|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006
Presidente pede que recursos fiquem concentrados em obras e programas em andamento
Lula evita novos projetos e prioriza as inaugurações
KENNEDY ALENCAR
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva decidiu que o Orçamento
Geral da União de 2006 não terá
obras e programas novos de grande porte. No entanto, Lula busca o
maior volume possível de inaugurações no próximo ano, de eleições presidenciais.
Para isso, Lula pediu que os seus
auxiliares fizessem um pente-fino
para concentrar recursos nas
obras e programas já em andamento ou que não saíram do papel em 2005.
As exceções ficaram por conta
de três novos trechos de ferrovias
e obras pequenas, consideradas
pelo próprio governo de pouca
relevância orçamentária. Tais
obras custam até R$ 10,5 milhões
e nem chegam a ser analisadas pela equipe econômica.
A Folha apurou que Lula recusou cerca de 200 grandes projetos
novos apresentados por ministros. Além disso, recomendou
prioridade aos projetos em fase
mais adiantada de execução.
"Não quero começar nenhum
projeto novo", disse o presidente
em conversas reservadas, quando
ministros levaram propostas de
obras ou programas novos em
2006. "Temos de terminar o que já
está em andamento para não haver desperdício", afirmou o presidente, segundo relatos de auxiliares à Folha.
Para tentar superar a crise política e recuperar prestígio para
eventual campanha de reeleição,
Lula aposta em um crescimento
econômico significativo, na limitação dos efeitos das denúncias ao
ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu e em um pacote de obras.
De acordo com as últimas pesquisas Datafolha e Ibope, Lula
não seria reeleito se a eleição fosse
hoje. O pleito está marcado para
daqui a 14 meses.
A proposta de 2006 será enviada
na quarta-feira ao Congresso,
conforme prazo previsto em lei.
Pressão por verba
O governo pretende destinar
cerca de R$ 14 bilhões para investimentos, mas este número ainda
poderá subir na reunião final que
o presidente fará até quarta-feira,
dia em que enviará a proposta orçamentária ao Congresso. No ano
passado, o governo enviou uma
proposta que previa R$ 14,47 bilhões para 2005.
A Folha apurou que há pressões
de última hora para que as áreas
social (sobretudo da educação) e
de infra-estrutura recebam mais
recursos.
Da verba total para 2006, R$ 3
bilhões fazem parte do PPI (Projeto-Piloto de Investimentos), cujo valor é excluído do cálculo do
superávit primário -toda a economia do setor público para pagar juros de sua dívida. Apesar de
o Brasil não ter mais acordo com
o Fundo Monetário Internacional, esta regra de exclusão foi
acertada com o FMI.
No projeto-piloto, estão as únicas três novas obras previstas para
o ano que vem. São trechos ferroviários tidos como emergenciais
para o governo. Eles se localizam
nos Estados da Bahia (contorno
de São Félix), Rio Grande do Sul
(contorno de São Francisco) e Rio
de Janeiro (ajustes na ferrovia em
Barra Mansa).
No PPI, o governo também decidiu destinar R$ 1 bilhão para a
finalização de metrôs em quatro
capitais: Belo Horizonte (MG),
Recife (PE), Fortaleza (CE) e Salvador (BA). No caso das três últimas, o governo federal está em fase final de negociação com os Estados para incluir as obras dos
metrôs ainda no PPI deste ano.
Foi decidido também que o governo estreará as PPPs (Parcerias
Público-Privadas) com cinco projetos. São eles: a ferrovia Norte-Sul, o trecho na Bahia da rodovia
federal BR-116, o anel ferroviário
de São Paulo, o arco rodoviário do
Rio de Janeiro e um trecho da ferrovia Guarapuava-Ipiranga para
melhorar o acesso ao porto de Paranaguá (PR).
Por último, Lula deseja que seja
priorizado um pedaço da obra de
transposição das águas do rio São
Francisco. Essa obra já estava prevista para ter início neste ano, mas
atrasou e foi eleita como uma das
prioridades do ano que vem a fim
de que Lula possa inaugurar parcialmente uma promessa da campanha eleitoral de 2002.
O forte aperto fiscal deste ano,
bem superior à meta de superávit
primário oficial de 4,25% do PIB
(Produto Interno Bruto), é uma
mistura de cálculo político e ineficiência de alguns ministérios para
gastar o dinheiro liberado.
Ano perdido
A equipe econômica preferiu dificultar a liberação de recursos
neste ano, já dado como perdido
politicamente por conta da crise.
Para o ano que vem, a intenção é
um aperto fiscal menos rigoroso e
que possa ficar mais próximo da
meta oficial de superávit.
Entre janeiro e julho deste ano,
o superávit primário acumulado
ficou em 6,27% do PIB. Reservadamente, o governo federal já admite que o superávit terminará o
ano em aproximadamente 5% do
PIB -objetivo para o qual trabalha a equipe econômica, sem admissão pública.
Em 2003, primeiro ano do governo Lula, o superávit primário
ficou exatamente na meta de
4,25%. Em 2004, a meta foi elevada para 4,5% e terminou o ano em
4,6% do PIB.
Na avaliação da equipe econômica, se a elevação do PIB no primeiro semestre de 2006 for tão
forte como a esperada, Lula recuperaria a popularidade que está
perdendo com a crise política.
Aliaria crescimento da economia
a um pacote de obras.
Obviamente, o sucesso dessa estratégia dependerá do desfecho
da crise política. Se não ficar provado nada contra o presidente, ele
poderia usar o discurso eleitoral
de que enfrentou forte investigação política e não perdeu as rédeas da economia.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Judiciário: STF propõe aumento a servidores Índice
|