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Enéas deixou o Rio
por SP para concorrer
DA REPORTAGEM LOCAL
O seu nome é Enéas. Candidato
a presidente da República, em
1989, ele era um "cacareco", um
candidato exótico. Em 1994, a surpresa que derrotou candidatos
tradicionais como Orestes Quércia e Leonel Brizola. Em 1998, o
defensor da bomba atômica brasileira. Neste ano, pela primeira
vez pleiteando o cargo de prefeito,
o cardiologista Enéas Ferreira
Carneiro, 61, foi um clone de si
mesmo.
Nascido em Rio Branco (AC) e
com carreira no Rio de Janeiro,
Enéas entrou na campanha paulistana para manter em evidência
o seu discurso que mistura doses
de paranóia xenofóbica com o
sentimento de revolta "contra-tudo-que-está-aí". Sabia de início
que não tinha chances reais de vitória, mas esperava uma popularidade maior que a atual.
Em seu melhor momento,
Enéas bateu em 3% de intenções
na pesquisa Datafolha. No último
levantamento tinha 2%. Um resultado pífio para quem alcançou
7,38% dos votos na eleição presidencial de 1994 e considerou decepcionante ter "apenas" 2,14%
na disputa nacional de 1998, com
1,44 milhão de votos.
A decepção da eleição presidencial passada provocou uma promessa que Enéas quebrou na primeira oportunidade: a de não
mais se candidatar. Chegou a registrar o compromisso em cartório, mas recuou. Mudou o seu título eleitoral do Rio de Janeiro para São Paulo depois dos pedidos
dos candidatos a vereador do seu
partido, o Prona. A legenda elegeu um vereador em São Paulo
em 1996, mas que é hoje renegado
pela direção do partido.
O argumento principal dos partidários foi que, apesar dos resultados anteriores de Enéas, o Prona continua sendo um partido
"nanico". Corre o risco de perder
o seu espaço no horário eleitoral
gratuito se for aprovado o projeto
de reforma eleitoral em tramitação no Congresso. Enéas foi convencido a ser o "puxador" de votos para vereador.
Casado, três filhas, formado,
além de medicina, em física e matemática, sargento da reserva, autor de um livro de referência em
análise de eletrocardiogramas,
Enéas não fez comícios, carreatas
ou segurou bebês no colo na sua
estréia eleitoral em São Paulo.
Como nas disputas anteriores,
concentrou a campanha nos 40
segundos de propaganda na TV.
Ele não apresentou propostas para a administração da cidade e repetiu a oratória exaltada de outras
campanhas e do período em que
foi comentarista do telejornal policial "Aqui Agora".
Acusou o governo federal de estar "vendido" para os interesses
internacionais, disse que a imprensa é "podre" e afirmou que a
sociedade brasileira sofre da "desordem e da falta de autoridade".
"Desemprego, fome e miséria são
o retrato de um país dirigido por
uma classe política em decomposição", discursou. "Eleito, acabarei com a desordem política, administrativa e moral que faz São
Paulo se afundar no pântano da
ignomínia", prometeu. E, não podia faltar, o refrão: "Meu nome é
Enéas".
(THOMAS TRAUMANN)
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