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Arrecadação para eleger Lula cresce 133% em 4 anos
Apesar da força-tarefa que aumentou volume de doações em relação a 2002, campanha de petista acaba devedora
Partido assume dívida de R$ 9,9 mi com fornecedores;
do total arrecadado, quase 20% foram como doações
ocultas feitas por empresas
FÁBIO ZANINI
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais do que dobrou
sua arrecadação de campanha
na comparação com 2002, contrariando a previsão de que a
primeira eleição após o escândalo do "mensalão" seria comparativamente modesta. Isso
não foi suficiente para o presidente evitar uma dívida de R$
9,87 milhões nas suas contas. O
déficit foi assumido pelo PT.
Há quatro anos, Lula arrecadou R$ 44,73 milhões, em valores já corrigidos pelo IPCA, que
mede a inflação no período.
Agora, foram R$ 104,3 milhões
já incluída a parcela encampada pelo PT. O salto no intervalo
de quatro anos foi de 133%.
Em 2002, o presidente se elegeu com 52.793.364 votos (custo de R$ 0,85 por voto, em valores já deflacionados). Em 2006,
o petista obteve 58.295.042 votos (custo de R$ 1,79 por voto).
Na eleição, o PT montou uma
força-tarefa para arrecadar dinheiro, com 8.000 emails enviados a empresas e 60 mil telefonemas feitos por uma equipe
de telemarketing. No final, 300
empresas doaram, e 2.800 pessoas físicas. Oficialmente, foi a
campanha mais cara na história eleitoral do país.
A dívida que o PT assumiu se
refere ao pagamento de quatro
gráficas, todas em São Paulo.
"Todos os outros itens, que representam centenas de fornecedores, foram quitados e
honrados", disse o tesoureiro
da campanha, José de Filippi
Júnior. Segundo Filippi, o marqueteiro João Santana recebeu
integralmente os R$ 13,75 milhões de seu contrato.
O valor assumido pelo PT será inteirado por doações já
"apalavradas" de empresas, segundo o presidente do partido,
Marco Aurélio Garcia. O dinheiro deve entrar nos cofres
petistas até o final do ano.
"Os recursos para o pagamento dessa dívida estão praticamente todos mobilizados,
então vamos terminar o ano
com esse problema resolvido."
Filippi disse que as empresas
que vão ressarcir o partido não
conseguiram doar no prazo legal, que se encerrou ontem, por
problemas diversos. Algumas
quiseram esperar para pagar o
13º salário de seus funcionários. "Outra disse que precisava
da aprovação do conselho de
administração, que se reúne na
sexta-feira", afirmou Filippi.
Além disso, outros R$ 10 milhões foram repassados pelo
PT ao comitê de Lula durante a
campanha. Esse valor está lastreado em doações de empresas já recebidas pelo partido.
Na prática, o dinheiro dado
pelo PT à campanha -quase
20% do total arrecadado por
Lula- são contribuições "ocultas" feitas por empresas. O recurso não aparece diretamente
vinculado à campanha, o que
poderia ser constrangedor para
as empresas, mas sim diluído
no caixa do partido.
Os petistas não souberam
dar uma explicação taxativa para o que teria levado à explosão
dos custos e da arrecadação de
campanha, apesar do "mensalão". Uma hipótese levantada
por Filippi foi a de que o escândalo, ao invés de retrair os doadores, motivou um movimento
em direção ao "caixa um".
"Houve um aperfeiçoamento
da legislação. [...] Teve uma
preocupação de todos, a legislação ficou mais rigorosa." Ele revelou que recebeu "consultas"
de empresas que queriam doar
por fora, mas disse que as rechaçou. "Uma ou outra empresa sugeriu [doar extra-oficialmente], mas a minha atuação
era no sentido de fazer o pedido
de doação oficial."
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