São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2005

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HORA DAS PROVAS

Empréstimos de Valério não foram só para caixa dois

LEONARDO SOUZA
MARTA SALOMON E
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os R$ 55,2 milhões dos supostos empréstimos que as empresas de Marcos Valério de Souza teriam tomado nos bancos Rural e BMG não foram integralmente destinados ao caixa dois do PT, o que contraria versão apresentada por Valério à CPI dos Correios.
Pelo menos R$ 100 mil de um dos empréstimos do Banco Rural à Graffiti, uma das empresas do grupo de Valério, foram transferidos diretamente para a conta de Maria Consuelo Cabaleiro Rodrigues, personagem desconhecido até agora da CPI. Ela é mulher de Ramon Hollerbach Cardoso, sócio do publicitário. O dinheiro seria, segundo ele, pagamento de distribuição de lucros da SMPB.
Ao analisar a transação, o ex-corregedor-geral da Receita Moacir Leão disse que a operação é típica de "lavagem de dinheiro". "Seria meramente uma simulação de empréstimos que, na verdade, não seriam pagos. Não há lógica em uma empresa tomar empréstimo para distribuir como lucro a seus sócios", afirmou.
Documentos levados pelo próprio publicitário mineiro à Procuradoria Geral da República mostram o caminho do dinheiro. Em 12 de setembro de 2003, uma sexta-feira, o Banco Rural concedeu à Graffiti R$ 9,975 milhões.
Desse total, só R$ 2,830 milhões são transferidos na segunda-feira seguinte para a conta da SMPB no Rural, de onde sai o dinheiro para os indicados pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Nesse mesmo dia, os documentos de Valério registram transferência de R$ 100 mil para a conta da mulher de Ramon Hollerbach no BankBoston.
Ao ser questionada sobre por que teria se beneficiado de parte do empréstimo supostamente tomado para alimentar o caixa dois do PT, Maria Consuelo argumentou que também foram tomados empréstimos para a SMPB, independentemente do caixa dois.
No caso dos R$ 100 mil pagos à mulher de Hollerbach, os documentos de Valério contrariam a versão apresentada por seu sócio. O publicitário mineiro listou seis operações de crédito nos bancos Rural e BMG com a Graffiti, a SMPB e o escritório de advocacia Rogério Toletino, que somam R$ 55,2 milhões. Esses empréstimos, segundo Valério e Delúbio, seriam destinados exclusivamente ao PT e a seus aliados políticos.

Sem cobrança
O repasse a Hollerbach é mais um arranhão na versão de Valério de que o caixa dois do PT tem origem só no crédito dado a suas empresas pelo Rural e pelo BMG.
A tese foi considerada frágil pela CPI dos Correios devido à demora dos bancos em cobrar os empréstimos. O Rural, por exemplo, é credor em mais de R$ 80 milhões (valor atualizado) da Graffiti e da SMPB relacionados a empréstimos dados de fevereiro de 2003 a julho de 2004. A cobrança só começou no dia 16, sete meses após o vencimento. Três das cinco operações, também renegociadas, vencem nesta semana.
Outros fatos abalaram a versão dos empréstimos para o PT. Pelo menos cinco políticos mineiros já declararam ter recebido doação de campanha da Usiminas pela SMPB, num valor total superior a R$ 1 milhão. Entre eles, o deputado federal petista João Magno, que aparece na lista dos beneficiários da empresa de Valério com a quantia de R$ 200 mil. O dinheiro foi para sua campanha a prefeito de Ipatinga no final de 2004.
Outro dado que ameaça a versão é o fato de os repasses a Duda Mendonça terem começado dias antes da liberação do primeiro empréstimo do BMG às empresas de Valério. Segundo Moacir Leão, muitos servidores acusados de desvio de dinheiro público realizaram operações "casadas" nas quais primeiro transferiam recursos ilícitos para bancos e depois tomavam empréstimos.

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