|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Adversários políticos de hoje eram colegas na Poli-USP nos anos 50
Covas já votou em Maluf;
Maluf já votou em Covas
ROGÉRIO GENTILE
da Reportagem Local
Mário Covas e Paulo Maluf,
quem diria, nos tempos de escola chegaram a votar um no outro
para cargos de direção no centro
acadêmico.
O governador paulista e o
ex-prefeito de São Paulo foram
contemporâneos na USP. Formaram-se em engenharia civil
pela Escola Politécnica (Maluf
em 1954 e Covas, em 1955).
No dia 11 de novembro de
1953, por volta das 12h45, na sala
de cálculo, Covas indicou, votou
e ajudou a eleger Maluf para o
cargo de diretor
de relações externas do grêmio
politécnico.
Maluf, nesse
mesmo dia, votou em Covas para a diretoria de
esportes. Tudo
está registrado no
livro de atas do
grêmio.
Colegas de ambos dizem que, já naquela época, Covas e Maluf eram adversários. "Inegavelmente, tinham
posições políticas diversas", diz
Gabriel Chuery, contemporâneo dos dois. Covas era um crítico do governo Vargas. Liderava
greves na faculdade e era um ardoroso orador nas assembléias.
Maluf, considerado mais conservador, preferia atuar nos bastidores e defendia o governo.
Um episódio -talvez a primeira discussão pública dos
dois- sugere como cada um
pensava a atuação política.
Em 30 de agosto de 1954, discutia-se a realização de uma greve para forçar o Conselho Universitário a voltar a reconhecer o
grêmio como órgão representativo dos estudantes.
Covas defendia a greve com
entusiasmo. Maluf levantou-se e
pediu a palavra: "Se entrarmos
em greve provocaremos uma
certa ira nos conselheiros e então nos será mais difícil a concretização de nossos ideais".
Derrotas
O primeiro cargo de relevância
de Maluf na escola foi o de presidente da comissão organizadora
do trote, em 1951.
Sob a acusação de que o trote
naquele ano tinha sido violento,
Maluf respondeu no jornal da
escola, "O Politécnico": "Concluindo, (Maluf) disse que o trote consistiu unicamente no corte
de cabelos dos calouros, sendo
de seu desconhecimento qualquer atitude mais brusca que lhe
sugerimos ter observado", escreveu o redator.
Quando foi eleito para a diretoria de relações externas do
grêmio, Maluf vinha de duas
derrotas. Primeiro, tinha tentado ser presidente do grêmio, em
eleição direta. Perdeu para o
candidato Plácido Loriggio.
Depois, tentou ser vice-presidente, por eleição indireta (apenas os membros do grêmio e os
representantes de classe votaram). Perdeu novamente.
"Naquela época, assim como
hoje, havia uma turma grande
que não gostava dele. Sempre foi
assim: ou você adora o Maluf ou
o odeia", disse Cinéas Valente,
na época um dos melhores amigos do ex-prefeito.
Um dos alunos mais ricos da
faculdade, Paulo Maluf era tachado de ser arrogante por parte
de seus colegas.
A impressão era reforçada pelo fato de ele ser um dos poucos
que ia de automóvel para a faculdade -chegava com um
Chevrolet Belair amarelo.
Maluf também praticava equitação e usava um óculos com
três lentes que causavam a impressão de que sempre estava
olhando os outros "por cima".
"Ele era visto como filhinho
de papai. E sofria preconceito
por isso", diz Roberto Kurzweil,
amigo e até hoje malufista.
Já Covas era um esportista. Virou diretor de esportes por causa da fama que adquiriu com o
futebol. "Ele era um craque.
Meio-de-campo habilidoso, foi
capitão do time da escola", diz o
ator Carlos Zara, colega de Poli.
Na época, Covas
era mais
conhecido como
"Zuza".
O apelido
era tão difundido
que o hoje governador pediu para
que fosse colocado ao lado do
seu nome nas cédulas eleitorais
da escola.
Covas chegou a assinar artigos
para o jornal escolar com o apelido. Num texto, criticou a Poli.
"O desejo de formar-se engenheiro foi suplantado pela vontade superior, ditada pelas contingências do curso, de sair da
escola o mais rapidamente possível", escreveu.
Inaugurações
Maluf e Covas seguiram carreiras políticas e ocuparam os
principais cargos da administração de São Paulo.
Antigos colegas não se lembram de tê-los visto em uma
brincadeira comum na época:
"Nós roubávamos as placas de
inaugurações com nome de políticos e levávamos para o grêmio. Odiávamos que alguém divulgasse seu próprio nome ", diz
o engenheiro Antonio Basile.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|