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HORA DAS PROVAS
Empréstimos de Valério não foram só para caixa dois
LEONARDO SOUZA
MARTA SALOMON E
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os R$ 55,2 milhões dos supostos
empréstimos que as empresas de
Marcos Valério de Souza teriam
tomado nos bancos Rural e BMG
não foram integralmente destinados ao caixa dois do PT, o que
contraria versão apresentada por
Valério à CPI dos Correios.
Pelo menos R$ 100 mil de um
dos empréstimos do Banco Rural
à Graffiti, uma das empresas do
grupo de Valério, foram transferidos diretamente para a conta de
Maria Consuelo Cabaleiro Rodrigues, personagem desconhecido
até agora da CPI. Ela é mulher de
Ramon Hollerbach Cardoso, sócio do publicitário. O dinheiro seria, segundo ele, pagamento de
distribuição de lucros da SMPB.
Ao analisar a transação, o ex-corregedor-geral da Receita Moacir Leão disse que a operação é típica de "lavagem de dinheiro".
"Seria meramente uma simulação
de empréstimos que, na verdade,
não seriam pagos. Não há lógica
em uma empresa tomar empréstimo para distribuir como lucro a
seus sócios", afirmou.
Documentos levados pelo próprio publicitário mineiro à Procuradoria Geral da República mostram o caminho do dinheiro. Em
12 de setembro de 2003, uma sexta-feira, o Banco Rural concedeu à
Graffiti R$ 9,975 milhões.
Desse total, só R$ 2,830 milhões
são transferidos na segunda-feira
seguinte para a conta da SMPB no
Rural, de onde sai o dinheiro para
os indicados pelo ex-tesoureiro
do PT Delúbio Soares. Nesse mesmo dia, os documentos de Valério
registram transferência de R$ 100
mil para a conta da mulher de Ramon Hollerbach no BankBoston.
Ao ser questionada sobre por
que teria se beneficiado de parte
do empréstimo supostamente tomado para alimentar o caixa dois
do PT, Maria Consuelo argumentou que também foram tomados
empréstimos para a SMPB, independentemente do caixa dois.
No caso dos R$ 100 mil pagos à
mulher de Hollerbach, os documentos de Valério contrariam a
versão apresentada por seu sócio.
O publicitário mineiro listou seis
operações de crédito nos bancos
Rural e BMG com a Graffiti, a
SMPB e o escritório de advocacia
Rogério Toletino, que somam R$
55,2 milhões. Esses empréstimos,
segundo Valério e Delúbio, seriam destinados exclusivamente
ao PT e a seus aliados políticos.
Sem cobrança
O repasse a Hollerbach é mais
um arranhão na versão de Valério
de que o caixa dois do PT tem origem só no crédito dado a suas empresas pelo Rural e pelo BMG.
A tese foi considerada frágil pela
CPI dos Correios devido à demora dos bancos em cobrar os empréstimos. O Rural, por exemplo,
é credor em mais de R$ 80 milhões (valor atualizado) da Graffiti e da SMPB relacionados a empréstimos dados de fevereiro de
2003 a julho de 2004. A cobrança
só começou no dia 16, sete meses
após o vencimento. Três das cinco
operações, também renegociadas,
vencem nesta semana.
Outros fatos abalaram a versão
dos empréstimos para o PT. Pelo
menos cinco políticos mineiros já
declararam ter recebido doação
de campanha da Usiminas pela
SMPB, num valor total superior a
R$ 1 milhão. Entre eles, o deputado federal petista João Magno,
que aparece na lista dos beneficiários da empresa de Valério com a
quantia de R$ 200 mil. O dinheiro
foi para sua campanha a prefeito
de Ipatinga no final de 2004.
Outro dado que ameaça a versão é o fato de os repasses a Duda
Mendonça terem começado dias
antes da liberação do primeiro
empréstimo do BMG às empresas
de Valério. Segundo Moacir Leão,
muitos servidores acusados de
desvio de dinheiro público realizaram operações "casadas" nas
quais primeiro transferiam recursos ilícitos para bancos e depois
tomavam empréstimos.
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