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SÃO PAULO
Para prefeita, que se julga vítima do preconceito dos jornais, Alckmin é o melhor quadro do PSDB e Suplicy ajudou "o quanto pôde"
Marta ataca a imprensa, critica Maluf e diz que vai ganhar com voto da periferia
FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
Marta Suplicy, 59, enxerga na
periferia votos indecisos em
quantidade suficiente para reverter, até domingo, a desvantagem
para o tucano José Serra -de sete
pontos, segundo o Datafolha-
na disputa pela Prefeitura de São
Paulo. "Tenho que buscar os eleitores que muitas vezes não conseguem ter a dimensão do que foi o
benefício realizado na periferia",
afirma a prefeita petista.
Na entrevista abaixo, ela atribui
a falhas de comunicação da prefeitura quando da criação das novas taxas e, principalmente, ao
que classifica como "perseguição" da imprensa escrita, em particular da Folha, o fato de não ter
hoje o amplo respaldo que a elegeu quatro anos atrás.
A prefeita elogia o governador
Geraldo Alckmin ("é o melhor
quadro do PSDB") e diz que não
tem "nenhum apreço pessoal"
por Paulo Maluf, que
a apóia no segundo
turno. Medindo bem
as palavras, a prefeita faz uma restrição
velada à atuação do
seu ex-marido, o senador Eduardo Suplicy, na campanha:
"Ele ajudou o quanto pôde", diz. E atribui ao fato de ser
mulher as cobranças
que sofre pelos cuidados que tem com a
sua aparência.
Folha - Para vencer,
a sra. depende mais
da ampliação da vantagem que teve em
parte da periferia ou
da diminuição da desvantagem no chamado cinturão tucano?
Marta Suplicy - Não
saberia dizer ao certo. Acho que ampliar
a vantagem na periferia seria mais interessante. Porque fiz
um governo que,
apesar de governar
para a maioria, investiu pesadamente
na periferia. Tenho
de buscar os eleitores que muitas vezes
não conseguem ter a
dimensão do que foi
o governo, do que foi
o benefício realizado na periferia.
Folha - Sua situação é muito diferente daquela de 2000, quando sua
candidatura na época catalisou um
desejo de moralização, de recuperação simbólica e material da cidade depois do colapso Maluf-Pitta.
Formou-se na prática um pacto das
classes médias e de setores da elite
em torno de sua candidatura. Esse
pacto se desfez? Por quê?
Marta - Acho que isso está muito
relacionado à taxa e a problemas
de má comunicação que nós tivemos. Não colocamos que o PSDB,
que ficava gritando "Martaxa" na
Câmara, tinha essa taxa [do lixo]
em vários municípios que governava, como Vitória, e não é nem
autodeclaratória, é única e muito
mais alta. E está ligado também ao
espaço de imprensa contra mim e
minha gestão. O próprio ombudsman da Folha tem colocado
isso, mas não adianta. A Folha
continua fazendo. O outro jornal
também.
Folha - A sra. reclama de perseguição contra sua administração e
sua pessoa. É indiscriminado? A imprensa como um todo age assim?
Marta - Não acho. A imprensa
de TV não age assim. A escrita,
sim. Uns mais, outros menos.
Folha - A sra. se refere à Folha e
ao "Estado"?
Marta - É. "O Globo" sempre teve uma cobertura mais imparcial.
O "Diário de S. Paulo", um pouquinho menos, mas também.
Folha - A que atribui essa divisão?
Marta - Não tenho a menor
idéia. Perguntem ao Otavio Frias
[Filho, diretor de Redação da Folha] e para o Ruy Mesquita [diretor de "O Estado de S. Paulo"].
Folha - A sra. não vê simpatia das
televisões, em especial da Globo,
em relação à sua administração?
Marta - Não é só a Globo. Os jornais de televisão, como um todo,
têm sido mais imparciais. A não
ser um ou outro, como o do Boris
Casoy, que tem ojeriza ao PT.
Folha - A filósofa Marilena Chaui,
que acaba de participar de um ato
de apoio à sra., tem reclamado
muito do tratamento dado pelos
jornais ao governo do PT. Ao mesmo tempo, em entrevista recente,
ela afirmou que a TV Globo é condescendente com o governo Lula.
Marta - Eu não vou ficar discutindo o que a Marilena Chaui acha
ou deixa de achar. Há um preconceito contra mim pessoalmente,
há um preconceito sobre o que foi
meu governo. O motivo disso,
não tenho a mais leve idéia. Pergunte ao Otavio Frias Filho e ao
Ruy Mesquita. Não sinto isso por
parte da Record, não sinto isso
por parte da Globo, da Bandeirantes, por parte da RedeTV.
Folha - A sra. se diz alvo de preconceito. Seu adversário vê aí uma
estratégia de vitimização. A sra.
acha que os eleitores de Serra estão votando contra a senhora ou
contra sua administração?
Marta - Tudo junto. Em relação
à administração tem as taxas, que
não consegui ter uma boa estratégia de comunicação. E a imprensa
fez a campanha dos opositores. E
pessoalmente também fez uma
desconstrução, uma desqualificação minha, por três anos e meio.
Folha - Prefeita, isso tudo será registrado na entrevista.
Marta - Se vai sair, então deixa
eu acrescentar. Desde as manchetes, tudo que se refere a algum
problema da prefeitura é colocado "Marta tan-tan-tan...". No governo do Estado, não é a "Febem
do Alckmin", o "Rodoanel com
problemas do Alckmin", o "metrô que não funciona do Alckmin", a "linha 4 que não saiu do
Alckmin". As matérias, quando se
referem a problemas do governo
do Estado, são pequenas. Em relação a mim, são enormes.
Folha - Eu poderia contra-argumentar?
Marta - Não. Não estou interessada. Isso é uma entrevista.
Folha - A eleição é municipal. Sua
exposição teria que ser maior...
Marta - São três anos e meio. Teve eleição de governador nesse
período. Vocês não foram corretos. Não são. É por isso que eu não
vou almoçar lá [na Folha] e nunca
vou voltar. Apesar de o sr. Frias
[Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha] me ligar, o que
achei muito simpático, não vou.
Folha - Ele gosta muito da sra.
Marta - E eu dele, muito mesmo,
mas não dá para ir a um lugar que
me trata assim. Aliás, nunca entendi o porquê, nunca entendi.
Folha - A sra. e o governador trocaram vários elogios antes da campanha. Depois ele acabou sendo o
principal padrinho do seu adversário. Como vocês se relacionarão
após a eleição?
Marta - Da parte dele, não sei.
Da minha, igualzinho. Não guardo mágoa. Sei que muito do que
está falando faz parte do papel
que tem de exercer. Gosto dele como pessoa. Até brinquei que ele
era o melhor quadro do PSDB, de
longe. Ele sabe que acho isso.
Folha - E Maluf? A partir de um
ponto da campanha, ele parou de
criticar a sra. e se voltou contra Serra. Declarou apoio no 2º turno. O PT
nunca manifestou contrariedade.
A sra., porém, demonstrou mal-estar em determinadas situações.
Marta - Acho que a campanha
passou ao largo disso, de certa
forma. Teve um acordo federal,
com o PP. O Maluf não tem apreço pessoal por mim, nem eu por
ele. Agora, aconteceu alguma coisa em relação ao Serra que fez
com que todas as desavenças pessoais que ele poderia ter comigo
se tornassem pequenas diante das
que ele tem com o Serra. Não sei
quais são. Aliás, vocês deveriam
ter investigado isso.
Maluf não faz parte da minha
história. Não conversei, não telefonei, não pedi, nem ninguém do
meu comitê fez isso. O apoio passa por outros caminhos que eu
não sei quais são.
Folha - Circulam pela cidade kombis com foto sua ao lado da de Maluf. A sra. não teme que essa imagem a persiga no futuro?
Marta - Fernando Henrique foi
perseguido? Ele teve outdoors
com o Maluf pagos pelo PSDB em
1998. Não posso impedir as pessoas que gostam do Maluf, que
votam nele, de fazer campanha.
Não tenho como fazer isso. Não
paguei, sou contrária. Mas não
vou desgostar o eleitor dele.
Folha - Todos os políticos se preocupam com a aparência. A sra. se
sente mais cobrada do que se fosse,
por exemplo, homem e careca? Por
que a sra. acha que as pessoas se
sentem no direito de cobrá-la por
seus cuidados com a aparência? Isso a incomoda?
Marta - É por ser mulher, ué, homem vai comentar o terno da pessoa, a blusa? Não comenta. Não
me magoa. Faz parte da vida política. Está incorporado.
Folha - Mulher é mais visada, mas
há mulheres mais visadas do que
outras. A sra. é mais visada.
Marta - Não sei. Você acha?
Acho que fizeram a mesma coisa
com a Jandira Feghali [candidata
derrotada à prefeitura do Rio pelo
PC do B], com a Rita Camata
[candidata a vice de Serra na eleição presidencial de 2002].
Folha - Então o que seria isso?
Machismo brasileiro?
Marta - Certamente.
Folha - A sra. sente mais essa cobrança na elite ou já ouviu algo
quando caminha pela periferia?
Marta - Nunca ouvi isso na periferia. Mas também nunca fiz pesquisa para saber para saber em
que classe social existe mais isso.
Folha - Que avaliação a sra. faz
do papel do senador Suplicy na sua
campanha? Ajudou muito, pouco?
Marta - Ajudou o quanto pôde.
Folha - Menos do que seria necessário?
Marta - O quanto pôde.
Folha - Muitas pessoas dizem que
a sra. chorou no sábado passado
por causa das palavras do Marcelo
Déda, mas também que estaria sob
o impacto da entrevista da namorada do senador Suplicy, à revista
"Veja". Procede?
Marta - Não, com todas as letras.
Folha - A sra. poderia dizer o que
achou da entrevista, se leu, ou do
que foi dito a esse respeito ?
Marta - Não. Não fiz nenhum
comentário a respeito da entrevista. Tive
várias oportunidades. Não fiz nem farei.
Folha - Como é um
dia de campanha? A
que horas começa e
acaba? Marta - Me
reúno uma vez por
semana com a pessoa que faz a agenda.
Não sou eu que faço
a agenda, é uma pessoa do comitê. Ele
me conta as coisas
mais duvidosas, o
que eu acho que
complica. Para mim,
sempre dou conta.
Digo: põe, eu tenho
saúde, tenho energia, eu gosto de ir.
Folha - A sra. costuma dormir quantas
horas?
Marta - Não é tanto, não. Durmo seis,
sete horas por noite.
Durmo bem. Encosto a cabeça no travesseiro e durmo.
Com menos de seis
horas, eu não consigo. Na verdade, não
é disso que eu preciso, preciso de oito
horas e meia.
Folha - A sra. já falou que é contra a rinha de galo. Que leitura fez do episódio da prisão de
seu marqueteiro, Duda Mendonça?
Marta - Acho que a intenção foi
atrapalhar. Obviamente isso foi
muito bem planejado.
Folha - Qual foi sua primeira
preocupação?
Marta - Ver se ele estava bem, se
a Aline [mulher de Duda] estava
bem.
Folha - A sra. entrou na política
pelo Parlamento. Pensa algum dia
em retornar?
Marta - Nunca pensei em voltar.
Não tenho nenhum interesse. Sou
uma pessoa prática, nasci para o
Executivo. Eu gosto do Executivo.
Às vezes pode não ser fácil trabalhar comigo. Eu sei como é. Não
deixo papel na mesa, entende?
Decido, vai para o bem ou para o
mal. Pego as informações, decido,
pago o preço. A coisa anda.
Folha - O que sra. gostaria de fazer na segunda-feira?
Marta - Comemorar.
Folha - Como?
Marta - Vou comemorar e começar a pensar na organização do
novo governo no dia seguinte.
Tem de pôr toda a energia em ganhar e no dia seguinte começar a
trabalhar. Não vou sair de férias.
Folha - A sra. se sente preparada
para perder ou ganhar?
Marta - A gente sempre está.
Mas eu gosto de ganhar. Vocês
não acreditam, mas eu acredito
que vou ganhar. Acho que o bom
senso das pessoas vai prevalecer.
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