São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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Enéas deixou o Rio por SP para concorrer

DA REPORTAGEM LOCAL

O seu nome é Enéas. Candidato a presidente da República, em 1989, ele era um "cacareco", um candidato exótico. Em 1994, a surpresa que derrotou candidatos tradicionais como Orestes Quércia e Leonel Brizola. Em 1998, o defensor da bomba atômica brasileira. Neste ano, pela primeira vez pleiteando o cargo de prefeito, o cardiologista Enéas Ferreira Carneiro, 61, foi um clone de si mesmo.
Nascido em Rio Branco (AC) e com carreira no Rio de Janeiro, Enéas entrou na campanha paulistana para manter em evidência o seu discurso que mistura doses de paranóia xenofóbica com o sentimento de revolta "contra-tudo-que-está-aí". Sabia de início que não tinha chances reais de vitória, mas esperava uma popularidade maior que a atual.
Em seu melhor momento, Enéas bateu em 3% de intenções na pesquisa Datafolha. No último levantamento tinha 2%. Um resultado pífio para quem alcançou 7,38% dos votos na eleição presidencial de 1994 e considerou decepcionante ter "apenas" 2,14% na disputa nacional de 1998, com 1,44 milhão de votos.
A decepção da eleição presidencial passada provocou uma promessa que Enéas quebrou na primeira oportunidade: a de não mais se candidatar. Chegou a registrar o compromisso em cartório, mas recuou. Mudou o seu título eleitoral do Rio de Janeiro para São Paulo depois dos pedidos dos candidatos a vereador do seu partido, o Prona. A legenda elegeu um vereador em São Paulo em 1996, mas que é hoje renegado pela direção do partido.
O argumento principal dos partidários foi que, apesar dos resultados anteriores de Enéas, o Prona continua sendo um partido "nanico". Corre o risco de perder o seu espaço no horário eleitoral gratuito se for aprovado o projeto de reforma eleitoral em tramitação no Congresso. Enéas foi convencido a ser o "puxador" de votos para vereador.
Casado, três filhas, formado, além de medicina, em física e matemática, sargento da reserva, autor de um livro de referência em análise de eletrocardiogramas, Enéas não fez comícios, carreatas ou segurou bebês no colo na sua estréia eleitoral em São Paulo.
Como nas disputas anteriores, concentrou a campanha nos 40 segundos de propaganda na TV. Ele não apresentou propostas para a administração da cidade e repetiu a oratória exaltada de outras campanhas e do período em que foi comentarista do telejornal policial "Aqui Agora".
Acusou o governo federal de estar "vendido" para os interesses internacionais, disse que a imprensa é "podre" e afirmou que a sociedade brasileira sofre da "desordem e da falta de autoridade". "Desemprego, fome e miséria são o retrato de um país dirigido por uma classe política em decomposição", discursou. "Eleito, acabarei com a desordem política, administrativa e moral que faz São Paulo se afundar no pântano da ignomínia", prometeu. E, não podia faltar, o refrão: "Meu nome é Enéas". (THOMAS TRAUMANN)


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