CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

O governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), candidato assumido à presidência da República, vem modificando ao longo das últimas semanas o discurso sobre suas realizações no primeiro ano de governo e ficando cada vez mais distante do que começou a ser apregoado em anúncios na TV veiculados a partir de 16 de dezembro.
Os comerciais veiculados, no formato que ficaram no ar até o último dia 4 de janeiro, sustentavam que em 1999 Garotinho havia, entre outras realizações, construído 5.000 casas, reformado 79 Cieps (Centros Integrados de Educação Pública), contratado 6.000 professores e investido R$ 60 milhões em segurança pública.
A checagem dos números não confirmou nenhum dos dados. De acordo com dados da Cehab-RJ (Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro), foram efetivamente construídas no Estado 6.074 casas populares em 99, mas o governo estadual arcou com apenas R$ 14 milhões dos R$ 101 milhões utilizados nas obras.
Os outros R$ 87 milhões foram financiamentos da CEF (Caixa Econômica Federal) a projetos coordenados pelo Estado. Mas essa parceria com o governo federal só passou a ser mencionada em um segundo momento.
A Folha constatou que várias das 79 unidades do Cieps dados como reformados no ano passado ainda estavam em reforma neste mês.
No Ciep "Aarão Steinbruch", em Duque de Caxias (Baixada Fluminense), embora as grades e alambrados estivessem enferrujados, as paredes sujas e o capim tomando conta do pátio, não havia sinais de que a reforma já feita na infra-estrutura prosseguiria.
Em uma reaparição dos anúncios televisivos, iniciada no dia 14 de janeiro e encerrada no dia 24, o governador do Rio dizia que os 79 Cieps estavam sendo reformados.
Ainda na área de educação, o governador do Rio sustenta até agora que contratou 6.000 professores, mas dados fornecidos pela Secretaria de Educação do Estado na segunda semana de janeiro davam conta de apenas 4.250 professores já contratados e 450 ainda sendo chamados.

Segurança
Em novembro do ano passado, Garotinho havia dito que disponibilizara R$ 60 milhões para investimentos em segurança pública em 99 e que até aquele momento haviam sido investidos R$ 42 milhões.
Nos seus anúncios, o governador passou a sustentar que gastara o total disponibilizado.
A Folha cobrou insistentemente à Secretaria de Segurança do Estado, sem sucesso, detalhamento sobre a aplicação dos recursos na segurança.
Finalmente, no dia 20 deste mês, o governador assumiu que os investimentos somaram apenas R$ 35 milhões, menos do que ele havia dito que já gastara em novembro.

Rodovias
Na área de rodovias, um balanço fornecido à Folha pela assessoria do governador informava que haviam sido construídos 250 km e reformados outros 250 km em 1999.
A um pedido de detalhamento, o DER-RJ (Departamento de Estradas de Rodagem do Rio de Janeiro) informou que o total asfaltado ou construído no ano passado foi 274,41 km, mas foram somados neste total cerca de 68 km de ruas em bairros populares e conjuntos habitacionais.

Mudança de discurso
Em uma prestação de contas feita na semana passada, durante o lançamento do orçamento participativo do Estado, Garotinho voltou a afirmar que já contratou seis mil professores, "bolsistas e contratados", mas mudou o discurso em vários outros pontos.
O governador disse que "entregou" 6.074 casas, realçando o papel financiador da CEF, e falou em 254 km de estradas asfaltadas, além de reafirmar os R$ 35 milhões aplicados em segurança pública.


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