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Câmara recua e libera verba para alimentação
Proibição durou só dois meses: a cúpula da Casa, pressionada pelos deputados, permitiu os gastos em restaurantes de Brasília
Site de transparência da própria Câmara informa que pelo menos dez deputados gastaram a verba na capital federal durante o recesso
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A proibição de o deputado
utilizar a chamada verba indenizatória para alimentação em
Brasília não durou nem dois
meses. Pressionada pelos colegas, a cúpula da Câmara liberou
os gastos em restaurantes na
capital federal.
A liberação dos gastos ocorreu no começo de julho, quando todos os benefícios oferecidos aos deputados, como cota
postal, telefônica e a verba indenizatória foram unificados
em um único "cotão". Como o
ato que determinou a mudança
não faz nenhuma menção a
gastos com alimentação em
Brasília, o entendimento é que
está tudo liberado.
O "cotão" que cada deputado
federal recebe varia de Estado
para Estado.
O valor mínimo é de R$ 23
mil (para deputados de Brasília) e o máximo é de R$ 34,2 mil
(para os políticos de Roraima).
O fim do uso da verba para
alimentação na capital havia sido determinado em abril, para
ter início em maio, junto com a
proibição de gastos com empresas dos próprios deputados.
As medidas eram uma resposta
ao escândalo do deputado Edmar Moreira (sem partido-MG), dono de um castelo avaliado em cerca de R$ 25 milhões em Minas Gerais.
O deputado foi absolvido no
Conselho de Ética há duas semanas do pedido de cassação
de mandato por usar notas de
suas próprias empresas de segurança para justificar gastos
de R$ 230,6 mil com a verba indenizatória da Câmara.
Na época das mudanças, deputados argumentaram que os
congressistas estavam em Brasília para trabalhar e, portanto,
deveriam ter o direito de usar
dinheiro público para se alimentar. A cúpula da Câmara
aceitou o argumento e, por
unanimidade, decidiu recuar.
A assessoria de imprensa da
Câmara confirmou que a decisão de voltar a permitir os gastos com alimentação em todo o
país foi tomada por todos os integrantes da Mesa Diretora
diante da pressão dos colegas.
Mesmo no recesso
O novo ato aprovado, que entrou em vigor em 1º de julho,
diz que o "cotão" poderá ser
usado para fornecimento da
alimentação apenas para o próprio parlamentar e no exercício
do mandato dele.
Segundo o site de transparência da própria Câmara, pelo
menos dez deputados gastaram
com alimentação em Brasília
em julho, quando metade do
mês é recesso parlamentar.
O deputado Marcelo Guimarães Filho (PMDB-BA), por
exemplo, usou R$ 375,72 no
Carpe Diem, restaurante tradicional de Brasília.
Os gastos estão divididos em
quatro notas de exatos R$
93,39 cada uma - enquanto o
bufê no local sai por R$ 38,50.
Guimarães Filho não foi localizado pela Folha.
O restaurantes Naturetto,
que fica em um dos prédios
anexos da Câmara, também é
usado pelos deputados. Albérico Filho (PMDB-MA), por
exemplo, gastou R$ 53,73 e
apresentou duas notas fiscais
do local. O deputado também
não foi localizado.
Já o deputado Beto Mansur
(PP-SP), que gastou R$ 46,45
no mesmo restaurante em julho, diz ser favorável ao benefício. "Se eu posso gastar, por
exemplo, para alimentação no
meu Estado, eu posso gastar
também em Brasília, não vejo
nenhum problema com relação
a isso", disse ele.
Outro recuo da Câmara no
mesmo sentido já havia acontecido com medidas anunciadas em resposta à farra das passagens aéreas.
Em maio, um mês depois de
proibir viagens internacionais,
a Câmara divulgou ato que volta a permitir que deputados federais usem a cota aérea mensal quando forem ao exterior.
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