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ELIO GASPARI
Anistia para a pilantropia
O ministro Tarso Genro, da
Educação, meteu-se numa
encrenca. Faz água a moralidade de seu programa Universidade Para Todos (um dos slogans
mais descerebrados já produzido pela marquetagem de Brasília). O repórter Josias de Souza
chamou-o de Promamata, e a
Associação Nacional dos Fiscais
da Previdência diz que a medida provisória que criou o ProUni contém um dispositivo imoral.
Tomado pelo lado da propaganda, o programa destina-se a
assegurar vagas nas universidades particulares para estudantes
pobres. Tomado pelos afagos
que a MP faz ao mercado, deu-se outra coisa. O ministro da
Educação atribuiu-se o poder de
revalidar os registros de universidades filantrópicas que tiveram seus benefícios tributários
cassados pelo Conselho Nacional de Assistência Social. Nos últimos seis anos foram canceladas cerca de uma centena de registros de instituições que desrespeitavam as normas da Previdência.
Em junho do ano passado instituições como as universidades
Mackenzie, Metodista, Cásper
Líbero e Gama Filho tiveram
seus registros suspensos. Tarso
Genro poderá devolver os benefícios às escolas que aderirem ao
ProUni. Disso resultará que serão restabelecidos os benefícios
fiscais de entidades em débito
com a Previdência. Coisa de
gente que deve muito, porque a
choldra que deve pouco não
consegue um refresco desses. Os
fiscais do INSS que batalharam
para acabar com as mamatas e
autuaram instituições desonestas ficarão no papel de bobos.
Pior: a MP transfere ao MEC o
poder de fiscalizar as contas e os
programas da filantropia universitária.
A Previdência, que dispõe de
um aparelho fiscalizador, foi
substituída pelo MEC, que não
tem aparelho nenhum. Já houve
universidades filantrópicas com
jatinho para seus diretores
(Universidade de Marília e
Unoeste). Auditores da Receita e
dos INSS que fiscalizaram algumas dezenas de escolas superiores encontraram esquemas de
enriquecimentos das famílias
controladoras das escolas, contabilidades paralelas e, como
sempre, dinheiro de campanha
eleitoral.
No ano passado estimou-se
que os benefícios fiscais do ensino filantrópico somavam perto
de R$ 1 bilhão. Instituições que
seguiram a lei e os bons costumes, como quase todas as PUCs
e um punhado de universidades
comunitárias do Sul do país,
acabam sendo penalizadas pela
anistia oferecida à pilantropia.
A leveza com que o MEC lida
com o ensino superior privado
levou o professor José Arthur
Giannotti a se demitir do Conselho Nacional de Educação, em
1997. Sabendo-se que Giannotti
é um dos melhores amigos de
FFHH e que hospedava-se no
Alvorada quando ia a Brasília
para as reuniões do Conselho,
vê-se quão poderosos são os argumentos da confederação de
interesses do ensino superior
privado. O que há de mais triste
nesse episódio é que a anistia
aos educadores punidos por
suas malfeitorias sai de uma repartição que se denomina Ministério da Educação.
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