São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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Secretário estadual organiza boca-de-urna

DO ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS

Homem de confiança do casal Garotinho, o secretário estadual de Integração Governamental, Luiz Rogério Magalhães, comandou, em um salão de festas no bairro Guarus, um encontro para organizar a boca-de-urna em Campos no domingo.
Estiveram no encontro, anteontem à noite, cerca de 300 militantes, quase todos vestidos com camisas do candidato Geraldo Pudim (PMDB), apoiado pelo ex-governador e presidente estadual do partido, Anthony Garotinho, e por sua mulher, a governadora Rosinha Matheus.
A boca-de-urna é proibida pela lei federal 9.504/97, que estipula as normas eleitorais. Quem realizá-la pode pegar de seis meses a um ano de detenção.
Questionada pela Folha sobre a punição ao idealizador de um evento para organizar a boca-de-urna, a juíza eleitoral Maria Tereza Andrade disse: "Boca-de-urna é crime. Em qualquer local".
Segundo ela, a pessoa flagrada organizando a boca-de-urna pode ser processada por apologia ao crime. Ela não foi informada de que Magalhães era o organizador do encontro.
A presença dos militantes no salão Rose Nolasco Festas lotou, a partir das 19h de anteontem, a rua Adivaldo Maciel. A Folha circulou por dez minutos entre os militantes, sem se identificar.
O secretário de Integração Governamental estava no salão principal. Dava ordens, orientava as lideranças da campanha e promovia a distribuição de fichas para os militantes que participarão da boca-de-urna.
Pouco depois das 21h, teve início o rumor de que havia jornalistas no local. O local se esvaziou. Na rua, militantes corriam para todos os lados. "Sujou, sujou", gritou uma mulher que se identificou como Maria do Carmo e que vestia a camisa de Pudim.
Magalhães é um antigo auxiliar dos Garotinho. Anteontem, quando o senador Renan Calheiros (PMDB) e o presidente nacional do partido, Michel Temer, estiveram em Campos, o secretário sentou ao lado deles e de Garotinho na mesa de autoridades.
A Folha tentou ouvi-lo sobre a organização da boca-de-urna. Foram deixados recados nos três celulares de Magalhães. Até a conclusão desta edição, ele não havia respondido.
A repressão à boca-de-urna é a prioridade do Exército em Campos no domingo. Serão 500 militares -350 deles do Rio. No primeiro turno, foram presos na cidade cerca de cem pessoas fazendo boca-de-urna. O comandante do batalhão do Exército em Campos, tenente-coronel Nilton Rodrigues, disse que "a tropa será de paz" e "vai garantir a ordem no município".
A presença do Exército foi pedida pela juíza Maria Tereza Andrade e atendida pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). "A gente anda nas ruas e nota que as pessoas estão com medo de votar", disse ela, justificando a razão de ter pedido o apoio militar.
(SERGIO TORRES)


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