São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2001

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Cidades devem ter polícias próprias, diz antropólogo

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O antropólogo e especialista em segurança pública Luiz Eduardo Soares defendeu ontem que grandes cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro, tenham polícias próprias.
Soares, que foi subsecretário da Segurança e coordenador de Defesa Civil e Cidadania do Rio, disse que a "desconstitucionalização" do assunto é a melhor saída para o país. Ele reivindicou "maior flexibilidade jurídica" para o gerenciamento do setor.
"Os Estados têm de ser responsáveis pela decisão, porque há situações completamente diferentes. O Acre e o Amapá são diferentes do Rio Grande do Sul, que, por sua vez, é diferente do Rio e de São Paulo. Como imaginar um modelo único para realidades tão distintas?"
Soares disse ser contra polícias municipais em cidades com menos de 200 mil habitantes, a fim de evitar o surgimento de "milícias comandadas por coronéis, a serviço das elites".
Um dos palestrantes do Fórum Social Mundial, o antropólogo afirmou, em entrevista, que a área da segurança carece de mudanças, até para que haja "pluralidade e multiplicidade de experiências".
A partir de março, Soares prestará consultoria, até dezembro, à Prefeitura de Porto Alegre. Ele saiu do governo de Anthony Garotinho (ex-PDT, atual PSB) após atritos com a cúpula policial do Rio -ele foi uma das autoridades que defendeu a investigação sobre a chamada "banda podre" da polícia fluminense.
Ele disse que os partidos de esquerda estão derrubando um "tabu" ao darem atenção ao tema. Durante os 11 meses em que Soares esteve no governo do Rio, a polícia detectou a existência de mais de 20 aeroportos clandestinos, que provavelmente serviriam ao tráfico de armas. O ex-subsecretário disse não saber as ações posteriores.
Ele ressaltou que as armas são um "problema crucial". Das ilegais, 20% são armas pesadas e originárias de importação irregular. O restante são armas leves (revólveres e pistolas), nacionais, são contrabandeadas do Paraguai. De acordo com Soares, as indústrias de armas desenvolvem um "poderoso lobby" no Congresso.
Peter Marcuse, professor de planejamento urbano da Universidade de Columbia (EUA), que participou com Soares da conferência "Como construir cidades sustentáveis", criticou a "tolerância zero" da política de segurança pública em Nova York.
Segundo ele, na verdade, não existe tolerância com situações que "atrapalham os executivos e os turistas", como mendigar ou dormir à porta de uma igreja, vistas como crime.
"No entanto, a polícia ignora crimes registrados na periferia, nos guetos", disse Marcuse, filho do legendário filósofo germano-americano Herbert Marcuse (1898-1979), teórico da Escola de Frankfurt e um dos inspiradores da chamada ""Nova Esquerda", nos anos 60.


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