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JULGAMENTO DO MENSALÃO
Barbosa e Peluso fazem ataques mais duros
Indicados por Lula, ministros defendem ostensivamente a abertura do processo contra os 40 acusados e criticam mensalão
Os oito outros ministros do STF acabaram seguindo a tendência capitaneada pela
dupla; Eros Grau foi quem mais divergiu do relator
SILVANA DE FREITAS
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao longo de cinco dias de julgamento, os ministros do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e Cezar Peluso
fizeram os ataques mais duros
ao mensalão e defenderam ostensivamente a abertura do
processo contra os acusados.
Em vários momentos, eles
pareciam formar uma parceria.
Primeiro, Barbosa apresentava
o seu voto. Em seguida, quando
algum ministro sinalizava divergir, Peluso tomava a palavra
para rebater praticamente todos os argumentos levantados
contra a acusação. Por isso, a
aceitação quase integral da denúncia do procurador-geral da
República, Antonio Fernando
de Souza, pode de ser parcialmente debitada à dupla.
Barbosa e Peluso -que assumiram suas cadeiras no Supremo em 2003- estão entre os
seis ministros nomeados pelo
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que ontem indicou o sétimo nome: o ministro do Superior Tribunal de Justiça Carlos
Alberto Menezes Direito.
A dupla teve atuação marcante no episódio que resultou
na maior divergência do tribunal: a abertura de processo por
peculato (receber vantagem indevida em função do cargo público) contra o ex-ministro
Luiz Gushiken, por 6 votos a 4.
Alguns ministros afirmavam
que o único indício contra Gushiken era o depoimento de
Henrique Pizzolato à CPI dos
Correios, ocasião em que o ex-diretor de Marketing do Banco
do Brasil disse que Gushiken
deu aval para repasses suspeitos a empresas de Marcos Valério. "Baseado só nesse depoimento, a CPI pediu o indiciamento do sr. Gushiken", disse
Peluso em tom veemente.
Ontem, novamente, sua intervenção foi preponderante
para afastar um questionamento da ministra Cármen Lúcia de
que poderia não estar devidamente caracterizado o crime de
formação de quadrilha contra o
ex-ministro José Dirceu. "Associação para apenas um crime
determinado [que implicaria
em um enquadramento penal
mais brando] é uma coisa, outra coisa é uma associação para
cometer uma classe de crimes".
Anteontem, Peluso já havia
rebatido a tese de Ricardo Lewandowski de que a denúncia
não apresentava elementos claros para enquadrar os acusados
em formação de quadrilha: "Essa dúvida é pura especulação".
Barbosa, por sua vez, chegou
a bater boca com advogados e,
questionado por colegas, cobrou dos ministros que dessem
a suas palavras pelo menos o
mesmo peso dado à dos defensores dos denunciados. Em nenhuma das votações o voto de
Barbosa foi derrubado.
No final das contas, os oito
outros ministros acabaram seguindo a tendência capitaneada por Peluso e Barbosa, com
uma ligeira diferença em relação a Eros Grau e Lewandowski, também indicados por Lula.
Grau foi quem mais divergiu
do relator. Ele foi contra a abertura de processo por lavagem
de dinheiro contra o ex-presidente da Câmara João Paulo
Cunha (PT-SP), por peculato
contra Gushiken -que classificou como "mera ilação"- e por
corrupção ativa e formação de
quadrilha contra José Genoino.
Já Lewandowski defendeu
solitariamente a tese de que para a maioria dos acusados não
havia indícios suficientes para
enquadramento em crime de
formação de quadrilha.
A presidente do STF, ministra Ellen Gracie, nomeada por
Fernando Henrique Cardoso,
não se manifestou uma única
vez sobre o mérito da denúncia,
limitando-se sempre a acompanhar o voto do relator. Celso
de Mello (José Sarney) e Carlos
Ayres Britto (Lula) divergiram
em pequenos pontos, mas em
geral seguiram a linha pró-denúncia. Marco Aurélio Mello
(Fernando Collor) também foi
quase que integralmente favorável ao voto do relator.
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