|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS
Publicitário avalizou empréstimo feito no Banco Rural por Cláudio Mourão, que trabalhou na campanha e no governo de Eduardo Azeredo
Valério foi avalista de tesoureiro tucano
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE
O empresário mineiro Marcos
Valério Fernandes de Souza e seu
sócio na agência de publicidade
SMPB Comunicação Cristiano
Paz avalizaram um empréstimo
de mais de R$ 200 mil do tesoureiro da campanha do tucano
Eduardo Azeredo para o governo
de Minas Gerais em 1998, Cláudio
Roberto Mourão da Silveira.
O empréstimo foi concedido,
em 2001, pelo Banco Rural, mesma instituição financeira que liberou empréstimos a Marcos Valério e ao PT, com aval do publicitário, para financiamento de candidatos do partido e da base aliada
do governo.
Mourão não pagou a dívida,
que foi cobrada judicialmente pelo Banco Rural. Documento obtido pela Folha no 1º Cartório de
Registro de Títulos e Documentos
de Belo Horizonte mostra que a
dívida somava R$ 217.631,22, em
março de 2001, quando Marcos
Valério foi notificado do atraso.
Os sócios da SMPB figuraram no
contrato de empréstimo como garantidores e devedores solidários.
O Banco Rural foi à Justiça para
cobrar a dívida em outubro de
2002, quando o valor já estava em
R$ 284,7 mil. A ação correu na 12ª
Vara Cível de Belo Horizonte. Em
outubro de 2003, as partes fizeram um acordo.
O empresário Cristiano Paz
afirmou, por intermédio de sua
assessoria, que figurou como avalista no empréstimo a pedido de
Marcos Valério e que acredita que
a dívida tenha sido quitada por
seu sócio no acordo judicial. Marcos Valério, procurado pela reportagem, não quis dar declarações sobre o fato. Cláudio Mourão
não foi localizado.
Sumiço
Desde que veio à tona a existência de um esquema paralelo de financiamento na campanha de
Azeredo, em 1998, a reportagem
tenta localizar Cláudio Mourão,
sem sucesso, em Belo Horizonte.
Segundo conhecidos dele, teria se
mudado para um endereço não
revelado em São Paulo.
O PSDB de Minas diz que ele
não é filiado ao partido e que desconhece seu paradeiro.
Cláudio Mourão foi secretário
de Administração no governo de
Azeredo (1995-1998) e tesoureiro
da campanha de Eduardo Azeredo e seu vice, Clésio Andrade,
atual vice-governador do Estado.
A única manifestação feita por
Mourão, até agora, a respeito dos
depósitos feitos pela SMPB para
políticos, no primeiro e segundo
turnos da eleição de 1998, foi uma
nota assinada com o deputado federal Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), em que reconheceu ter
orientado a agência de publicidade a efetuar os depósitos.
Relator da CPI do Mensalão,
Abi-Ackel recebeu R$ 100 mil da
empresa de Marcos Valério, naquela eleição. Na nota conjunta
com o ex-tesoureiro, o deputado
disse que a contribuição tinha sido feita pelo "'setor financeiro da
campanha majoritária de Eduardo Azeredo e Clésio Andrade"
por ordem de Mourão e que, naquela época, não pesavam suspeitas sobre a SMPB.
O envolvendo do ex-tesoureiro
de Azeredo no esquema paralelo
de financiamento da campanha
foi reafirmado pelo ex-deputado
federal Carlos Cotta (PTB-MG),
vice-presidente da Caixa Econômica Federal. O nome dele aparece em manuscritos do ministro
Walfrido Mares Guia, que participou da coordenação da campanha de Azeredo, como responsável por administrar R$ 1,6 milhão
de gastos na capital mineira e região metropolitana.
Cotta disse que fez parte da
equipe de campanha de Eduardo
Azeredo e Clésio Andrade, mas
apenas como coordenador político. Disse ainda que Mourão, na
condição de presidente da comissão financeira, era responsável
pela elaboração e execução dos
custos de campanha.
Azeredo perdeu a eleição de
1998 para o ex-presidente Itamar
Franco. Atualmente é senador e
presidente em exercício do PSDB.
Azeredo afirmou, em mais de
uma ocasião, ter sido surpreendido com as notícias sobre o financiamento de sua campanha para
reeleição em Minas Gerais.
Colaboraram JOSÉ MASCHIO, THIAGO GUIMARÃES e PAULO PEIXOTO, da Agência Folha, em Belo Horizonte
Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/Hora das provas: CPI vê indícios de que funcionária sacava para parlamentares Próximo Texto: Ex-ministro de FHC teve aval de publicitário Índice
|