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Concessões de 184 emissoras de rádio e TV estão vencidas
Ministério engaveta de vez processos que ficaram mais de dez anos parados
Listagem inclui estações de
políticos; todos afirmam ter
entregue as documentações
para o governo de acordo
com o tempo adequado
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Pelo menos 184 emissoras de
rádio e de televisão funcionam
com prazo de concessão vencido. Segundo especialistas, a situação no setor é caótica. Há
casos de emissoras que estão
com as concessões expiradas
há mais de 20 anos e cujos pedidos de renovação de outorga ficaram emperrados no Ministério das Comunicações e no
Congresso Nacional.
As famílias dos ex-presidentes da República Fernando Collor de Mello e José Sarney têm
emissoras nessa situação, além
de outros políticos, como o senador Edison Lobão Filho
(PMDB-MA) e os deputados federais Jader Barbalho e Elcione Barbalho (ambos do PMDB-PA). Todos alegam que entregaram a documentação no tempo adequado ao governo.
O prazo de concessão da rádio Gazeta de Alagoas, da qual
Collor é acionista, expirou em
1993. A rádio funciona com autorização precária do governo.
A concessão da rádio Mirante do Maranhão, na cidade de
Imperatriz, terminou em 1996.
O proprietário da emissora,
Fernando Sarney, filho do senador José Sarney (PMDB-AP), fez o pedido de renovação
da outorga por dez anos, na
época devida, assim como a família Collor, mas os processos
caíram em exigências e não
chegaram a ser aprovados pelo
Congresso Nacional.
Em entrevista, por telefone,
na quinta-feira, Fernando Sarney disse que soube pela Folha
que a concessão está vencida.
Afirmou que entregou a documentação ao governo em 96 e
que supunha que a renovação
tivesse sido aprovada.
Há dois anos, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, em
ato inédito, pediu ao Congresso
a devolução de 225 processos
de pedido de renovação de concessões, que estavam em vias
de ser rejeitados pela Comissão
de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados.
O governo agiu a pedido de
Jader Barbalho, ameaçado de
perder duas rádios e uma televisão no Pará. No bolo das
emissoras devolvidas ao Ministério das Comunicações, para
revisão dos documentos, estavam os processos das rádios
dos Collor, dos Sarney e de outros políticos. Na ocasião, o ministro Hélio Costa disse que as
empresas teriam 90 dias para
regularizar suas documentações, ou seria proposta a extinção das concessões.
Passados dois anos, o Ministério Público Federal, de Brasília, notificou o ministro para
que ele informasse o desfecho
dos processos requisitados por
Lula. O relatório do ministério
mostra que apenas 37 dos 225
foram regularizados e tiveram
as concessões renovadas.
Cento e cinqüenta processos
foram engavetados definitivamente pelo Ministério das Comunicações, porque já tinham
perdido o sentido. Havia se
passado mais tempo do que o
período de renovação solicitada -10 anos para rádio e 15
anos para televisão-, devido à
tramitação dos pedidos. Outros
34 processos serão engavetados, pelo mesmo motivo.
Ou seja, se uma empresa tem
um processo pendente referente ao período de 1996 a
2006, por exemplo, o ministério engaveta esse processo e
passa a examinar a renovação
para os dez anos seguintes. É
como se a empresa tivesse vivido no limbo, por uma década.
O consultor jurídico da Abepec (Associação Brasileira das
Emissoras Públicas Educativas
e Culturais), Fernandes Fortes,
diz que a raiz do problema está
na falta de estrutura do Ministério das Comunicações.
Ele diz que existem muitas
outras emissoras com concessões vencidas que não estão na
listagem da pasta. ""É uma catástrofe. Não acho que decorra
de decisão política do governo,
mas do desmantelamento do
ministério", disse.
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