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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HOLOFOTES
Membros das comissões dos Bingos, dos Correios e do Mensalão acusam colegas de "atropelar" investigação em busca de projeção
Três CPIs convocam mais 220 depoimentos
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em meio a uma guerra de agendas e choque de atribuições, três
CPIs em curso no Congresso Nacional -Correios, Mensalão e
Bingos- tinham aprovado até a
última sexta-feira convocações
para tomar mais 220 depoimentos de pessoas acusadas de envolvimentos em corrupção.
Longe de demonstrar um afinco
às investigações, o número acima
é resultado de casos de precipitação, desencontro entre as comissões, disputa pessoal e busca de
holofotes por boa parte dos parlamentares. Essa avaliação tem respaldo principalmente entre os
presidentes e relatores das CPIs.
O levantamento, feito pela Folha, mostra ainda que os congressistas terão que destrinchar toneladas de documentos oriundos de
mais de uma centena de quebras
de sigilos fiscal, bancário e telefônico, além de incontáveis informações solicitadas a órgãos públicos e empresas.
Caso não convocassem mais nenhum depoente nem solicitassem
mais nenhum documento, o que é
praticamente impossível, o trabalho das três comissões só terminaria em meados de abril de 2006. A
estimativa é baseada na média de
três a quatro depoimentos por semana em cada CPI, embora a dos
Correios tenha criado subcomissões para acelerar a tomada de depoimentos e pretenda encerrar os
trabalhos em novembro.
Nas CPIs dos Correios e do
Mensalão as sessões raramente
duram menos de sete horas. Isso
porque parlamentares utilizam o
tempo a que têm direito para fazer discursos políticos e referências ao "telespectador".
"Vaidade existe mesmo, embora só prejudique. É aquela velha
história de quem descobre primeiro, de quem vai ter o condão
de chegar primeiro", afirmou a
deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), que já chegou a reclamar de
que uma das sessões da CPI da
qual participava não estava sendo
transmitida pela TV.
"Essa concorrência não vai levar a nada. Em vez de pensar na
investigação, estão só pensando
no show", comentou o senador
Ney Suassuna (PMDB-PB), que,
embora membro das CPIs dos
Correios e do Mensalão, raramente participa das inquirições.
Primeira comissão a ser instalada na esteira da crise, a dos Correios tem mais 110 depoimentos
aprovados e 61 quebras de sigilo,
números que devem aumentar. A
do Mensalão tem mais 74 depoimentos previstos e quebrou um
total de cerca de 80 sigilos. A dos
Bingos se propõe a ouvir mais 36
depoimentos e analisar documentos resultantes de 34 quebras.
"Está havendo uma coisa absurda, convocam pessoas em uma
CPI e outra vai e convoca também", disse o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo
Izar (PTB-SP), para quem os desencontros podem atrasar ou impedir punições aos culpados.
Desconhecimento
Um exemplo é o do doleiro Antonio Claramunt, o Toninho da
Barcelona, cuja convocação foi
disputada pelas três CPIs. No caso
da do Mensalão, sua convocação
foi aprovada em um bloco de votações e a maioria dos membros
nem sequer se deu conta.
"Estão fugindo de convocar lá,
então eu convoquei aqui", justificou o senador Antonio Carlos
Magalhães (PFL-BA), da CPI dos
Bingos, que investiga o envolvimento das casas de jogos com o
caixa dois de partidos e com o crime organizado. Barcelona disse
ter conhecimento apenas de remessa de dinheiro para o exterior.
O neto do senador, deputado
Antonio Carlos Magalhães Neto
(PFL-BA), interrompia os trabalhos da CPI dos Correios na última quinta-feira cada vez que a
CPI do Mensalão ou a dos Bingos
aprovava um requerimento que já
existisse na dos Correios. Tumultuando os trabalhos, ele alertava
que as outras comissões já haviam
passado na frente.
O ímpeto dos parlamentares
por depoimentos é tão grande
que, mesmo no dia em que são
votados seus próprios requerimentos, alguns não sabem identificar quem são as pessoas que
convocaram. Foi o caso dos deputados tucanos Gustavo Fruet (PR)
e Eduardo Paes (RJ), que, na última quinta-feira, não souberam
dizer quem é Soraya Garcia (assessora da campanha do prefeito
de Londrina, Nedson Micheletti),
alvo de um pedido de convocação
por parte deles. Mesmo assim, o
requerimento foi aprovado.
O deputado Arnaldo Faria de Sá
(PTB-SP) chegou a pedir formalmente a convocação do presidente Lula na CPI dos Correios, apesar de uma Comissão Parlamentar de Inquérito não ter poder para isso. Alertado, recuou e retirou
o documento no dia 2 de agosto.
Presidentes e relatores das CPIs
tentam conter o excesso de depoimentos alertando que o momento agora é de análise da documentação já recebida, empilhada em
pequenas salas do Senado. "Não
convém ter uma pauta de depoimentos muito longa, porque a cada dia surge um fato novo que pode mudar o rumo da investigação", afirmou o deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), relator
da CPI do Mensalão.
O ápice do desencontro das
CPIs ocorreu na última quinta-feira, quando o presidente da CPI
dos Correios, senador Delcídio
Amaral (PT-MS), criticou a agenda da CPI do Mensalão e disse que
as comissões estão preocupadas
com o "holofote" e não com resultados. Haverá uma reunião amanhã entre os dirigentes das três
comissões e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Preocupada com a perda de foco
das investigações, a oposição
também se reúne hoje.
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