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São Paulo, domingo, 30 de março de 2003

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OPERAÇÃO SOCIAL

De olho nos dividendos políticos dos projetos sociais, governadores imprimem sua marca no combate à fome

Estados lançam suas versões do Fome Zero

GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

De olho na divulgação maciça do Fome Zero e nos dividendos eleitorais que isso poderá render ao Partido dos Trabalhadores, os governadores dos Estados mais populosos do país saíram na frente e lançaram (ou relançaram) seus próprios programas de combate à fome.
É o caso de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os maiores colégios eleitorais do país. O mesmo ocorreu na Bahia, o Estado mais populoso do Nordeste, onde o governador Paulo Souto (PFL) já criou até um selo para o seu programa de combate à fome, batizado de Mais Vida. Em maio, em sua primeira fase de expansão, o Fome Zero chegará à Bahia e outros nove Estados- oito do Nordeste e Minas Gerais.
Quando o programa de erradicação à fome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegar à Bahia, encontrará a estrutura de Souto montada e, segundo o próprio governador, "já começando a funcionar da forma mais desburocratizada possível".
O governador de Alagoas (que também receberá o programa em maio), Ronaldo Lessa (PSB), decidirá na próxima semana se as ações estaduais de combate à fome terão uma marca única. Por enquanto, cada programa tem um nome.

Desencontros
Outro motivo que impulsiona os governadores a criarem marcas na área social é o fato de que, apesar da divulgação do Fome Zero, a gestão de Lula ainda patina na área social. Os desencontros do programa (e as críticas que vem sofrendo) são relatados diariamente nos jornais e TVs.
Ou seja, a maior visibilidade dos programas estaduais de combate à fome é válida nos dois cenários possíveis: no caso de o Fome Zero ser um sucesso e render dividendos eleitorais e ainda no caso de o programa se resumir a uma sucessão de erros gerenciais.
Assessores de Lula afirmaram que a corrida dos governadores para criar (ou divulgar melhor) seus programas de combate à fome estava sendo esperada. Só que eles imaginaram que isso ocorreria apenas nos Estados do Nordeste, o principal foco do programa. Mas a prática está disseminada em outras regiões.
Na avaliação de assessores de Lula, como o Fome Zero está sendo associado pela população ao PT e à figura do presidente, é natural que os governadores corram para criar suas próprias marcas na área social.
Uma indicação de que o combate à fome entraria na pauta política dos governadores já ocorreu na semana passada em Brasília, quando representantes de sete Estados que estão na lista da expansão do programa rejeitaram a proposta do Ministério da Segurança Alimentar de ser tornarem "parte integrante do Fome Zero".
Os representantes dos Estados de Alagoas, Pernambuco, Bahia, Ceará, Paraíba, Maranhão e Minas Gerais concordaram em colaborar na implantação do programa, mas se desobrigaram de coordená-lo regionalmente e de mudar o rumo dos seus próprios programas para atender às exigências do Fome Zero.

São Paulo
Bom exemplo da corrida dos governadores para divulgar sua própria agenda social é o caso de São Paulo. Desde o mandato passado, Geraldo Alckmin (PSDB) distribui, por meio do Alimenta São Paulo, 60 mil cestas-básicas por mês, dá leite para quase 600 mil crianças e ainda mantém 16 restaurantes (chamados de Bom Prato) que fornecem 25 mil refeições por dia a R$ 1.
Na semana passada, Alckmin lançou a Rede Social São Paulo, que pretende unificar programas sociais nos 50 municípios mais pobres do Estado.
O tucano anunciou a ampliação e a unificação dos programas sociais e a escolha do Vale do Ribeira, região mais pobre do Estado, como uma espécie de "campo de provas" das ações do governo, a exemplo do que o Fome Zero faz com o semi-árido nordestino.
Para o lançamento foram convidadas as mesmas pessoas que circulam em eventos semelhantes em Brasília, como a empresária Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna. Senna foi a empresária escolhida para discursar no Palácio do Planalto no dia da criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, presidido pelo ministro Tarso Genro (PT-RS).
Na quarta passada, coordenadores da Secretaria da Agricultura de São Paulo, responsável pela distribuição de alimentos, reuniram-se com as entidades sociais contratadas para administrar os restaurantes populares para informar que a marca Bom Prato é exclusiva do governo do Estado.
As duas instituições -que tocam os restaurante de Santana (zona norte) e de São Miguel Paulista (zona leste)- foram sondadas pela equipe da prefeita Marta Suplicy (PT) para montar restaurantes semelhantes sob o selo do Fome Zero.
Minas Gerais, do governador Aécio Neves (PSDB), continuará com o seu programa de combate à fome, herdado do governo de Itamar Franco.
Manteve até as mesmas pessoas no chamado Prosan. O secretário-geral do Conselho de Segurança Alimentar mineiro, Manoel Costa, informou que pode até ser criado um nome de fantasia para abrigar todas as iniciativas de combate à fome, mas isso depende de deliberação do conselho, presidido pelo próprio Aécio.
Para o titular da assistência social no Rio, Fernando Williams, o Cheque Cidadão (por meio do qual 100 mil famílias recebem um cupom no valor de R$ 100 mensais para comprar alimentos) tem a mesma filosofia do Cartão-Alimentação do programa federal, o Fome Zero.
Em ambos os programas o beneficiário precisa gastar o dinheiro com alimentos, só que no programa carioca, o valor que a família recebe é o dobro.
O Cheque Cidadão foi criado pela governadora Rosinha Matheus (PSB), quando pilotou a ação social do seu Estado na gestão do marido, Anthony Garotinho, candidato derrotado do PSB à Presidência da República.
Nos municípios da Baixada Fluminense, principal foco do programa, Rosinha recebeu 60% dos votos na última eleição, derrotando a petista e então governadora do Estado, Benedita da Silva, atual ministra da Assistência e da Promoção Social.


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