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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Lula diz que ainda é "vermelho" e associa crise a "jogo real da política"
"Se tem alguém que não precisa de estrela no peito para dizer que é petista sou eu", afirma presidente
Intelectuais convidados
pelo PT para debater idéias
para um possível segundo
governo eximiram Lula de
participação no escândalo
CATIA SEABRA
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Após ouvir a lamentação de
intelectuais sobre a crise ética
do governo, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva atribuiu
ontem à noite sua relação com
o Congresso Nacional, marcada
pelo escândalo do mensalão, ao
"jogo real da política".
"Política a gente faz com que
a gente tem. Não com o que a
gente quer", disse, justificando:"Maioria a gente constrói
pelo o que a gente tem ao nosso
lado. Não pelo que a gente pensa que tem. Esse é o jogo real da
política que precisou ser feito
em quatro anos para que chegássemos a uma situação altamente confortável".
Uma semana depois de artistas ligados ao PT minimizarem
a importância da ética na política - sob a alegação de que é
preciso "meter a mão na merda" para governar - Lula disse,
num encontro com intelectuais, que só concordou com
uma "transição pacífica" em
2003 porque não achava correto "futucar o passado" e depois
não conseguir "governar o Brasil porque a correlação de forças não era favorável".
Sem querer discutir a essência do mensalão, o presidente
admitiu que o governo ficou
imobilizado pela crise.
"Não vamos discutir se era
verdade ou mentira, mas era
uma crise que truncou praticamente todo o ano de 2005 e
uma boa parcela de 2006. Por
que sobrevivemos e como sobrevivemos?", questionou ele,
creditando seu desempenho ao
fato de os pobres se sentirem
representados por ele.
No evento, realizado pelo PT
num hotel de São Paulo, Lula
negou que, após os escândalos
de corrupção, esteja se distanciando da sigla. "Dizem que o
vermelho está sumido. O vermelho sou eu. Se tem uma pessoa que não precisa de estrela
no peito para dizer que é petista
sou eu", afirmou.
Lula disse que o "PT pagou o
preço". Citando siglas de esquerda da Europa, afirmou que
"só não pagou quem não chegou ao poder". Ao descrever a crise, chegou a se corrigir ao dizer
O PT reuniu cerca de cem intelectuais, alguns dizendo-se
convidados pelo cerimonial da
Presidência. Embora dissessem que Em defesa de Lula,
alguns disseram considerar
que a figura do presidente paira
acima dos escândalos.
"É possível que no governo
dele pessoas tenham feito coisas que o envergonham, mas
acredito que ele não sabia. Conheço Lula e sei que é um homem honrado", declarou o escritor Ariano Suassuna.
Ele contou que não acompanhou a repercussão das declarações do ator Paulo Betti, que
disse que "não se faz política
sem sujar as mãos", e do músico
Wagner Tiso, que afirmou não
se preocupar "com a ética do
PT ou com qualquer tipo de ética". "Não vi, mas não concordo.
Acho que política tem a ver com
a ética, claro. Sei que a política é
a arte do possível. Mas passar
do limite da ética, não. E acho
que ele [Lula] nunca passou."
Leonel Itaussu de Almeida
Mello, professor de ciência política da USP, também saiu em
defesa de Lula. "Escândalos são
coisas passageiras. Não são ligados às pessoas, mas às instituições. O presidente Lula é um
político ético por excelência.
Ele é maior do que o partido."
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