São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/RAIO-X DA SAÚDE

Revelação vem de levantamento da própria prefeitura; saúde é ponto mais criticado por entrevistados, segundo o Datafolha

1 milhão tem acesso inadequado à saúde em SP

Jefferson Coppola/Folha Imagem
Pacientes fazem fila para marcar consulta no ambulatório da Santa Casa (região central de SP)


FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um milhão de pessoas na capital paulista não têm acesso adequado à "porta de entrada" do sistema de saúde, os postos municipais, que dão o primeiro olhar ao paciente por meio de clínicos-gerais e pediatras para depois encaminhá-lo, se necessário, ao atendimento especializado.
O problema, verificado num levantamento da própria prefeitura, resulta em filas "silenciosas" -que reúnem os que já desistiram de sair de casa devido às dificuldades de atendimento- ou nas aglomerações que dobram esquinas nos hospitais e postos e são a deixa para as promessas de campanha.
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, a partir do estudo foram identificados pelo menos 32 locais em que os paulistanos demoram mais de 30 minutos para chegar a uma UBS (Unidade Básica de Saúde), o posto municipal.
"Dentro do conceito com o qual estamos tentando trabalhar, isso significa que ele está descoberto. O correto é que a unidade não fique a mais de 30 minutos de casa", diz o secretário municipal da Saúde, Gonzalo Vecina.
O número mostra o tamanho do desafio dos candidatos a prefeito da cidade de 10,6 milhões de habitantes -problema que a atual prefeita, Marta Suplicy (PT), que quer a reeleição, admite não ter conseguido resolver.
Nas palavras de Vecina, o 1 milhão de pessoas mal assistidas é um dos principais motivos para os problemas do SUS (Sistema Único de Saúde) na cidade serem, nesta eleição, a "bola da vez".
"Se você considerar ainda que 40% da população está nos planos de saúde, metade da população não usa [o sistema] ou não tem acesso ao SUS. Como é que você pode achar que o SUS é bom?"
Segundo pesquisa Datafolha divulgada hoje, a saúde é a área mais criticada da cidade -para 26%, o atendimento do setor é o principal problema da cidade. Em março, eram 9%. No primeiro debate entre os candidatos, no início do mês, na TV Bandeirantes, o assunto apareceu em todos os cinco blocos do programa.
Além de Marta, todos os principais candidatos têm participação na situação atual. Paulo Maluf (PP) e Luiza Erundina (PSB) já foram prefeitos. E o PSDB, partido de José Serra, até o ano passado controlava grande parte dos postos -além disso, o governo estadual faz a avaliação e o acompanhamento de todas as ações.

Intervenção insuficiente
Para Vecina, o crescimento desordenado da cidade explica parte do problema. Além disso, afirma, o desemprego levou a população ao SUS, pela impossibilidade de pagar planos de saúde.
"Existem muito boas explicações para o povo ter razão quando olha hoje para a saúde no município. A intervenção foi insuficiente. Apesar dos 2,3 milhões assistidos pelo PSF [Programa Saúde da Família], isso foi insuficiente para fazer frente ao crescimento acelerado da população da periferia e ao desemprego", continuou.
O PSF é um modelo que usa equipes com médico, enfermeiro, até dois auxiliares de enfermagem e até seis agentes comunitários para fazer o atendimento básico de grupos de mil famílias. Em 2003, por falta de recursos, a prefeitura diminuiu o ritmo do PSF.
O estudo que evidenciou a falta de acesso adequado ao sistema de saúde, segundo Osvaldo Donini, coordenador do Centro de Informação da Secretaria da Saúde, só foi feito recentemente porque antes sua área não tinha recursos como software de georreferenciamento e impressoras que pudessem reproduzir grandes mapas para a análise.
Primeiro, explicou Donini, as 31 coordenadorias de saúde delimitaram as áreas de influência das 386 UBSs existentes e foram feitos mapas georreferenciados.
Depois que as coordenadorias verificaram os desenhos, apontando barreiras físicas nas áreas delimitadas -um córrego, por exemplo-, os mapas foram refeitos e, em cima deles, foi projetada a população por setor censitário. A prefeitura calcula que cada unidade deva atender 25 mil pessoas. Com a projeção da população do Censo sobre as existentes, verificou-se as que estavam acima de 50 mil pessoas -sinal de que era necessário fazer mais uma unidade na região.
A pasta não considerou as áreas de alto poder aquisitivo, em que há grande número de pessoas com planos de saúde, e privilegiou a periferia.
Além dos 32 locais em que já se identificou a necessidade de mais postos -a maior parte coincidiu com reivindicações do Orçamento Participativo- foram projetados ainda outros três, prevendo-se o crescimento populacional. Ainda não foram definidas as áreas em que devem ser erguidos.
A reportagem perguntou a Vecina o que seria a "revolução na saúde" apontada como necessária por Marta -e também pelos demais candidatos. Segundo ele, ela não começa pelos CEUs da saúde, proposta apresentada por Marta.
"A revolução é garantir acesso. Não existe revolução sem conseguir acesso. E que tenha como resolver os problemas de assistência decorrentes desse primeiro contato", afirmou Vecina.


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