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TERRA SEM LEI/OUTRO LADO
Delegados reconhecem dificuldades para o trabalho e dizem ser necessário banco de dados nacional
Polícia pede força-tarefa e ajuda do Exército
DO ENVIADO ESPECIAL AO SUL DO PARÁ
Os delegados da Polícia Civil
mais graduados no sul e no sudeste do Pará apóiam a idéia da criação de uma força-tarefa da Polícia
Federal, com apoio da Polícia Civil e até do serviço de inteligência
do Exército, para localizar e prender os acusados de crimes de pistolagem que têm contra si mandados de prisão decretados pela
Justiça paraense.
Os superintendentes da Polícia
Civil nas duas regiões, Hélcio
Dantas (sudeste), 51, e Luiz Antonio Ferreira (sul), 34, respondem
por 36 municípios, com população estimada em 1 milhão de habitantes. No entanto, apenas 20
dessas cidades têm uma delegacia
de Polícia Civil -as outras são
atendidas por destacamentos da
Polícia Militar. Essas 14 cidades
sem delegados também não têm
juízes de Direito.
Os delegados reconhecem que
não há um banco de dados atualizado sobre mandados de prisão
que aguardam cumprimento. A
única delegacia especializada em
capturas funciona em Belém
(PA). A superintendência do sul,
localizada em Redenção (PA), fica
a cerca de 1.000 km de Belém.
Sem um controle dos mandados, Dantas e Ferreira não sabem
dizer nem mesmo o número de
ordens de prisão a serem cumpridas, porque muitas já não têm valor jurídico.
"Não tenho condições de dizer
se são cem, 200 ou 300 mandados
[ativos]", disse Dantas.
Os mandados perdem a validade ou porque houve uma nova
decisão judicial ou porque já foram cumpridos em outro lugar e a
medida acabou não sendo informada à Polícia Civil da região.
"É necessário um banco de dados nacional, atualizado, com
acesso às fotografias das pessoas",
disse Dantas. O colega Ferreira
concorda: "Quem emite o mandado não é o delegado, é o juiz.
Deveria haver uma central nacional para onde o juiz poderia remeter cópia desses mandados".
Os dois delegados também concordam que a principal característica em prol de uma força-tarefa federal é a possibilidade de fazer buscas em vários Estados ao
mesmo tempo -o campo de
atuação da Polícia Civil é restrito
ao próprio Estado.
"Tem pistoleiros que vêm do
Nordeste, de Mato Grosso, do
Maranhão, matam e vão embora", disse Dantas. "O crime caminha no Brasil todo", diz Ferreira.
O delegado responsável pelo
policiamento no sul aponta um
outro papel que o Exército poderia exercer nas duas regiões: realizar um levantamento sobre a situação fundiária de toda a região.
Segundo ele, muitos dos conflitos no campo poderiam ser evitados se o poder público conseguisse definir com antecedência e sem
dúvidas a quem pertence a área,
quem tem o direito de ocupá-la.
Há muitas terras sem títulos ou
com títulos "podres", fajutos, o
que acaba tornando-as foco de
disputas entre os supostos donos
e trabalhadores rurais sem terra
que reivindicam as propriedades.
Segundo o delegado, o governo
federal deveria também fazer levantamentos rotineiros sobre a situação dos que estão na terra, checar sua documentação pessoal.
Para explicar o não-cumprimento dos mandados, os delegados também mencionam a geografia do Estado. "A área é muito
vasta, há muitas fazendas, muitas
áreas de mata, com estradas vicinais intransitáveis", disse Ferreira. Segundo ele, a situação tem
melhorado, o déficit de policiais
foi reduzido nos últimos dois
anos e os veículos usados policiais
estão em bom estado.
Procurado, o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), não foi
localizado para falar sobre o assunto. Segundo sua assessoria,
desde a última segunda-feira ele
está na França, para participar de
um evento cultural sobre as potencialidades econômicas do Brasil. A viagem deverá se estender
até o final desta semana.
A assessoria de comunicação da
Secretaria Especial de Defesa Social do Pará (equivalente à Secretaria de Segurança Pública em outros Estados) informou que o secretário, Manoel Santino, somente deverá se manifestar a respeito
da reportagem na segunda-feira.
A assessoria foi procurada na
quinta-feira e na sexta-feira. Na
quinta, o secretário estava em viagem a trabalho, No dia seguinte,
informou que só atenderia na segunda-feira, tendo sido informado sobre o teor da reportagem.
O juiz federal de Marabá, Francisco de Assis Garcês Castro Júnior, 36, que determinou a prisão
do líder do assentamento em Tucuruí (PA) Ademar Ribeiro de
Souza, afirmou que o detento responde a quatro processos relacionados aos protestos contra o Incra. O juiz reconheceu que Souza
havia pedido proteção da Polícia
Federal para depor, após ter sofrido um atentado a bala. Mas, segundo o magistrado, Souza foi
preso fora do assentamento, perto da sede do Incra em Marabá.
Para Castro Júnior, isso demonstraria que Souza poderia ter se ausentado do assentamento para
comparecer às audiências na Justiça Federal, se quisesse.
Segundo o advogado da CPT
(Comissão Pastoral da Terra), José Batista Gonçalves Afonso, 40,
defensor de Souza, ele só decidiu
sair do assentamento porque estava acompanhado de dezenas de
trabalhadores rurais que foram
participar de uma audiência no
Incra, em Marabá.
(RV)
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