São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Pastor prega voto em evangélico contra 'raça gay'

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Leve Anthony Garotinho à Presidência da República e evite que os homossexuais conquistem o status de uma "nova raça". A tese, absurda, circula por igrejas evangélicas desde o final de julho.
Nasceu durante pregação de um pastor do Rio, que pertence à Assembléia de Deus. Reproduzido em CDs, fitas cassetes e vídeos, o discurso de 29 minutos se disseminou largamente e, hoje, é possível encontrá-lo entre fiéis de diversas denominações.
O candidato do PSB disse à Folha que tem conhecimento do sermão e que não endossa os trechos sobre homossexualidade. Também afirmou não usar a preleção na campanha. "Mas quem apóia minha candidatura é livre para tentar multiplicar votos", ponderou.
O pastor que fez o discurso, Édino Fonseca, 56, disputa uma vaga na Assembléia Legislativa fluminense pelo Prona, o partido nacionalista de Enéas Carneiro. Iniciou a pregação alertando que, com o intuito de boicotar o crescimento dos evangélicos, o Diabo arquitetou um plano: manter o Brasil sob controle de "um grupo, uma organização mundial", que corrompe os homens e obriga o país a vender suas riquezas.
Tal grupo sabe que, quando "os crentes" alcançarem a maioria demográfica, acabarão assumindo o poder. Em consequência, a corrupção diminuirá - porque "o povo de Deus é mais difícil de perverter"- e os interesses externos deixarão de imperar.
Daí "forças internacionais" influenciarem a aprovação de leis federais que, no fundo, desejam atingir a comunidade evangélica. Dos cinco exemplos que mencionou, o pastor discorreu principalmente sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
O projeto que propõe regulamentá-la, apresentado pela petista Marta Suplicy, tramita na Câmara há sete anos. Caso se torne lei, enfatizou Fonseca, abrirá caminho para que os homossexuais sejam reconhecidos como uma "nova raça".
Pretendendo aclarar o raciocínio, o pastor apoiou-se em supostos conceitos científicos. Explicou que, antes de virar humano, "o macaco" converteu-se num "tipo hermafrodita". Um ser apto a "engravidar por si".
Os gays almejariam reeditar aquele tipo. De que maneira? Recorrendo à inseminação artificial. As lésbicas já conseguiram, uma vez que podem engravidar sem contato com o homem.
Os homossexuais masculinos também se encontrariam próximos de gerar um filho sozinhos. Afinal, prosseguiu Fonseca, a ciência provou que "qualquer pessoa, macho ou fêmea", é capaz de gestar um bebê na cavidade abdominal, perto do intestino.
Em razão dessa capacidade, os gays de ambos os sexos estariam se vendo como uma "nova raça". E o projeto de Marta apenas serviria para lhes dar mais combustível. De acordo com o pastor, se o homossexualismo passar à condição de raça, os evangélicos terão de aceitá-lo. Do contrário, irão desrespeitar a Constituição, que proíbe o preconceito racial.
Avalizar o comportamento dos gays significa permitir que o pecado se instale nos templos -hipótese que destruirá "os crentes", como querem as "forças internacionais". "Só existe uma coisa que acaba com a igreja", ressaltou Fonseca. "Perseguição não acaba, divisão não acaba. Mas o pecado dentro da igreja acaba."
O pastor concluiu a pregação pedindo votos para Garotinho e candidatos evangélicos em geral (mencionou somente o nome do presidenciável). Elegendo-os, "os cristãos" abortariam o plano do demônio.


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