São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 2010

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É hora de reinventar o mundo, diz discurso de Lula em Davos

Celso Amorim representa o presidente na entrega do prêmio de "Estadista Global"

Presidente afirma que país "fez a sua parte" durante sua administração e pergunta se "o mundo, igual ao Brasil, também melhorou?"

Virginia Mayo/AP Photo
O chanceler Celso Amorim lê o discurso do presidente Lula na entrega do prêmio em Davos

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu, na voz do chanceler Celso Amorim, o prêmio de "Estadista Global" concedido pelo Fórum Econômico Mundial com uma proposta nada modesta: "É hora de reinventarmos o mundo e suas instituições". Todo o discurso assumiu o tom de louvação de seu governo e de crítica a todo o resto do mundo, daí a necessidade de reinventar o planeta.
Lula começou rejeitando a qualificação do Brasil como país da moda, como o presidente disse ter visto em publicações internacionais: "Permitam-me dizer que se trata de um termo simpático, porém inapropriado. O modismo é coisa fugaz, passageira. E o Brasil quer e será ator permanente no cenário do novo mundo".
Já na frase seguinte veio a primeira crítica ao mundo: "O Brasil não quer ser um destaque novo em um mundo velho. A voz brasileira quer proclamar, em alto e bom som, que é possível construir um mundo novo". A partir daí, entrou a lista de êxitos de seu governo, para o que usou o discurso que pronunciara no encontro anual do Fórum Davos em 2003, em seus primeiros dias de governo.
"Eu disse, aqui em Davos, que o Brasil iria trabalhar para reduzir as disparidades econômicas e sociais, aprofundar a democracia política, garantir as liberdades públicas e promover, ativamente, os direitos humanos. Iria, ao mesmo tempo, lutar para acabar sua dependência das instituições internacionais de crédito e buscar uma inserção mais ativa e soberana na comunidade das nações".
Fechou o raciocínio assim: "Sete anos depois, eu posso olhar nos olhos de cada um de vocês e, mais que isso, nos olhos do meu povo e dizer que o Brasil, mesmo com todas as dificuldades, fez a sua parte".
Dos seus sucessos, passou aos fracassos do mundo e uma estudada modéstia: "O que aconteceu com o mundo nos últimos sete anos? Podemos dizer que o mundo, igual ao Brasil, também melhorou?"
Veio então a listagem dos problemas globais: "Podemos dizer que, nos últimos sete anos, o mundo caminhou no rumo da diminuição das desigualdades, das guerras, dos conflitos, das tragédias e da pobreza? Podemos dizer que caminhou, mais vigorosamente, em direção a um modelo de respeito ao ser humano e ao meio ambiente? Podemos dizer que interrompeu a marcha da insensatez, que tantas vezes parece nos encaminhar para o abismo social, para o abismo ambiental, para o abismo político e para o abismo moral?".
Embora a resposta estivesse implícita em cada pergunta, Lula preferiu "imaginar a resposta sincera que sai do coração de cada um de vocês, porque sinto a mesma perplexidade e a mesma frustração com o mundo em que vivemos".
Até o terremoto do Haiti entrou na lista de fracassos, para não falar da crise financeira internacional: "Não vemos nenhum sinal, mais concreto, de que esta crise tenha servido para que repensássemos a ordem econômica mundial, seus métodos, sua pobre ética e seus processos anacrônicos".
Sobre o Haiti: "Quantos Haitis serão necessários para que deixemos de buscar remédios tardios e soluções improvisadas, ao calor do remorso?"
O corolário desse raciocínio só poderia mesmo ser a reinvenção do mundo, mas Lula foi parco nos detalhes: "O mundo tem que recuperar sua capacidade de criar e de sonhar". Fechou com mais retórica: "Precisamos de um novo papel para os governos. E digo que, paradoxalmente, este novo papel é o mais antigo deles: é a recuperação do papel de governar".
O auditório, quase vazio, aplaudiu, e Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, entregou o prêmio a Amorim.


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