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VERDE DE RAIVA
Com faixas, ativistas provocam presidente, que diz não temer "grito"
Lula reage a ambientalistas
e volta a atacar gestão FHC
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um protesto organizado ontem
por ambientalistas, durante a
abertura da Conferência Nacional
de Meio Ambiente, na UnB (Universidade de Brasília), fez com
que o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva abandonasse a leitura do
discurso que fazia para responder
aos manifestantes, de improviso e
mostrando irritação. Lula disse
que se tivesse medo de grito não
teria nem nascido.
"Eu nasci na política, na adversidade. Aprendi a fazer política na
confrontação e vou exercer o governo desse jeito. Se eu tivesse
medo de grito, acho que nem teria
nascido", disse Lula em resposta
aos manifestantes.
Depois dos protestos, Lula também criticou o PSDB, partido do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e afirmou que nenhum dos seus ministros, ao acabar o governo, irá "morar em Nova York" ou trabalhar em "banco" e em "multinacional".
O discurso de Lula e os protestos dos ambientalistas foram presenciados na UnB por uma platéia
de cerca de 1.800 pessoas.
Os protestos ocorreram por
causa das possíveis alterações que
devem ser feitas pela Câmara no
projeto de lei de biossegurança do
governo, que, entre outros assuntos, normatiza a comercialização
dos transgênicos. Em pelo menos
duas faixas havia a mesma frase:
"O projeto de biossegurança está
sendo destruído. O governo não
vai fazer nada?".
"Não há forma mais autoritária
de comportamento do que uma
pessoa tentar fazer com que os
seus interesses prevaleçam sobre
os interesses da maioria", disse
Lula, quando os primeiros manifestantes -dois deles com nariz
de palhaço- levantaram da platéia e abriram faixas de protesto.
"Nem direita nem esquerda farão acontecer nada sem que haja
um debate democrático em que a
vontade da maioria prevaleça",
disse Lula, referindo-se às decisões do seu governo.
As faixas foram abertas ao mesmo tempo. Parte da platéia começou a fazer barulho enquanto o
presidente discursava. A maioria
aplaudiu a resposta de Lula.
"É muito fácil, é muito fácil ficar
em São Paulo ou em Brasília fazendo críticas. Eu convido esse
crítico a passar uma seca no semi-árido nordestino, para que ele saiba que nós vamos levar água para
o Nordeste brasileiro", afirmou.
O presidente também criticou o
PSDB. Citou um projeto, nunca
votado, que estabelece normas de
proteção para a Mata Atlântica e
foi apresentado por um deputado
do PSDB. A matéria é uma das
bandeiras mais tradicionais dos
ambientalistas brasileiros.
"O partido a que ele [o então deputado Fábio Feldman, PSDB-SP] pertence governou este país
durante oito anos, com maioria
absoluta no Congresso, e não votou o projeto da Mata Atlântica.
"Não temos mais do que 200 deputados e vamos votar."
Em contrapartida às críticas,
elogiou sua gestão: "Possivelmente, há gente incomodada porque
este governo vai fazer o que o governo de alguns não conseguiu fazer durante tantos anos".
Ministros
Lula repetiu que cumprirá o que
prometeu antes de ser presidente
e assumiu um compromisso em
nome dos seus 35 ministros:
"Quando terminar o mandato nenhum ministro vai morar em Paris, nenhum ministro vai morar
em Nova York, nenhum ministro
vai trabalhar para um banco, nenhum ministro vai prestar serviço
para multinacionais".
Pedro Malan, ministro da Fazenda do governo passado, hoje
participa do Conselho de Administração do Unibanco. Martus
Tavares, que era ministro do Planejamento, e Paulo Paiva, que foi
ministro do Trabalho e do Planejamento, foram trabalhar no BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento) e moram no exterior.
A demarcação das terras indígenas foi outro tema abordado nas
faixas de protesto. Ao ver a referência ao assunto nelas, Lula, que
já havia falado sobre o litígio na
terra indígena Raposa Serra do
Sol, em Roraima, voltou a falar sobre o tema.
"O governo não pode tirar um
filho desta pátria para colocar outro filho da pátria, deixando um
desamparado." A área foi invadida por pequenos produtores e o
governo ainda procura uma área
para acomodá-los.
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