São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005
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DAVOS - DEBATE GLOBAL - PORTO ALEGRE Manuel Castells e Gilberto Gil defendem "espírito hacker" no fórum Sociólogo defende "caos e progresso" como lema do país
FLÁVIA MARREIRO ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE Parafraseando o lema da bandeira brasileira, o sociólogo catalão Manuel Castells defendeu "Caos e progresso" como caminho para o desenvolvimento tecnológico do Brasil e do mundo. Ao lado dele, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, repetiu uma de suas frases mais polêmicas, uma profissão de fé pela liberdade digital: "Sou ministro, sou músico, sou um hacker em espírito e vontade". O ministro fez uma "convocação global" em nome do software livre (o uso de programas de computador sem o pagamento de licenças) e da "justiça digital", ao lado da convocação do governo Lula contra a fome : "Temas uma agenda do século 19 para nos livrar, uma agenda do século 20 para nos livrar e uma do século 21 para implementar. Não basta o governo Lula promover a luta contra a fome. Temos de fazer tudo ao mesmo tempo". Latifúndio moderno Castells, autor de "A Sociedade em Rede", pregou a difusão do conhecimento pela internet contra o que chamou de "latifundiários da era da informação", que caminham na contramão do espírito que criou a rede internacional de computadores: "Toda vez que se cria um ambiente pago, os usuários inventam uma nova maneira livre de participar". O sociólogo, como Gil, defendeu a "ética hacker", desligado do conceito de violação e fraude, mas como explosão criativa e produção de tecnologia. "Sob pretexto do terrorismo e da pornografia infantil", diz Castells, procura-se impor regras e limites para a força criativa da internet. "Não é uma questão tecnológica, é uma questão política. Há uma convergência entre os pobres e os criadores e produtores de cultura e tecnologia." Gil defendeu a discussão tecnológica como a mais atual e importante do Fórum Social Mundial: "Aquilo que me parece mais contemporâneo e inovador está aqui. Entre o analógico e o digital, entre a foice e o martelo, nos fluxos virtuais", completou. Com Castells e Gil, estava Lawrence Lessig, do movimento norte-americano por novas e democráticas formas de direito autoral "coletivo", o "Creative commons". Para defender o potencial criativo dos samplers e colagens da rede, divertiu a platéia com a exibição de um clipe com o presidente americano, George W. Bush, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair -, em montagem dessas que circulam aos montes-, interpretando um dueto romântico. O espírito do fórum: na sala que discutia a vanguarda das novas tecnologias, problemas com a tradução simultânea. "Don't worry, be happy" disse o mediador da mesa. A palestra de Castells ainda foi interrompida pela "invasão sonora" da palestra vizinha, realizada no galpão contínuo. "Podemos fazer uma cooperativa", brincou o catalão. Gates e Lula Logo na abertura da mesa "Revolução digital: software livre, liberdade do conhecimento e liberdade de expressão na sociedade da informação", o mediador, Cláudio Prado, o coordenador de Políticas Digitais do Ministério da Cultura, fez questão de "traduzir" o rápido encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Bill Gates, em Davos, na Suíça: "Ele [Gates] tentou, tentou e conseguiu sair numa foto com o presidente Lula". O governo brasileiro tem defendido a difusão e o uso do software livre, tema que afeta diretamente o dono da Microsoft. "Lula com Gates em Davos não pode enfraquecer essa luta?". Perguntado, Gilberto Gil respondeu: "Quem está na chuva é para se molhar. Está na hora de deixarmos de lado esses temores". Antes, afirmou que só a "correlação de forças" pode determinar o resultado da implementação do software livre e direito de propriedade. "Isso começou no governo passado, quando Serra fez uma mudança radical em relação aos fármacos, e continua neste", disse o ministro repetindo o elogio ao prefeito de São Paulo pela implementação dos genéricos. Texto Anterior: Escritor português critica utopia e pede revisão conceitual da esquerda Próximo Texto: Frases Índice |
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