LUCIO VAZ
enviado especial a Curitiba

O ministro Rafael Greca (Esporte e Turismo) apropriou-se do nome do principal projeto da sua administração como prefeito de Curitiba (1993-96). O Instituto Farol do Saber é hoje o seu escritório político e o símbolo do seu marketing político.
A prefeitura investiu US$ 4 milhões no projeto Farol do Saber, que resultou na construção de 50 bibliotecas públicas.
Ao deixar a prefeitura, Greca criou uma entidade civil de direito privado com o mesmo nome. Trata-se de uma editora e consultoria de planejamento urbanístico. Já prestou serviços para prefeituras como a de Joinville (SC).
A mulher de Greca, Margarita Sansone, é ao mesmo tempo a presidente da Fundação Cultural de Curitiba, órgão da prefeitura, e presidente do Instituto Farol de Saber. Nomeada pelo prefeito Cassio Taniguchi (do PFL de Greca), recebe da prefeitura um salário de R$ 5.600.
O Ministério do Esporte e do Turismo repassou R$ 600 mil para a Fundação Cultural no ano passado. O convênio foi firmado com a Prefeitura de Curitiba e executado pela fundação, que é também uma das prestadoras de serviço para o Comitê Executivo do 5º Centenário do Brasil, integrado pelo ministro.
Ela afirmou que vai ao escritório fora dos horários de expediente da fundação.
Greca afirmou à Folha que, eventualmente, já utilizou o escritório do Instituto Farol do Saber para preparar, gratuitamente, projetos para o Ministério do Esporte e do Turismo. Foi auxiliado nesta tarefa por sua secretária-executiva, Teresa Castro, que também tem casa em Curitiba.
"Faço isso nos finais de semana, nas minhas horas de folga. O escritório é o meu ponto em Curitiba", disse o ministro.
O Ministério Público investiga se a entidade teria recebido colaborações de bingueiros para a campanha eleitoral de Greca. Os procuradores têm em mãos um cartão de visita do instituto preenchido por Teresa Castro.
Greca disse que não tem qualquer vínculo jurídico com o instituto desde que se candidatou a deputado federal em 1998. Mas mostrou um cartão do instituto com o seu nome impresso e o endereço do instituto.
O Ministério Público investiga um suposto envolvimento do ministro com a máfia que controla os bingos no país. Greca nega qualquer envolvimento e afirma que está tentando aprovar um projeto de lei que destina R$ 40 milhões à fiscalização dos bingos.
"Se esse projeto não for aprovado, vou propor ao presidente a extinção dos bingos. Vamos, então, encontrar outra forma de financiar o esporte", afirmou.
Greca contesta a afirmação de que teria se apropriado do nome Farol do Saber. "Não posso me apropriar de algo que criei. O projeto do farol está registrado no Crea em meu nome. A propriedade intelectual é minha. Foi construído pela prefeitura, mas idealizado por mim", afirmou.
O ministro disse que o instituto não tem fins lucrativos e visa a transferência de tecnologia e de idéias para cidades e instituições do mundo todo. Segundo ele, os serviços prestados a prefeituras foram gratuitos.
Afirmou que os seus cartões sociais, convites e cartas levam o endereço do instituto para não se servir do ministério em correspondências privadas.
"O procurador vai levar um susto quando vir as minhas contas bancárias. Vai ficar desmoralizado", disse Greca, que apresentou uma declaração de bens no valor total de R$ 267 mil.


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