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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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VERDE DE RAIVA

Com faixas, ativistas provocam presidente, que diz não temer "grito"

Lula reage a ambientalistas e volta a atacar gestão FHC

GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um protesto organizado ontem por ambientalistas, durante a abertura da Conferência Nacional de Meio Ambiente, na UnB (Universidade de Brasília), fez com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abandonasse a leitura do discurso que fazia para responder aos manifestantes, de improviso e mostrando irritação. Lula disse que se tivesse medo de grito não teria nem nascido.
"Eu nasci na política, na adversidade. Aprendi a fazer política na confrontação e vou exercer o governo desse jeito. Se eu tivesse medo de grito, acho que nem teria nascido", disse Lula em resposta aos manifestantes.
Depois dos protestos, Lula também criticou o PSDB, partido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e afirmou que nenhum dos seus ministros, ao acabar o governo, irá "morar em Nova York" ou trabalhar em "banco" e em "multinacional".
O discurso de Lula e os protestos dos ambientalistas foram presenciados na UnB por uma platéia de cerca de 1.800 pessoas.
Os protestos ocorreram por causa das possíveis alterações que devem ser feitas pela Câmara no projeto de lei de biossegurança do governo, que, entre outros assuntos, normatiza a comercialização dos transgênicos. Em pelo menos duas faixas havia a mesma frase: "O projeto de biossegurança está sendo destruído. O governo não vai fazer nada?".
"Não há forma mais autoritária de comportamento do que uma pessoa tentar fazer com que os seus interesses prevaleçam sobre os interesses da maioria", disse Lula, quando os primeiros manifestantes -dois deles com nariz de palhaço- levantaram da platéia e abriram faixas de protesto.
"Nem direita nem esquerda farão acontecer nada sem que haja um debate democrático em que a vontade da maioria prevaleça", disse Lula, referindo-se às decisões do seu governo.
As faixas foram abertas ao mesmo tempo. Parte da platéia começou a fazer barulho enquanto o presidente discursava. A maioria aplaudiu a resposta de Lula.
"É muito fácil, é muito fácil ficar em São Paulo ou em Brasília fazendo críticas. Eu convido esse crítico a passar uma seca no semi-árido nordestino, para que ele saiba que nós vamos levar água para o Nordeste brasileiro", afirmou.
O presidente também criticou o PSDB. Citou um projeto, nunca votado, que estabelece normas de proteção para a Mata Atlântica e foi apresentado por um deputado do PSDB. A matéria é uma das bandeiras mais tradicionais dos ambientalistas brasileiros.
"O partido a que ele [o então deputado Fábio Feldman, PSDB-SP] pertence governou este país durante oito anos, com maioria absoluta no Congresso, e não votou o projeto da Mata Atlântica. "Não temos mais do que 200 deputados e vamos votar."
Em contrapartida às críticas, elogiou sua gestão: "Possivelmente, há gente incomodada porque este governo vai fazer o que o governo de alguns não conseguiu fazer durante tantos anos".

Ministros
Lula repetiu que cumprirá o que prometeu antes de ser presidente e assumiu um compromisso em nome dos seus 35 ministros: "Quando terminar o mandato nenhum ministro vai morar em Paris, nenhum ministro vai morar em Nova York, nenhum ministro vai trabalhar para um banco, nenhum ministro vai prestar serviço para multinacionais".
Pedro Malan, ministro da Fazenda do governo passado, hoje participa do Conselho de Administração do Unibanco. Martus Tavares, que era ministro do Planejamento, e Paulo Paiva, que foi ministro do Trabalho e do Planejamento, foram trabalhar no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e moram no exterior.
A demarcação das terras indígenas foi outro tema abordado nas faixas de protesto. Ao ver a referência ao assunto nelas, Lula, que já havia falado sobre o litígio na terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, voltou a falar sobre o tema.
"O governo não pode tirar um filho desta pátria para colocar outro filho da pátria, deixando um desamparado." A área foi invadida por pequenos produtores e o governo ainda procura uma área para acomodá-los.


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