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PF obtém dados sigilosos de site para Abin investigar servidores
Informações foram usadas em sindicância contra dois funcionários que criticavam a gestão Lacerda
Um dos acusados entrou na Justiça para não ser punido, mas juíza negou o pedido; para deputado que preside CPI, criticar chefe não é crime
Lula Marques - 09.nov.08/Folha Imagem
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O diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, e o diretor afastado da Abin, Paulo Lacerda, em Brasília
HUDSON CORRÊA
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para descobrir a identidade
de servidores que fizeram críticas à instituição na internet, a
Abin (Agência Brasileira de Inteligência) recorreu à Polícia
Federal para obter dados sigilosos de usuários de um fórum
virtual de debates e os repassou
à agência.
Sem autorização judicial, a
PF pediu ao portal CorreioWeb
- mantido pela S.A. Correio
Braziliense, que edita o jornal
"Correio Braziliense"- dados
que revelaram as identidades
de internautas que se identificaram apenas por apelidos.
Mesmo depois de reconhecer
"não ter visto qualquer indício
de crime" nas mensagens, a PF
enviou as informações à Abin,
que abriu processo disciplinar
interno contra dois agentes,
ameaçados de demissão.
Em documento confidencial,
obtido pela Folha, a Abin revela que procurou a PF porque o
cadastro de usuários no site era
sigiloso, e só poderia ser obtido
por autoridade policial. A PF e
a Abin negam a quebra ilegal do
sigilo dos internautas no caso.
Os autores das críticas à gestão da Abin usavam na internet
codinomes como "pindaíba",
"desvendando", "agente sofre-dor", "arapongamandraque" e
"james bondcama". As mensagens podiam ser vistas por
qualquer internauta, mas as
identidades eram preservadas.
Após desconfiar de seus funcionários, a Abin acionou a PF,
que pediu os dados à empresa
de comunicação. Em maio de
2007, a S.A. Correio Braziliense forneceu ao delegado Disney
Rosseti uma lista de 11 participantes, com nome completo,
CPF e e-mails declarados por
eles em um cadastro prévio. A
empresa também informou o
endereço IP (protocolo de internet) dos internautas, o que
permite identificar o computador usado para acessar o site.
Com base nos dados, repassados em novembro de 2007, o
diretor-geral afastado da Abin,
Paulo Lacerda, abriu em julho
deste ano processo administrativo disciplinar contra os servidores Weber Ferreira Junqueira de Barros Junior e Iracema
da Rocha Costa e Silva.
No despacho, Lacerda diz
que, se valendo de "pseudônimos", "registros falsos" e CPFs
"de terceiros", eles emitiram
"opiniões desrespeitosas,
agressivas e de desapreço à hierarquia funcional e à imagem
da Abin" durante dois meses.
Este mês, Junior entrou com
um mandado de segurança na
Justiça Federal para tentar interromper o processo disciplinar. Ele alega que os dados foram obtidos de forma ilegal.
Na última terça-feira, a juíza
Maria Cecília de Marco Rocha
decidiu que "não há como, por
ora, dizer que as provas colhidas na sindicância são oriundas
de "devassa ilegal'". Ela argumenta que o site informa que
os dados podem ser obtidos pela polícia se usuários "se tornarem alvos de investigação".
A denúncia chegou à CPI dos
Grampos. "Esse episódio é a
síntese do Estado policial. Usa-se o aparato policial para apurar que crime? Uma infração
administrativa, uma crítica ao
chefe? Isso não é crime", disse
o presidente da CPI, Marcelo
Itagiba (PMDB-RJ). Para o
presidente da OAB, Cezar Britto, o caso revela traços de autoritarismo. "Esse meio de comunicação tem um papel importante na democratização das
informações. Censurá-lo é um
precedente perigoso".
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