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"Tratavam a gente igual a porco", diz trabalhador
THIAGO REIS
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
"Eles tratavam a gente igual a
porco." É assim que Francis
Vanicolla, 25, um dos trabalhadores libertados de uma fazenda da Pagrisa, definiu as condições em que vivia na propriedade, em Ulianópolis (417 km de
Belém). Em julho, a destilaria
foi alvo, segundo o Ministério
do Trabalho, da maior libertação de pessoas em situação
análoga à escravidão: 1.065.
"A água [para beber] era
quente, a refeição era feita na
beira do canavial, no sol quente. Havia bicho na comida, tapuru [verme], toda estragada",
disse Vanicolla ontem à Folha.
"Se parasse para sentar no
chão, não podia. Descansar um
pouquinho, não podia. Teve
um cabra que se encostou na
vassoura e um encarregado
chegou e mandou embora."
Além dele, a reportagem ouviu, por telefone, o relato de
outros dois trabalhadores, todos moradores de Pio 12, no
Maranhão. A cidade é a terceira
que mais teve pessoas libertadas (70) na ação na Pagrisa.
Eles afirmaram que viram ou
viveram condições degradantes. No entanto, nenhum disse
que era proibido sair da fazenda. Contaram também que
eram obrigados a pagar por comida e remédios.
"Deram um alojamento para
a gente, com as camas lá. Mas o
colchão a gente tinha que pagar
para eles", disse Gilmar da Silva, 20. Vanicolla deu um exemplo: "Passei dez dias na cana,
deu R$ 79. Mas aí paguei R$ 69
de comida". Por mês, cada um
dos três ganhava R$ 475.
Valdiluz Magalhães, 22, confirma que tinha de pagar preços elevados por remédios.
"Ruim era a situação dos cortadores de cana, pois dormiam
todos juntos em um barracão
nojento", afirmou.
"Era na rede, tudo bagunçado. Dentro de um quarto quente. Eram 70 redes no galpão,
uma trançada na outra", confirmou Silva, que disse ter sido
bem tratado, no entanto. "O
pessoal reclamava muito. Queriam água gelada, uma comida
bem melhor. Era ruim por causa do fermento, eles botavam
fermento na carne, ela ficava
grossona, grandona."
No dia em que os fiscais chegaram, Silva disse que todos
saíram "alegres". "Todo mundo
gostou." "Pessoal ficou feliz, feliz demais. Era doído", disse
Vanicolla. Dos três, Magalhães
é o único a dizer que se arrepende de ter ido embora. "Tentei voltar, mas acho que eles
não me aceitam mais, não."
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