São Paulo, sexta, 30 de janeiro de 1998

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Adversários políticos de hoje eram colegas na Poli-USP nos anos 50
Covas já votou em Maluf; Maluf já votou em Covas


ROGÉRIO GENTILE
da Reportagem Local

Mário Covas e Paulo Maluf, quem diria, nos tempos de escola chegaram a votar um no outro para cargos de direção no centro acadêmico.
O governador paulista e o ex-prefeito de São Paulo foram contemporâneos na USP. Formaram-se em engenharia civil pela Escola Politécnica (Maluf em 1954 e Covas, em 1955).
No dia 11 de novembro de 1953, por volta das 12h45, na sala de cálculo, Covas indicou, votou e ajudou a eleger Maluf para o cargo de diretor de relações externas do grêmio politécnico.
Maluf, nesse mesmo dia, votou em Covas para a diretoria de esportes. Tudo está registrado no livro de atas do grêmio.
Colegas de ambos dizem que, já naquela época, Covas e Maluf eram adversários. "Inegavelmente, tinham posições políticas diversas", diz Gabriel Chuery, contemporâneo dos dois. Covas era um crítico do governo Vargas. Liderava greves na faculdade e era um ardoroso orador nas assembléias.
Maluf, considerado mais conservador, preferia atuar nos bastidores e defendia o governo.
Um episódio -talvez a primeira discussão pública dos dois- sugere como cada um pensava a atuação política.
Em 30 de agosto de 1954, discutia-se a realização de uma greve para forçar o Conselho Universitário a voltar a reconhecer o grêmio como órgão representativo dos estudantes.
Covas defendia a greve com entusiasmo. Maluf levantou-se e pediu a palavra: "Se entrarmos em greve provocaremos uma certa ira nos conselheiros e então nos será mais difícil a concretização de nossos ideais".
Derrotas
O primeiro cargo de relevância de Maluf na escola foi o de presidente da comissão organizadora do trote, em 1951.
Sob a acusação de que o trote naquele ano tinha sido violento, Maluf respondeu no jornal da escola, "O Politécnico": "Concluindo, (Maluf) disse que o trote consistiu unicamente no corte de cabelos dos calouros, sendo de seu desconhecimento qualquer atitude mais brusca que lhe sugerimos ter observado", escreveu o redator.
Quando foi eleito para a diretoria de relações externas do grêmio, Maluf vinha de duas derrotas. Primeiro, tinha tentado ser presidente do grêmio, em eleição direta. Perdeu para o candidato Plácido Loriggio.
Depois, tentou ser vice-presidente, por eleição indireta (apenas os membros do grêmio e os representantes de classe votaram). Perdeu novamente.
"Naquela época, assim como hoje, havia uma turma grande que não gostava dele. Sempre foi assim: ou você adora o Maluf ou o odeia", disse Cinéas Valente, na época um dos melhores amigos do ex-prefeito.
Um dos alunos mais ricos da faculdade, Paulo Maluf era tachado de ser arrogante por parte de seus colegas.
A impressão era reforçada pelo fato de ele ser um dos poucos que ia de automóvel para a faculdade -chegava com um Chevrolet Belair amarelo.
Maluf também praticava equitação e usava um óculos com três lentes que causavam a impressão de que sempre estava olhando os outros "por cima".
"Ele era visto como filhinho de papai. E sofria preconceito por isso", diz Roberto Kurzweil, amigo e até hoje malufista.
Já Covas era um esportista. Virou diretor de esportes por causa da fama que adquiriu com o futebol. "Ele era um craque. Meio-de-campo habilidoso, foi capitão do time da escola", diz o ator Carlos Zara, colega de Poli.
Na época, Covas era mais conhecido como "Zuza". O apelido era tão difundido que o hoje governador pediu para que fosse colocado ao lado do seu nome nas cédulas eleitorais da escola.
Covas chegou a assinar artigos para o jornal escolar com o apelido. Num texto, criticou a Poli. "O desejo de formar-se engenheiro foi suplantado pela vontade superior, ditada pelas contingências do curso, de sair da escola o mais rapidamente possível", escreveu.
Inaugurações
Maluf e Covas seguiram carreiras políticas e ocuparam os principais cargos da administração de São Paulo.
Antigos colegas não se lembram de tê-los visto em uma brincadeira comum na época: "Nós roubávamos as placas de inaugurações com nome de políticos e levávamos para o grêmio. Odiávamos que alguém divulgasse seu próprio nome ", diz o engenheiro Antonio Basile.



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