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Mais dois ministros fizeram uso ilegal de cartão do governo
Pela 1ª vez, CGU investiga ministros por causa de despesas com cartão corporativo
Assim como Matilde Ribeiro,
Orlando Silva e Altemir
Gregolin utilizam dinheiro
do governo de maneira não
prevista pela legislação
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A exemplo da ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial),
os ministros Orlando Silva (Esporte) e Altemir Gregolin (Pesca) também cometeram irregularidades ao usar o cartão de
crédito corporativo do governo
federal. Os dois fizeram compras em Brasília, uma delas em
uma tapiocaria. Nenhuma delas foi "emergencial", como diz
decreto governamental que regulamenta o uso do cartão.
Além dos gastos indevidos,
análise feita pela Folha nos extratos dos ministros revela
também despesas incompatíveis com suas agendas.
Os três estão sendo investigados pela CGU (Controladoria Geral da União). É a primeira vez que órgão investiga ministros por suspeitas de utilização irregular de cartões.
A ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) solicitou ao ministro Jorge Hage investigações
sobre os gastos de Matilde e
Gregolin com cartões corporativos. A solicitação ocorreu depois que os dois ministros pediram à chefe da Casa Civil que
fossem investigados. O procedimento é necessário porque
as duas pastas estão diretamente vinculadas à Presidência. Hage recebeu também, no
último dia 25, explicações de
Orlando Silva.
Por não haver precedentes
dessa natureza, a CGU ainda
não sabe informar a punição
possível para esses casos.
Segundo Hage, os ministros
Gregolin e Matilde o procuraram dias atrás dizendo que
iriam prestar esclarecimentos,
mas até ontem ainda não tinham enviado documentos.
Anteontem, a Comissão de Ética Pública pediu à CGU que investigue as compras de Matilde
em um free shop (R$ 461,16).
Orlando Silva usou o cartão
corporativo para fazer compras
em uma tapiocaria de Brasília,
em maio passado. Apesar do
valor (R$ 8,30), o gasto foi irregular, por contrariar as normas
de uso do cartão. Questionado,
ele apresentou o mesmo argumento de Matilde: a compra teria ocorrido por "engano" e o
dinheiro teria sido ressarcido.
A Folha tentou confirmar se
Matilde e Silva devolveram o
valor das compras ao Tesouro,
mas não obteve resposta.
Já Gregolin usou o cartão
corporativo em uma churrascaria em Brasília. O ministro
disse via assessoria que os R$
512,60 se referem a um almoço,
quando ele recebeu uma comitiva pesqueira da China.
O ministro Hage, da CGU,
afirmou à Folha que o gasto foi
ilegal. Por meio de sua assessoria, disse que a despesa não poderia ter sido realizada -apesar de declarar que ela seria
perfeitamente razoável, mas
que há uma lacuna normativa a
respeito. "Não há previsão na
lei para esse tipo de gasto." O
uso do cartão em Brasília, diz
ele, é restrito a pequenos gastos, como serviços de manutenção e material de escritório.
A Folha analisou os extratos
dos cartões de Matilde Ribeiro,
Altemir e Orlando, os três funcionários do primeiro escalão
do governo que mais gastaram
com cartão no último ano
-respectivamente R$ 171,5
mil, R$ 22,6 mil e R$ 20,1 mil. A
análise se refere exclusivamente a gastos com restaurantes.
Os três ministros, juntos, pagaram despesas no ano passado em 158 restaurantes, lanchonetes, bares ou choperias.
Figuram como estabelecimentos preferidos churrascarias,
restaurantes de comidas árabes e italianas, além de choperias.
A Folha enviou aos ministros três perguntas referentes a
cada gasto de 2007: "Qual a
agenda oficial do ministro no
dia? O almoço/jantar foi para
tratar de assunto oficial? Se foi
oficial, quem participou?".
As assessorias de Matilde e
Silva não quiseram responder
ponto a ponto. Disseram que as
agendas estavam na internet.
Já a assessoria de Gregolin relacionou os gastos à agenda.
Das 26 despesas de Silva com
restaurantes, há muitas com
churrascarias. Como mostrou a
Folha, ele gastou R$ 468,05
em um restaurante nos Jardins
quando não tinha evento na
agenda. Há ainda dois gastos
em São Paulo, no mesmo dia,
quando não havia atividade.
Gregolin vai com freqüência
a restaurantes italianos, principalmente em Santa Catarina,
seu Estado natal. Em Chapecó,
sua base política, estão registrados dez pagamentos.
Nos extratos de Gregolin
constam três despesas no Carnaval de 2007, que somam R$
222,85, em restaurantes do
Rio, todas na Quarta-Feira de
Cinzas. Uma delas no Porcão,
tradicional reduto VIP do Rio.
O ministro disse que trabalhou no Carnaval do Rio: foi à
Marquês de Sapucaí na companhia do ministro da Pesca da
Noruega, que assistia a um desfile cujo tema era o bacalhau.
Matilde também gastou no
Carnaval: R$ 83,60 no Rio, e R$
120,78 em Salvador. Os gastos
são do mesmo dia: 21 de fevereiro, Quarta-Feira de Cinzas.
A agenda de Matilde informa
que ela participou de eventos
nas duas cidades no Carnaval,
porém no dia do gasto não havia atividade prevista.
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