São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS

Publicitário avalizou empréstimo feito no Banco Rural por Cláudio Mourão, que trabalhou na campanha e no governo de Eduardo Azeredo

Valério foi avalista de tesoureiro tucano

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE

O empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza e seu sócio na agência de publicidade SMPB Comunicação Cristiano Paz avalizaram um empréstimo de mais de R$ 200 mil do tesoureiro da campanha do tucano Eduardo Azeredo para o governo de Minas Gerais em 1998, Cláudio Roberto Mourão da Silveira.
O empréstimo foi concedido, em 2001, pelo Banco Rural, mesma instituição financeira que liberou empréstimos a Marcos Valério e ao PT, com aval do publicitário, para financiamento de candidatos do partido e da base aliada do governo.
Mourão não pagou a dívida, que foi cobrada judicialmente pelo Banco Rural. Documento obtido pela Folha no 1º Cartório de Registro de Títulos e Documentos de Belo Horizonte mostra que a dívida somava R$ 217.631,22, em março de 2001, quando Marcos Valério foi notificado do atraso. Os sócios da SMPB figuraram no contrato de empréstimo como garantidores e devedores solidários.
O Banco Rural foi à Justiça para cobrar a dívida em outubro de 2002, quando o valor já estava em R$ 284,7 mil. A ação correu na 12ª Vara Cível de Belo Horizonte. Em outubro de 2003, as partes fizeram um acordo.
O empresário Cristiano Paz afirmou, por intermédio de sua assessoria, que figurou como avalista no empréstimo a pedido de Marcos Valério e que acredita que a dívida tenha sido quitada por seu sócio no acordo judicial. Marcos Valério, procurado pela reportagem, não quis dar declarações sobre o fato. Cláudio Mourão não foi localizado.

Sumiço
Desde que veio à tona a existência de um esquema paralelo de financiamento na campanha de Azeredo, em 1998, a reportagem tenta localizar Cláudio Mourão, sem sucesso, em Belo Horizonte. Segundo conhecidos dele, teria se mudado para um endereço não revelado em São Paulo.
O PSDB de Minas diz que ele não é filiado ao partido e que desconhece seu paradeiro.
Cláudio Mourão foi secretário de Administração no governo de Azeredo (1995-1998) e tesoureiro da campanha de Eduardo Azeredo e seu vice, Clésio Andrade, atual vice-governador do Estado.
A única manifestação feita por Mourão, até agora, a respeito dos depósitos feitos pela SMPB para políticos, no primeiro e segundo turnos da eleição de 1998, foi uma nota assinada com o deputado federal Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), em que reconheceu ter orientado a agência de publicidade a efetuar os depósitos.
Relator da CPI do Mensalão, Abi-Ackel recebeu R$ 100 mil da empresa de Marcos Valério, naquela eleição. Na nota conjunta com o ex-tesoureiro, o deputado disse que a contribuição tinha sido feita pelo "'setor financeiro da campanha majoritária de Eduardo Azeredo e Clésio Andrade" por ordem de Mourão e que, naquela época, não pesavam suspeitas sobre a SMPB.
O envolvendo do ex-tesoureiro de Azeredo no esquema paralelo de financiamento da campanha foi reafirmado pelo ex-deputado federal Carlos Cotta (PTB-MG), vice-presidente da Caixa Econômica Federal. O nome dele aparece em manuscritos do ministro Walfrido Mares Guia, que participou da coordenação da campanha de Azeredo, como responsável por administrar R$ 1,6 milhão de gastos na capital mineira e região metropolitana.
Cotta disse que fez parte da equipe de campanha de Eduardo Azeredo e Clésio Andrade, mas apenas como coordenador político. Disse ainda que Mourão, na condição de presidente da comissão financeira, era responsável pela elaboração e execução dos custos de campanha.
Azeredo perdeu a eleição de 1998 para o ex-presidente Itamar Franco. Atualmente é senador e presidente em exercício do PSDB. Azeredo afirmou, em mais de uma ocasião, ter sido surpreendido com as notícias sobre o financiamento de sua campanha para reeleição em Minas Gerais.


Colaboraram JOSÉ MASCHIO, THIAGO GUIMARÃES e PAULO PEIXOTO, da Agência Folha, em Belo Horizonte

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