São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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Arrecadação para eleger Lula cresce 133% em 4 anos

Apesar da força-tarefa que aumentou volume de doações em relação a 2002, campanha de petista acaba devedora

Partido assume dívida de R$ 9,9 mi com fornecedores; do total arrecadado, quase 20% foram como doações ocultas feitas por empresas


FÁBIO ZANINI
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais do que dobrou sua arrecadação de campanha na comparação com 2002, contrariando a previsão de que a primeira eleição após o escândalo do "mensalão" seria comparativamente modesta. Isso não foi suficiente para o presidente evitar uma dívida de R$ 9,87 milhões nas suas contas. O déficit foi assumido pelo PT.
Há quatro anos, Lula arrecadou R$ 44,73 milhões, em valores já corrigidos pelo IPCA, que mede a inflação no período. Agora, foram R$ 104,3 milhões já incluída a parcela encampada pelo PT. O salto no intervalo de quatro anos foi de 133%.
Em 2002, o presidente se elegeu com 52.793.364 votos (custo de R$ 0,85 por voto, em valores já deflacionados). Em 2006, o petista obteve 58.295.042 votos (custo de R$ 1,79 por voto).
Na eleição, o PT montou uma força-tarefa para arrecadar dinheiro, com 8.000 emails enviados a empresas e 60 mil telefonemas feitos por uma equipe de telemarketing. No final, 300 empresas doaram, e 2.800 pessoas físicas. Oficialmente, foi a campanha mais cara na história eleitoral do país.
A dívida que o PT assumiu se refere ao pagamento de quatro gráficas, todas em São Paulo. "Todos os outros itens, que representam centenas de fornecedores, foram quitados e honrados", disse o tesoureiro da campanha, José de Filippi Júnior. Segundo Filippi, o marqueteiro João Santana recebeu integralmente os R$ 13,75 milhões de seu contrato.
O valor assumido pelo PT será inteirado por doações já "apalavradas" de empresas, segundo o presidente do partido, Marco Aurélio Garcia. O dinheiro deve entrar nos cofres petistas até o final do ano.
"Os recursos para o pagamento dessa dívida estão praticamente todos mobilizados, então vamos terminar o ano com esse problema resolvido."
Filippi disse que as empresas que vão ressarcir o partido não conseguiram doar no prazo legal, que se encerrou ontem, por problemas diversos. Algumas quiseram esperar para pagar o 13º salário de seus funcionários. "Outra disse que precisava da aprovação do conselho de administração, que se reúne na sexta-feira", afirmou Filippi.
Além disso, outros R$ 10 milhões foram repassados pelo PT ao comitê de Lula durante a campanha. Esse valor está lastreado em doações de empresas já recebidas pelo partido.
Na prática, o dinheiro dado pelo PT à campanha -quase 20% do total arrecadado por Lula- são contribuições "ocultas" feitas por empresas. O recurso não aparece diretamente vinculado à campanha, o que poderia ser constrangedor para as empresas, mas sim diluído no caixa do partido.
Os petistas não souberam dar uma explicação taxativa para o que teria levado à explosão dos custos e da arrecadação de campanha, apesar do "mensalão". Uma hipótese levantada por Filippi foi a de que o escândalo, ao invés de retrair os doadores, motivou um movimento em direção ao "caixa um". "Houve um aperfeiçoamento da legislação. [...] Teve uma preocupação de todos, a legislação ficou mais rigorosa." Ele revelou que recebeu "consultas" de empresas que queriam doar por fora, mas disse que as rechaçou. "Uma ou outra empresa sugeriu [doar extra-oficialmente], mas a minha atuação era no sentido de fazer o pedido de doação oficial."


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