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ELIO GASPARI
Lula decidiu criar a Bolsa-PMDB
Urso que come o dono não faz coligação. Nosso Guia não se
coliga nem com o PT
O GOVERNO DE COALIZÃO que
Lula faz de conta que deseja
formar é uma empulhação a
serviço da teatralidade. Nosso Guia
reelegeu-se prometendo desenvolvimento econômico e até agora
não ofereceu nem sequer um vestígio de que sabia do que falava. Seu
governo de coalizão é um passatempo para si e um desperdício para a
paciência alheia.
Lula não forma governo de coalizão porque a origem pessoal de seu
mandato e a opinião que tem de si
impedem que se coligue com quem
quer que seja. Ele não se coliga nem
com o PT. Urso que come dono não
tem porque saber o que é isso. Há
políticos que, por biografia e temperamento, formaram grandes coligações. FFHH, José Sarney e JK são
bons exemplos. Há outros que, mesmo precisando formá-las, não conseguiram. Quando tentaram, encrencaram-se: Fernando Collor, Jânio Quadros e Carlos Lacerda. A linha que separa os dois grupos foi
traçada pelo Padre Eterno quando
deu a uns o gosto pela bonomia e aos
outros o apetite pelo rancor.
Lula fez uma prodigiosa carreira
sem coligar-se com ninguém. Durante alguns anos, preservou-se cultivando um radicalismo isolacionista. A idéia de coalizão é estranha ao
seu pensamento e ao seu método.
Basta lembrar que agora ele está
costurando o avesso do casaco que
rasgou em 2003. Foi dele a idéia de
detonar a aliança com o PMDB,
montada pelo comissário José Dirceu. Foi dele a idéia de encostar seu
governo no PTB de Roberto Jefferson e no PL de Valdemar Costa Neto. Foi dele o projeto da aliança que
acabou no mensalão. O comissário
Dirceu carregará pelo tempo afora
uma cruz que, no mínimo, não concebeu.
Lula reinventa a coalizão com a
turma que enxotou em 2003 e, envolto numa toga romana, diz que
não quer o PTB e o PL no conselho
político de seu novo governo. Prefere manter distância dos companheiros Jefferson e Costa Neto. Ao mesmo tempo, quer os votos de suas
bancadas. Como ele próprio diz, política se faz com o que a gente tem.
O embuste da coalizão de Lula padece também da falta de idéias. Ganha uma viagem a Cuba quem disser
o que une esse bloco, salvo a vontade
de brincar o Carnaval. Ganha duas
quem souber o que une o PMDB.
Engana-se quem acredita que,
diante desse balcão, o PSDB está disposto a gramar quatro anos no tom
que usou contra o governo a partir
de 2005. Algum dia, quando o primeiro mandato de Lula for estudado
por dentro, vai-se descobrir que, até
a implosão do mensalão, os tucanos
foram aliados muito mais fiéis (e
menos constrangedores) que os
próprios petistas. O tucanato não está em crise por conta de uma hipotética dificuldade para vocalizar seu
projeto oposicionista. Sua crise é a
de quem não quer fazer oposição.
No mundo dos seus sonhos, ele faz
figurações em público e amassa pizzas nos bastidores.
Certa vez disseram ao presidente
Castello Branco que se estava formando uma coligação contra "o inimigo comum". O marechal perguntou quem era esse inimigo e disseram-lhe que era ele. "Eu não. É o Erário."
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