São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES-2002

Pelo celular, presidente pede a senador que trabalhe por tucano em Alagoas

Serra vive dublê de ministro e candidato com aval de FHC

RAYMUNDO COSTA
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

Fernando Henrique Cardoso alcançou o senador Teotonio Vilela Filho (PSDB-AL) às 10h de ontem no café do hotel Ritz, na orla marítima de Maceió. Queria cumprimentá-lo por seu 51º aniversário. Teo, como é chamado, contou que aguardava pelo ministro José Serra (Saúde) para uma maratona de viagens pelo interior que se estenderia até o final da tarde.
"Estou trabalhando pela pátria", disse. "Trabalhe pela pátria e pelo Serra", respondeu FHC. "É a mesma coisa", completou Teo, antes de desligar o celular.
Assim começou mais um dia do tucano Serra, uma rotina desde que ele se lançou para a Presidência, no dia 17 passado. Com uma diferença: desapareceu a tênue linha divisória que separava os atos oficiais do ministro da Saúde dos atos do ministro em campanha.
Já no primeiro compromisso do dia, a assinatura de um protocolo de cooperação com o governo de Alagoas para a criação de um centro de oncologia, o ministro foi recebido com a faixa "PSDB-AL saúda Serra presidente em 2002".
No seu discurso, disse que gostaria de contar com o apoio do governador Ronaldo Lessa, embora soubesse que ele deveria apoiar o candidato de seu partido, o PSB (Anthony Garotinho). Lessa retribuiu: elogiou Serra pela atenção a Alagoas e o chamou inadvertidamente de "presidente". Mas logo emendou: "Se o Garotinho souber, levo uma surra".
Serra diz que ainda não está propriamente em campanha. "É só um aquecimento." O aquecimento, na semana, praticamente o tirou de seu gabinete em Brasília: anteontem esteve em Recife e Passira (PE), ontem em Maceió, Boca da Mata, Santana do Ipanema e Porto Real do Colégio, na Zona da Mata e no sertão alagoanos. Hoje estará em Sinop (MT).
Reclamou que a imprensa não deu bola à meta que ele anunciou de reduzir a mortalidade infantil. "O que perguntam é se vou jantar com a Roseana [Sarney", se o Itamar [Franco" será vice, se convidou o Jarbas [Vasconcelos"."
A propósito, a conversa com Roseana está congelada. Jarbas (PE) ainda tem dúvida se aceita compor a chapa com Serra. Sua reeleição é considerada garantida.
Serra já optou pelo PMDB, mas não larga o discurso da unidade. Diz que é sua intenção "reproduzir a aliança que governa o Brasil". Segundo o tucano, governos com minoria "acabam naufragando". "Vide o que aconteceu na Argentina e no governo [Fernando" Collor." Renan Calheiros (PMDB), que acompanhou o ministro, deve compor com Teo para montar o palanque no Estado.

Cascalho
Serra, Teo, Renan, o deputado José Thomás Nonô (PFL) e comitiva seguiram para Boca da Mata (70 km de Maceió) em três helicópteros. Um deles alugado pelo governo estadual. Na véspera, caçambas da prefeitura descarregaram cascalho na estrada de terra que leva ao povoado de Ouro Branco para deixá-la transitável.
Sob calor de quase 40C, ganhou de presente uma garrafa de cachaça "Serra Grande". Mais uma faixa: "Bem-vindo futuro presidente". Uma banda executou "Another brick in the wall", do Pink Floyd, cuja tradução quer dizer "um outro tijolo na parede".
Na saída de Ouro Branco, onde o ministério financia obras de saneamento, um escudo do Palmeiras, time do ministro, na parede de uma casa, levou Serra a interromper a viagem. Coincidência ou não, a dona da casa, Doraci dos Santos, é atendida pelo programa de assistência familiar. "Diabético precisa fazer regime", recomendou o dr. Serra, personagem usual das viagens do ministro-candidato. Serra despediu-se sem saber se ganhara um voto. Mas convencido de que botara um outro tijolo na parede.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: De olho em Serra, PMDB quer esvaziar prévia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.