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Nomeação política prejudica agências, dizem especialistas
Para economistas, empresários e advogados, indicação de diretores deve respeitar critérios de competência técnica
Ganhar credibilidade com a sociedade, criar regras claras e aumentar transparência das decisões são sugestões para melhorar performance
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO
O funcionamento das agências reguladoras no Brasil está
longe de ser satisfatório, seja
por conta da ingerência de empresas privadas ou de interesses dos partidos políticos. O setor precisa se fortalecer, ganhar
credibilidade junto à sociedade
e estabelecer regras mais claras, afirmam especialistas entrevistados pela Folha.
Lúcia Helena Salgado, do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), diz que
as agências só funcionam com
transparência nas decisões e
que "não se pode diminuir a
autonomia mesmo quando a
sociedade percebe que uma delas não exerceu suas competências como se espera".
Para Paulo Cesar Coutinho,
professor titular da UNB e especialista em regulação, o desempenho das agências varia
muito. "Destacam-se entre as
de melhor performance as
agências de telecomunicações
e energia. Algumas funcionam
com deficiências como, por
exemplo, a ANP e a ANAC."
Coutinho acredita que a demora na formação de quadros
adequados atrapalhou o desenvolvimento dos órgãos. A
maior parte dos concursos públicos para as agências começou em 2005. Antes disso, lembra o professor, elas usaram
funcionários provisórios, alguns emprestados por empresas que deveriam ser reguladas.
A mistura de interesses entre
"reguladores" e "regulados" é a
base da crítica do economista
Luiz Gonzaga Belluzzo. Para
ele, quem deveria regular "virou refém de quem deveria ser
regulado". "É uma espécie de
privatização do Estado", diz.
Estado x Governo
As agências começaram a ser
criadas durante o governo Fernando Henrique Cardoso, como parte do plano do reforma
do estado, que incluía a privatização de empresas de serviços
públicos e sua regulação. "A
idéia é que o estado regulador
corrija falhas de mercado e assimetria de informações. Para
funcionar, as agências precisam de autonomia administrativa, financeira, gerencial e técnica", diz Maria Stella Gregori,
ex-diretora da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
"Agência e ministério são
completamente diferentes. O
ministério faz parte da administração direta, a agência, da
administração indireta. Elas
são vinculadas, não subordinadas aos ministérios", completa.
Falando sobre a diferença de
funções, o professor da Escola
de Direito da FGV Carlos Sundfeld destaca a incapacidade de
sucessivos governos e ministérios de criar políticas em setores de serviço público. "Em termos ideais, quando se cria uma
agência, já se tem uma política
a ser cumprida. Dependendo
de cada setor, a lei e as decisões
do Executivo são melhores ou
piores", diz Sundfeld. "Às vezes, por falta de política de governo, a agência não pode deixar o setor parar", completa.
Vice-presidente da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), José Mascarenhas diz
que o governo Lula tende a ver
regulação como função do próprio governo- mesmo que, segundo ele, tenha começado a
mudar de visão. Sejam os diretores indicações políticas ou
não, Mascarenhas afirma que
não se submeterão a interesses
políticos e privados no momento em tiverem conhecimento
da área regulada.
"Que deixe o interesse do
partido em casa. Quando o diretor tem aparato intelectual,
não se submete a interesses de
empresas ou consumidores.
Tem equilíbrio."
Sobre um interesse comum a
empresas, governo e consumidores, Ralph Lima Terra, vice-presidente da Abdib (Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústrias de Base), diz
que só regras claras na regulação garantem investimentos
necessários na infra-estrutura.
"Como os contratos duram 25,
30 anos, eles têm que funcionar
com qualquer governo", argumenta, para também criticar o
contingenciamento de verbas.
De acordo com estudo da Abdib, o contingenciamento para
seis agências de infra-estrutura, entre 1998 e 2005, chegou a
R$ 12,3 bilhões. A Abdib também diz que postos de diretoria
permaneceram, em média, 98
dias vagos em 2006. Para melhorar o desempenho, o advogado Carlos Sundfeld diz que é
preciso acabar com diretorias
sem qualificação. "Nada pode
reparar uma má nomeação".
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