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ENTREVISTA LUIZ FERNANDO CORRÊA
"Querem minar imagem que a PF tem", diz diretor-geral
Corrêa rebate presidente do STF e diz que país não está em um Estado policialesco
Para diretor-geral, quem tem medo de uma polícia forte "tem algum interesse criminoso, não importa quem seja ou aonde esteja"
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Querem me colocar no campo da bandalheira, tentam minar a boa imagem que a PF tem
com a sociedade", diz Luiz Fernando Corrêa, 50, que completou um ano como diretor-geral
da PF. "Não estamos num Estado policialesco", disse, rebatendo o presidente do STF, Gilmar
Mendes. Há 28 anos na corporação, ele dirige o órgão em um
de seus momentos mais conturbados. Criticada por membros do Judiciário e do governo, a PF tem sua atuação questionada por supostos excessos,
como os que teriam ocorrido na
Operação Satiagraha, que prendeu, entre outros, o banqueiro
Daniel Dantas. "Temos uma
polícia que passou a ser discutida quando prendeu determinados tipos de pessoas. (...) Estamos apanhando por trabalhar
bem", rebateu ele, em entrevista à Folha, na última quinta, na
sede do órgão, em Brasília.
FOLHA - Que momento vive a Polícia Federal, levando-se em consideração todas as críticas à atuação do
órgão, os supostos excessos e a alegação, como fez o presidente do STF,
Gilmar Mendes, de que há no Brasil
um Estado policialesco?
LUIZ FERNANDO CORRÊA - Falta
uma boa análise da mídia, que
está simplesmente reproduzindo essas discussões. Não estamos em um Estado policialesco, porque senão não estaríamos discutindo isso. Num Estado policial não há liberdade.
É salutar os atos da polícia, que
é profissional, serem questionados no âmbito da legalidade.
O que não pode é alguém constatar um crime e atribuí-lo à
polícia. Aí não interessa quem
fale, essa pessoa está errada.
Temos como discutir os excessos, nossos atos são todos
documentados. Não temos medo do controle. Não quero que
me joguem no campo da ilegalidade nem que me tragam ilegalidades. Nossa escuta é toda auditável. Pode haver desvio de
conduta? Pode, mas deixa rastro. Não nos misturem com
quem não trabalha na legalidade. Temos uma polícia que passou a ser discutida quando passou a prender determinados tipos de pessoas.
FOLHA - Historicamente, a polícia
no Brasil sempre esteve ligada aos
estratos mais altos da sociedade.
CORRÊA - O bom é que a sociedade está sendo chamada para
discutir o que polícia quer. Estamos dispostos a avançar,
prender quem quer que seja.
Muitas instituições não têm coragem de fazer o que foi feito
[prisão temporária do ex-diretor-executivo da PF]. Aqui ninguém está fora do alcance da
lei. Agora querem me colocar
no campo da bandalheira, querem tentar minar a boa imagem
que a PF tem com a sociedade.
FOLHA - Quem quer fazer isso?
CORRÊA - Não sei. Só não se interessa por uma polícia forte
quem tem algum interesse criminoso, não interessa quem seja ou aonde esteja. Não confundam zelo, responsabilidade, fiscalização, isso temos. Tenho
certeza de que quando o ministro Gilmar Mendes fala, está
querendo que essa polícia, dentro da legalidade, tenha o controle e avance cada vez mais.
Polícia e Judiciário não têm
confronto, somos uma cadeia
em que nenhum dos dois cumpre a função se houver desavença. A polícia não existe fora
do âmbito do Judiciário.
Se minha prova, por mais
perfeita tecnicamente que seja,
não tiver com a legalidade perfeita, não tem conseqüência social. Entendemos muito bem
em uma cadeia de justiça criminal, polícia, MP e juiz. Tentam
fazer briga, mas, institucionalmente, essas instituições têm
noção de que trabalham juntas.
As pessoas fazem suas manifestações institucionalmente ou
pessoalmente. Nós só trabalhamos e falamos via relatório.
FOLHA - Há desconfianças. Gilmar
Mendes, por exemplo, questionou o
laudo da PF que atestou que os equipamentos da Abin não eram capazes de fazer o suposto grampo. Nelson Jobim (Defesa) fez o mesmo.
CORRÊA - É um desconhecimento de quem fala. Os repórteres deveriam procurar saber
o que é um laudo, que não pode
ter uma vírgula a mais do que é
solicitado. Ele responde objetivamente. Uma pessoa, quando
quer fazer uma análise do laudo, tem de pegar o que foi pedido e o que o perito respondeu.
FOLHA - Desconhecimento das
próprias autoridades?
CORRÊA - É. Mas o que posso fazer? Estamos no estado da arte
em perícia. Não há outro país,
polícia nenhuma, que faça algo
em termos periciais que a PF
não faça no mesmo nível.
FOLHA - A prisão temporária do ex-número dois da PF, Romero Menezes, deixou muitos na corporação
assustados.
CORRÊA - Um desconforto para
todos.
FOLHA - Falam de uma suposta rixa entre o superintendente do Amapá, Anderson Rui Fontel, e Romero
Menezes. Outros dizem que o sr. seria o verdadeiro alvo.
CORRÊA - Há tese para tudo.
Onde há um grupo, há desavenças. O que ninguém está autorizado a fazer é usar sua função
para resolver desavenças pessoais. Se tiver uma boa prova,
não interessa se é o diretor-geral, o ministro, vai quem tiver
que ir. A questão do Romero
tem tese para todo lado.
FOLHA - A Associação dos Delegados da Polícia Federal quer blindar a
diretoria da instituição, com a criação de uma espécie de foro privilegiado e regras para pedido de prisão
contra diretores. O que o sr. acha?
CORRÊA - O país tem que decidir se quer foro privilegiado, e
distribui isso a todos que têm
papel importante, ou não tem
para ninguém e restringe a casos. Não vou emitir parecer
pois é uma matéria a ser discutida pelo Parlamento.
FOLHA - A Operação Satiagraha,
por tudo o que ela representou, pode ser considerada um divisor de
águas para a PF? O fato de agentes
da Abin terem atuado sem ter havido uma comunicação oficial, por
exemplo, pode alterar algo em futuras investigações?
CORRÊA - É questão de mérito.
O que todo mundo fala com desenvoltura, e podem falar, porque são pessoas que estão ou
emitindo alguma opinião ou
não têm o compromisso que temos. Tudo é objeto de inquérito: um da operação propriamente dita e outro apurando os
eventuais desvios de conduta
[do delegado Protógenes Queiroz], que podem ser confirmados ou não. No final desse inquérito vamos falar o que aconteceu sob a ótica técnica. Mas o
sucesso de uma operação não
legitima desvios de conduta.
FOLHA - Mas, por causa disso, será
alterada a forma de colaboração da
Abin?
CORRÊA - As instituições do Estado são complementares, um
único serviço público. É recomendável que todos operem
em conjunto. Só quero sair do
emocionalismo. Colocam tudo
em lado opostos. Não podemos
desgastar a máquina ou penalizar a instituição em nome de
desvios de conduta individuais.
Até para manter intacta a estrutura do Estado, porque senão a legislação vem e restringe. O mau uso da regra não pode acabar com ela. Daqui a pouco o Estado fica engessado.
FOLHA - O sr. quer aplicar na PF elementos da gestão empresarial. O
que mudará no órgão?
CORRÊA - Não temos uma política de gestão. A polícia se formou recrutando gente para
cumprir atividade finalística,
foi ganhando corpo, tem de haver gestão dessa massa de trabalho. Historicamente, a polícia sempre trabalhou de forma
reativa. Problemas e demandas
vão surgindo e ela vai resolvendo. Isso vai gerando distorções.
FOLHA - Quais distorções?
CORRÊA - Aqui se resolvia no
improviso, na reação, tivemos
ingressos maciços, concentrados em pouco tempo, e depois
um longo tempo sem concurso.
Em vez de pirâmide, temos um
vaso disforme. É importante o
indicador pois há outra questão
central na nossa administração
que é a descentralização.
FOLHA - A centralização foi um problema da gestão Paulo Lacerda?
CORRÊA - É um problema. Toda
administração centralizada
contraria qualquer boa técnica
de gestão. Mas ela era conseqüência e necessária. A administração do Paulo Lacerda,
quando centralizou, estava em
um momento de redesenhar a
cúpula da polícia em diretorias.
Ele concentrou até para fixar
doutrina. É normal que a próxima administração consolide
essa etapa e descentralize.
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