DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os eleitores que "sobram" em Santa Rita do Novo Destino (GO) poderiam eleger, sozinhos, pelo menos oito dos nove vereadores do município e chegariam perto do resultado obtido nas urnas pelo prefeito reeleito em 2000, com pouco mais de 40 votos de diferença do principal adversário.
Localizada a apenas 345 quilômetros de Brasília, a cidade integra o grupo de 30 municípios em que o número de eleitores supera o número de habitantes. Mesmo na situação absurda em que até os bebês de colo fossem obrigados a votar, ainda sobrariam eleitores em número suficiente para distorcer o resultado das urnas.
"Em Santa Rita do Novo Destino até um voto faz diferença", calcula o juiz eleitoral Aureliano Albuquerque Amorim, da comarca de Goianésia, à qual a cidade está subordinada.
Na frente do prédio do cartório, fica uma escultura da Deusa da Justiça com os olhos vendados e estranho sorriso de Monalisa, obra de um artista local.
A situação registrada lá também é curiosa: com base em fortes indícios de fraude, o juiz Amorim pediu a revisão do eleitorado. Teve o pedido negado pelo Tribunal Regional de Goiás por falta de dinheiro.
Uma correição (verificação) feita em 1999 indicou o tamanho do problema. Com base numa amostra de apenas 2% da população, o juiz mandou cancelar 88 títulos -o equivalente a 42% dos eleitores pesquisados que não foram encontrados nos endereços declarados e dos quais não se encontrou nenhum tipo de vínculo com o declarado domicílio eleitoral.
"A quantidade encontrada é muito superior à aceitável para tão pequeno município, sendo bastante clara a possibilidade de fraude", ponderou o juiz em relatório encaminhado ao tribunal.

Distorção
Em Santa Rita, há 20 eleitores a mais do que moradores, o que dá um índice de 1,007 eleitor por morador. O recorde da distorção no país, atualmente, fica com o município de Macuco (RJ): há mais 1.194 eleitores que moradores -um índice de 1,24 eleitor por morador. A prefeitura alega que muitos dos habitantes da cidade são contabilizados na cidade vizinha, Cantagalo.
O cartório de Goianésia, a 16 quilômetros de Santa Rita, informa que não tem como conferir o endereço apresentado pelo eleitor no ato do alistamento ou da transferência do título.
Eis a brecha para uma prática que se repete em várias cidades do país e que pode justificar a aberração: políticos transferem eleitores para engrossarem suas bases. "É uma picaretagem que acontece muito", observa o juiz Amorim. Ele defende uma revisão geral do eleitorado do país.
No caso de Santa Rita do Novo Destino, a fraude teria como principal objetivo as cadeiras desconfortáveis na pequena sala de chão de cimento queimado, sessões uma vez por semana e salários recém-aumentados para R$ 1.134 a que os vereadores têm direito. (MARTA SALOMON)


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