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Vereadores de Santo André não vão aprofundar investigações de CPI
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
Criada há 70 dias para apurar a
existência de um suposto esquema de extorsão de empresários
para financiar campanhas políticas do PT, a CPI de Santo André
deu ontem um passo decisivo para "terminar em pizza".
Após duas horas de reunião, os
vereadores da comissão, todos da
base de sustentação da prefeitura
petista da cidade, entraram em
acordo para realizar apenas uma
acareação e terminar os trabalhos
em 18 de setembro -três semanas antes das eleições.
Na prática, as diligências irão
ocorrer até a próxima sexta-feira.
A partir disso, os parlamentares
vão se concentrar na elaboração
do relatório final -que tem como objetivo mostrar se existe
uma máfia da propina na cidade
ou se as denúncias foram plantadas pelos acusadores devido a interesses políticos e/ou pessoais.
As acareações, semanas atrás,
eram encaradas pelos próprios
parlamentares como uma das
"poucas" opções para evitar que a
comissão terminasse com resultados irrelevantes.
Marcado para a próxima segunda-feira, o confronto cara a cara
será entre a empresária Rosângela
Gabrilli, que disse ao Ministério
Público ter pago cerca de R$ 2 milhões de propina a pessoas ligadas
à administração municipal, e o
empresário Ronan Maria Pinto.
De acordo com a Promotoria,
além de Ronan e outras três pessoas, o empresário Sérgio Gomes
da Silva e o vereador Klinger Luiz
de Oliveira Souza, secretário afastado de Serviços Municipais, teriam cobrado propina de empresários que tinham contratos com
a prefeitura, durante a gestão de
Celso Daniel (PT), assassinado
em janeiro passado.
O dinheiro arrecadado -de
acordo com depoimento de João
Francisco Daniel, irmão de Celso,
ao Ministério Público- passaria
nas mãos de Gilberto Carvalho,
ex-secretário de Governo e assessor do presidenciável Luiz Inácio
Lula da Silva, antes de ser entregue a José Dirceu, presidente nacional do partido. Todos negam
as acusações.
Para justificar o veto da comissão a outras acareações, o presidente da CPI, Antonio Leite (PT),
utilizou como argumento a decisão do ministro Nelson Jobim, do
Supremo Tribunal Federal, que
no início de julho rejeitou por "insuficiência" de provas a abertura
de um inquérito criminal contra
José Dirceu.
"A própria manifestação do ministro [Nelson Jobim" nos levou a
isso. Ele afirmou que não se poderia tomar uma decisão na base do
ouvir falar", declarou Leite. À
época, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, não
recorreu da decisão.
Confrontos cara a cara entre
João Francisco Daniel e Gilberto
Carvalho e os empresários do setor de transporte Sebastião Passarelli e Ronan Maria Pinto (veja
quadro ao lado) foram encarados
como "sem relevância" pelo primeiro escalão da comissão.
"Nós entendemos que as outras
não são relevantes ou já estão esclarecidas", disse Leite. Ao ser
questionado se o fato de Passarelli
ter dito que entregou um "pacote" de dinheiro nas mãos de Ronan não seria relevante, o relator
da CPI disse: "Ele [Passarelli] fez
isso só uma vez. Eu não entendo
que seja [relevante]."
Até agora, depois de ter colhido
21 depoimentos e anunciado uma
série de contradições que poderiam ser punidas por falso testemunho, os vereadores passaram
as últimas duas semanas debruçados em uma pilha de documentos
de empresas de transporte.
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