à falência da Parmalat.
Um dos espiões contratados pela Kroll, o português Tiago Verdial, preso no último sábado, recebeu por e-mail a declaração de Imposto de Renda de Casseb.
"[Tratei de] assuntos referentes a empresas, assuntos de interesse comum [na reunião]. Se eu tivesse que defender interesses de alguém, seriam os da Previ, que é [o fundo de pensão] dos funcionários do BB", afirmou, logo depois de pronunciamento feito à imprensa, ao final do qual ele disse que não responderia a perguntas.
O questionamento quanto ao assunto tratado com os executivos Nicola Vircchio, Carmelo Furci e Giampaolo Zambeletti, no hotel Four Seasons Ritz em Lisboa, no dia 26 de maio de 2003, foi feito ao final do pronunciamento de Casseb, quando ele deixava o auditório do 20º andar da sede do Banco do Brasil em Brasília.
Casseb integrou o conselho da Telecom Italia até 2000. E foi justamente sobre esse ponto que começou seu pronunciamento de ontem. "Eu saí [da Telecom Italia] muito antes [de ingressar no governo]. Eu já não tinha mais nenhum vínculo com a Telecom Italia quando vim para cá, e não tenho nenhum interesse na companhia, nenhum relacionamento com eles", declarou.
E continuou, agora falando sobre a reunião com os executivos italianos: "Recebi a Italia Telecom, como recebi a própria Brasil Telecom -a própria Carla Cicco [presidente da Brasil Telecom] esteve aqui comigo. Eu recebo todas as empresas. Faz parte do meu trabalho recebê-las".
O encontro em Lisboa, segundo Casseb, se deu porque ele estava na cidade para uma reunião do conselho da empresa de cartões de crédito Visa, do qual faz parte. O BB é o maior emissor de cartões Visa no país, segundo o banco.
"Eu faço parte do conselho da Via, e estava no hotel, em Lisboa, onde estava se realizando o [a reunião do] conselho. Viagem normal, como outra qualquer. E, em qualquer viagem que eu faço, para o exterior ou para qualquer Estado, você recebe as empresas que tiver para receber. Nada de anormal em nenhuma dessas coisas."
Casseb encerrou sua fala sobre o tópico relacionado à espionagem da Kroll dizendo que assumiu o cargo para "ajudar o Brasil, para fazer alguma coisa pelo país. Não quero ser agredido dessa forma".


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