São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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ELIO GASPARI

Lula decidiu criar a Bolsa-PMDB

Urso que come o dono não faz coligação. Nosso Guia não se coliga nem com o PT

O GOVERNO DE COALIZÃO que Lula faz de conta que deseja formar é uma empulhação a serviço da teatralidade. Nosso Guia reelegeu-se prometendo desenvolvimento econômico e até agora não ofereceu nem sequer um vestígio de que sabia do que falava. Seu governo de coalizão é um passatempo para si e um desperdício para a paciência alheia.
Lula não forma governo de coalizão porque a origem pessoal de seu mandato e a opinião que tem de si impedem que se coligue com quem quer que seja. Ele não se coliga nem com o PT. Urso que come dono não tem porque saber o que é isso. Há políticos que, por biografia e temperamento, formaram grandes coligações. FFHH, José Sarney e JK são bons exemplos. Há outros que, mesmo precisando formá-las, não conseguiram. Quando tentaram, encrencaram-se: Fernando Collor, Jânio Quadros e Carlos Lacerda. A linha que separa os dois grupos foi traçada pelo Padre Eterno quando deu a uns o gosto pela bonomia e aos outros o apetite pelo rancor.
Lula fez uma prodigiosa carreira sem coligar-se com ninguém. Durante alguns anos, preservou-se cultivando um radicalismo isolacionista. A idéia de coalizão é estranha ao seu pensamento e ao seu método. Basta lembrar que agora ele está costurando o avesso do casaco que rasgou em 2003. Foi dele a idéia de detonar a aliança com o PMDB, montada pelo comissário José Dirceu. Foi dele a idéia de encostar seu governo no PTB de Roberto Jefferson e no PL de Valdemar Costa Neto. Foi dele o projeto da aliança que acabou no mensalão. O comissário Dirceu carregará pelo tempo afora uma cruz que, no mínimo, não concebeu.
Lula reinventa a coalizão com a turma que enxotou em 2003 e, envolto numa toga romana, diz que não quer o PTB e o PL no conselho político de seu novo governo. Prefere manter distância dos companheiros Jefferson e Costa Neto. Ao mesmo tempo, quer os votos de suas bancadas. Como ele próprio diz, política se faz com o que a gente tem.
O embuste da coalizão de Lula padece também da falta de idéias. Ganha uma viagem a Cuba quem disser o que une esse bloco, salvo a vontade de brincar o Carnaval. Ganha duas quem souber o que une o PMDB.
Engana-se quem acredita que, diante desse balcão, o PSDB está disposto a gramar quatro anos no tom que usou contra o governo a partir de 2005. Algum dia, quando o primeiro mandato de Lula for estudado por dentro, vai-se descobrir que, até a implosão do mensalão, os tucanos foram aliados muito mais fiéis (e menos constrangedores) que os próprios petistas. O tucanato não está em crise por conta de uma hipotética dificuldade para vocalizar seu projeto oposicionista. Sua crise é a de quem não quer fazer oposição. No mundo dos seus sonhos, ele faz figurações em público e amassa pizzas nos bastidores.
Certa vez disseram ao presidente Castello Branco que se estava formando uma coligação contra "o inimigo comum". O marechal perguntou quem era esse inimigo e disseram-lhe que era ele. "Eu não. É o Erário."


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