São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/CAIXA

Valor repassado por construtoras representa 57% das doações de pessoas jurídicas ao diretório nacional do partido em 2002 e 2003

Empreiteiras dos CEUs doaram R$ 2,5 mi ao PT

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT engordou seus cofres com R$ 2,51 milhões doados por três empreiteiras responsáveis pela construção dos CEUs (Centros Unificados de Ensino), carro-chefe da propaganda no horário eleitoral da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT).
O valor representa 57% das doações de pessoas jurídicas recebidas pelo diretório nacional do partido nos anos de 2002 e 2003.
Desde que Marta Suplicy iniciou a construção das escolas, em 2002, a Construtora OAS Ltda., sediada em Salvador (BA), fez seis doações diretas ao diretório nacional do PT, em seu próprio nome, e três indiretas, por meio da Coesa Engenharia Ltda., que integra o Grupo OAS.
A Carioca Christiani Nielsen Engenharia, sediada no Rio de Janeiro, doou R$ 519 mil ao PT nacional e R$ 100 mil ao diretório paulista do partido.
Em nota, o tesoureiro do PT, Delubio Soares, que se recusou a conceder entrevista sobre doações partidárias, informou que as doações de pessoas físicas e jurídicas "respeitam o disposto na legislação em vigor".
O presidente do PT, José Genoino, também se negou a falar sobre o assunto (veja texto à parte).
A OAS e a Carioca Christiani Nielsen participam ou participaram da construção de pelo menos 12 CEUs. Segundo levantamento feito pela assessoria do vereador Ricardo Montoro (PSDB-SP) no sistema de acompanhamento de gastos da prefeitura, o município pagou pelo menos R$ 200,4 milhões às duas empresas na gestão de Marta Suplicy.
O valor empenhado e ainda não pago às empresas é de aproximadamente R$ 73 milhões.
Pela lei, os partidos políticos podem receber recursos em suas contas partidárias e até repassá-los para campanhas eleitorais. No entanto, os nomes desses doadores partidários não constam das prestações de conta das campanhas eleitorais divulgadas ao fim das disputas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e pelos TREs (Tribunais Regionais Eleitorais). Assim, tornam-se doações eleitorais ocultas.
Nas prestações, os recursos surgem apenas como transferências do caixa do partido para o caixa da campanha eleitoral.
No último dia 1º, a Folha revelou que pelo menos R$ 20 milhões obtidos pelos diretórios do PSDB e do PT durante as campanhas de 2000 e 2002 trilharam esse caminho. Após a reportagem, o TSE informou que passará a divulgar pela internet também os nomes dos doadores partidários.
Além de ajudar o caixa do PT, a OAS doou, em 2002, R$ 1 milhão para o comitê financeiro único do então candidato presidencial petista, Luiz Inácio Lula da Silva. A empreiteira também doou R$ 500 mil para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e ajudou pelo menos 20 candidatos a deputado e governos estaduais de partidos diversos.
Mas o caixa central do PT foi o único, entre os partidos, a receber recursos da OAS em 2003.
O PT arrecadou no ano passado R$ 1,1 milhão em doações empresariais. Deixou bem para trás o PSDB, que recebeu R$ 422 mil de empresas. O maior doador tucano foi a Sodepa Sociedade Publicidade, com R$ 200 mil.
Tanto a OAS quanto a Carioca Christiani não fizeram doações ao PSDB em 2003.
O PT também foi bem superior ao parceiro de governo PL, que recebeu apenas R$ 60 mil de pessoas jurídicas.
Além da Coesa, o PT registrou outra doação indireta. As empresas Thimino e Chieni Comércio de Alimentos aparecem como doadoras de R$ 100 mil cada uma.
A Folha apurou que o nome de fantasia das empresas é Noah Gastronomia. Trata-se da empresa responsável pelo atendimento dos restaurantes da cadeia de hotéis Blue Tree Towers. O PT tem feito encontros partidários nos hotéis da cadeia.
De acordo com o balanço, o partido gastou cerca de R$ 90 mil com esses hotéis no ano de 2003. Em março de 2002, a prefeita Marta Suplicy viajou a trabalho ao Japão acompanhada da executiva do Blue Tree Chieko Aoki e de outros 40 empresários.


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