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CONGRESSO
Maioria dos parlamentares integra o chamado "baixo clero"; congressistas alegam que salários são insuficientes
18 deputados emitiram cheques sem fundos
WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na República, ninguém emite
mais cheques sem fundos do que
deputados federais. No último dia
18, a "lista negra" do Banco Central, que guarda os nomes de
quem tem pendências nas agências bancárias do país, flagrava 18
deputados com 153 cheques emitidos sem o devido saldo.
Entre senadores, ministros de
Estado e ministros de tribunais
superiores não houve nem sequer
um registro de cheques sem fundos em suas contas correntes naquele dia, segundo levantamento
feito pela Folha sobre dados bancários de 692 autoridades brasilienses.
As informações foram obtidas
no site Decidir.com (www.decidir.com.br), que divulga na Internet dados comerciais e bancários
sobre consumidores e correntistas de todo o país -o que é irregular, segundo as regras do BC.
A maioria dos deputados federais flagrados integra o chamado
"baixo clero", como ficaram conhecidos os parlamentares de pequena expressão, que em geral
apenas seguem as orientações dos
líderes partidários.
Até mesmo o maior expoente
desse grupo, o deputado federal
Severino Cavalcanti (PPB-PE),
candidato à presidência da Câmara, aparece na "lista negra", com
cinco cheques devolvidos pela
agência do Banco do Brasil instalada no prédio dos gabinetes de
deputados. Em média, cada um
tem valor de R$ 4.000.
"Eu fui traído por uma pessoa
que depositou o cheque antes do
prazo e desestabilizou minha
conta", justifica Cavalcanti, que já
pagou os cheques e agora aguarda
que o Banco do Brasil retire seu
nome da lista. "Isso para mim é
um negócio terrível. Acaba comigo", disse o deputado, referindo-se à sua candidatura.
Além de candidato, Cavalcanti
também é o corregedor-geral da
Câmara, a quem compete investigar e denunciar parlamentares
por quebra de decoro.
Mas, nesse caso, afirma que não
há falta de compostura. "Isso
acontece acidentalmente. Só valeria denunciar se houvesse alguém
prejudicado", disse o corregedor.
Se fosse processar algum colega
da "lista negra" do BC, Cavalcanti
teria que começar pelo deputado
Pedro Canedo (PSDB-GO), o recordista de cheques sem fundos,
com 41 registros.
Desde 22 de abril de 1996, portanto há mais de quatro anos,
existem 11 cheques sem fundos na
agência 0005 da CEF (Caixa Econômica Federal).
E, desde o último dia 10 de janeiro, outros 30 cheques foram registrados na agência 2223 da Caixa,
instalada nas dependências da
Câmara dos Deputados.
"Isso é coisa de quem vive no
baixo clero, capengando", afirma
o deputado João Caldas (PL-AL),
ao explicar o motivo de ter três
cheques sem fundos no BB.
"Para atender os amigos, a gente tem que fazer o que não pode,
um sacrifício. Tem muito pedido
de matrícula, de pagamento de
IPTU atrasado, de consórcio. E eu
vou ajudando", explica o deputado, que aponta o salário baixo como razão dos calotes.
O salário dos deputados é de R$
8.000, e alguns deles têm limites
de cheque especial que superam
os R$ 20 mil. Juntando tudo, dá
mais de 180 vezes o salário mínimo em vigor, de R$ 151.
Dinheiro insuficiente para atender a todas as demandas da vida
parlamentar, segundo a experiência do deputado Aníbal Gomes
(PMDB-CE), que tem cinco cheques pendentes na Caixa Econômica Federal, há um mês.
"Eu custeei a corrida de uns 18
prefeitos aqui no Ceará, dos quais
13 foram eleitos", justificou o deputado, logo esclarecendo: "Não
(eram cheques altos), eram de R$
20 mil, R$ 30 mil".
As informações sobre os cheques sem fundos também ajudam
a derrubar um mito: de que todos
os deputados têm privilégios no
Banco do Brasil. Todos, certamente não.
Dos 18 deputados flagrados na
"lista negra" do Banco Central, 11
foram colocados ali pelo gerente
da agência 3596 do Banco do Brasil, que fica no prédio dos gabinetes parlamentares.
"Aqui, a regra vale para qualquer correntista, seja ele deputado ou um cliente normal", afirma
Luciano Moreira, gerente da
agência do Banco do Brasil há um
ano e meio. "E o nome só sai da
lista depois que pagar todos os
cheques e as taxas, tudo dentro
das regras", diz Moreira.
Além do pouco prestígio e das
pendências bancárias, outro dado
une esse grupo de deputados federais. A maioria deles tem mais
cheques sem fundos registrados
no Banco Central que projetos
apresentados em 1999, último dado disponível na Câmara.
Canedo, por exemplo, tem dois
projetos e 41 cheques sem fundos.
Carlos Batata tem um projeto e 28
cheques sem fundos. Ao todo, 13
dos 18 deputados citados na lista
têm mais cheques pendentes que
projetos apresentados. Textos
aprovados, nenhum deles teve.
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