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DIPLOMACIA
Presidente brasileiro diz que Venezuela tem "direito à soberania"
Lula defende Chávez dos EUA
e diz não aceitar "difamações"
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A CIUDAD GUAYANA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva fez ontem uma defesa enfática do colega venezuelano, Hugo
Chávez, diante dos ataques que
tem recebido do governo americano. Para os EUA, a Venezuela é
um foco de desestabilização da
América Latina.
Em discurso improvisado durante abertura de encontro de cúpula em Ciudad Guayana, na
amazônia venezuelana, Lula disse
que o Brasil não aceitará "difamações" e "insinuações" contra o
presidente da Venezuela.
Lula disse a Chávez, diante do
presidente Álvaro Uribe (Colômbia) e do premiê José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), que a
Venezuela tem o "direito" de ser
um país "soberano".
"Quero dizer ao Chávez que não
tenho nenhuma dúvida em afirmar [...] que não aceitamos difamação contra companheiros, não
aceitamos insinuações contra
companheiros. A Venezuela tem
o direito de ser um país soberano,
de tomar as suas decisões."
Segundo Lula, as acusações não
são verdadeiras. "E, ao mesmo
tempo, a Venezuela não precisa
ficar sendo acusada de coisas que
a gente que convive com você,
Chávez, sabe que não fazem parte
de seu comportamento e de seu
pensamento." Antes, Lula havia
dito: "Tem muita gente falando
mal de nós pelo mundo".
Em sua fala, Lula disse ter ouvido de Chávez, em inúmeras oportunidades, que o venezuelano é
um dos principais defensores da
paz na América Latina.
Uma prova disso, segundo Lula,
foram as negociações para colocar um ponto final na recente crise com a Colômbia, provocada
pela captura do "chanceler" das
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Rodrigo
Granda, por forças colombianas
em Caracas. "Por isso, presidente
Chávez, você pode ter certeza da
nossa solidariedade."
Ontem, um dia após um informe do Departamento de Estado
dos EUA ter rotulado de "pobre"
o desempenho da Venezuela em
direitos humanos em 2004, Chávez também aproveitou o encontro de cúpula para contra-atacar.
Assim que desembarcou em
Ciudad Guayana, Chávez afirmou
que a Venezuela é um país "democrático" e de "paz". Mais tarde,
antes de ouvir a defesa de Lula,
disse: "Nos acusam de desestabilizar a região, de estar fazendo uma
corrida armamentista na região e
de apoiar movimentos subversivos". Depois, agradeceu a Lula:
"Obrigado por suas palavras de
solidariedade. Às vezes dói, a gente vai se curando aos poucos, mas
continua sempre doente".
Material bélico
Os embates entre EUA e Venezuela têm crescido nos últimos
dias, principalmente pela desconfiança americana em relação aos
anúncios venezuelanos de importação de material bélico russo.
Há uma semana, de passagem
pelo Brasil, o secretário Donald
Rumsfeld (Defesa) relatou sua
"preocupação" com a compra de
100 mil fuzis AK-47 da Rússia,
além de 40 helicópteros e 50 caças
Mig-29 SMT para as Forças Armadas do país.
Ontem, em conversa com o colega argentino, Néstor Kirchner, o
presidente dos EUA, George W.
Bush, demonstrou preocupação
com a Venezuela. E pediu a Kirchner que mantenha o diálogo com
os demais países da região para
manter a estabilidade local.
A polêmica pode esquentar ainda nesta semana, quando Zapatero e Chávez têm encontro bilateral, quando devem reabrir negociações para a venda, do governo
espanhol ao venezuelano, de
aviões e navios militares. O negócio, estimado em US$ 800 milhões, havia fracassado no início
do ano -segundo a imprensa venezuelana, coincidiu justamente
com o estouro da crise diplomática entre Bogotá e Caracas pelo caso Granda. A Venezuela também
negocia com o Brasil a compra de
caças-bombardeiros da Embraer.
A oposição venezuelana e setores políticos colombianos também têm manifestado preocupação com a compra de armamentos e equipamentos militares pelo
governo Chávez. Temem que as
armas acabem nas mãos das milícias venezuelanas ou das guerrilhas no país vizinho.
Em entrevista no encerramento
do encontro, Chávez disse: "Estou
atento a qualquer sinal positivo
que saia de Washington. Não
queremos conflitos. Queremos
um relacionamento decente. Tomamos nota e nos pareceram interessantes as declarações da secretária [de Estado dos EUA,
Condoleezza Rice, que disse na
semana passada não querer os venezuelanos como inimigo]". Segundo Chávez, é importante que
se "acabe com a guerra verbal".
Colaborou a Redação,
com agências internacionais
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