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ELEIÇÕES-2002
Pelo celular, presidente pede a senador que trabalhe por tucano em Alagoas
Serra vive dublê de ministro
e candidato com aval de FHC
RAYMUNDO COSTA
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ
Fernando Henrique Cardoso alcançou o senador Teotonio Vilela
Filho (PSDB-AL) às 10h de ontem
no café do hotel Ritz, na orla marítima de Maceió. Queria cumprimentá-lo por seu 51º aniversário.
Teo, como é chamado, contou
que aguardava pelo ministro José
Serra (Saúde) para uma maratona
de viagens pelo interior que se estenderia até o final da tarde.
"Estou trabalhando pela pátria", disse. "Trabalhe pela pátria
e pelo Serra", respondeu FHC. "É
a mesma coisa", completou Teo,
antes de desligar o celular.
Assim começou mais um dia do
tucano Serra, uma rotina desde
que ele se lançou para a Presidência, no dia 17 passado. Com uma
diferença: desapareceu a tênue linha divisória que separava os atos
oficiais do ministro da Saúde dos
atos do ministro em campanha.
Já no primeiro compromisso do
dia, a assinatura de um protocolo
de cooperação com o governo de
Alagoas para a criação de um centro de oncologia, o ministro foi recebido com a faixa "PSDB-AL
saúda Serra presidente em 2002".
No seu discurso, disse que gostaria de contar com o apoio do governador Ronaldo Lessa, embora
soubesse que ele deveria apoiar o
candidato de seu partido, o PSB
(Anthony Garotinho). Lessa retribuiu: elogiou Serra pela atenção a
Alagoas e o chamou inadvertidamente de "presidente". Mas logo
emendou: "Se o Garotinho souber, levo uma surra".
Serra diz que ainda não está
propriamente em campanha. "É
só um aquecimento." O aquecimento, na semana, praticamente
o tirou de seu gabinete em Brasília: anteontem esteve em Recife e
Passira (PE), ontem em Maceió,
Boca da Mata, Santana do Ipanema e Porto Real do Colégio, na
Zona da Mata e no sertão alagoanos. Hoje estará em Sinop (MT).
Reclamou que a imprensa não
deu bola à meta que ele anunciou
de reduzir a mortalidade infantil.
"O que perguntam é se vou jantar
com a Roseana [Sarney", se o Itamar [Franco" será vice, se convidou o Jarbas [Vasconcelos"."
A propósito, a conversa com
Roseana está congelada. Jarbas
(PE) ainda tem dúvida se aceita
compor a chapa com Serra. Sua
reeleição é considerada garantida.
Serra já optou pelo PMDB, mas
não larga o discurso da unidade.
Diz que é sua intenção "reproduzir a aliança que governa o Brasil".
Segundo o tucano, governos com
minoria "acabam naufragando".
"Vide o que aconteceu na Argentina e no governo [Fernando" Collor." Renan Calheiros (PMDB),
que acompanhou o ministro, deve compor com Teo para montar
o palanque no Estado.
Cascalho
Serra, Teo, Renan, o deputado
José Thomás Nonô (PFL) e comitiva seguiram para Boca da Mata
(70 km de Maceió) em três helicópteros. Um deles alugado pelo
governo estadual. Na véspera, caçambas da prefeitura descarregaram cascalho na estrada de terra
que leva ao povoado de Ouro
Branco para deixá-la transitável.
Sob calor de quase 40C, ganhou de presente uma garrafa de
cachaça "Serra Grande". Mais
uma faixa: "Bem-vindo futuro
presidente". Uma banda executou "Another brick in the wall",
do Pink Floyd, cuja tradução quer
dizer "um outro tijolo na parede".
Na saída de Ouro Branco, onde
o ministério financia obras de saneamento, um escudo do Palmeiras, time do ministro, na parede
de uma casa, levou Serra a interromper a viagem. Coincidência
ou não, a dona da casa, Doraci dos
Santos, é atendida pelo programa
de assistência familiar. "Diabético
precisa fazer regime", recomendou o dr. Serra, personagem usual
das viagens do ministro-candidato. Serra despediu-se sem saber se
ganhara um voto. Mas convencido de que botara um outro tijolo
na parede.
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