São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2005

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DIPLOMACIA

Presidente brasileiro diz que Venezuela tem "direito à soberania"

Lula defende Chávez dos EUA e diz não aceitar "difamações"

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A CIUDAD GUAYANA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma defesa enfática do colega venezuelano, Hugo Chávez, diante dos ataques que tem recebido do governo americano. Para os EUA, a Venezuela é um foco de desestabilização da América Latina.
Em discurso improvisado durante abertura de encontro de cúpula em Ciudad Guayana, na amazônia venezuelana, Lula disse que o Brasil não aceitará "difamações" e "insinuações" contra o presidente da Venezuela.
Lula disse a Chávez, diante do presidente Álvaro Uribe (Colômbia) e do premiê José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), que a Venezuela tem o "direito" de ser um país "soberano".
"Quero dizer ao Chávez que não tenho nenhuma dúvida em afirmar [...] que não aceitamos difamação contra companheiros, não aceitamos insinuações contra companheiros. A Venezuela tem o direito de ser um país soberano, de tomar as suas decisões."
Segundo Lula, as acusações não são verdadeiras. "E, ao mesmo tempo, a Venezuela não precisa ficar sendo acusada de coisas que a gente que convive com você, Chávez, sabe que não fazem parte de seu comportamento e de seu pensamento." Antes, Lula havia dito: "Tem muita gente falando mal de nós pelo mundo".
Em sua fala, Lula disse ter ouvido de Chávez, em inúmeras oportunidades, que o venezuelano é um dos principais defensores da paz na América Latina.
Uma prova disso, segundo Lula, foram as negociações para colocar um ponto final na recente crise com a Colômbia, provocada pela captura do "chanceler" das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Rodrigo Granda, por forças colombianas em Caracas. "Por isso, presidente Chávez, você pode ter certeza da nossa solidariedade."
Ontem, um dia após um informe do Departamento de Estado dos EUA ter rotulado de "pobre" o desempenho da Venezuela em direitos humanos em 2004, Chávez também aproveitou o encontro de cúpula para contra-atacar.
Assim que desembarcou em Ciudad Guayana, Chávez afirmou que a Venezuela é um país "democrático" e de "paz". Mais tarde, antes de ouvir a defesa de Lula, disse: "Nos acusam de desestabilizar a região, de estar fazendo uma corrida armamentista na região e de apoiar movimentos subversivos". Depois, agradeceu a Lula: "Obrigado por suas palavras de solidariedade. Às vezes dói, a gente vai se curando aos poucos, mas continua sempre doente".

Material bélico
Os embates entre EUA e Venezuela têm crescido nos últimos dias, principalmente pela desconfiança americana em relação aos anúncios venezuelanos de importação de material bélico russo.
Há uma semana, de passagem pelo Brasil, o secretário Donald Rumsfeld (Defesa) relatou sua "preocupação" com a compra de 100 mil fuzis AK-47 da Rússia, além de 40 helicópteros e 50 caças Mig-29 SMT para as Forças Armadas do país.
Ontem, em conversa com o colega argentino, Néstor Kirchner, o presidente dos EUA, George W. Bush, demonstrou preocupação com a Venezuela. E pediu a Kirchner que mantenha o diálogo com os demais países da região para manter a estabilidade local.
A polêmica pode esquentar ainda nesta semana, quando Zapatero e Chávez têm encontro bilateral, quando devem reabrir negociações para a venda, do governo espanhol ao venezuelano, de aviões e navios militares. O negócio, estimado em US$ 800 milhões, havia fracassado no início do ano -segundo a imprensa venezuelana, coincidiu justamente com o estouro da crise diplomática entre Bogotá e Caracas pelo caso Granda. A Venezuela também negocia com o Brasil a compra de caças-bombardeiros da Embraer.
A oposição venezuelana e setores políticos colombianos também têm manifestado preocupação com a compra de armamentos e equipamentos militares pelo governo Chávez. Temem que as armas acabem nas mãos das milícias venezuelanas ou das guerrilhas no país vizinho.
Em entrevista no encerramento do encontro, Chávez disse: "Estou atento a qualquer sinal positivo que saia de Washington. Não queremos conflitos. Queremos um relacionamento decente. Tomamos nota e nos pareceram interessantes as declarações da secretária [de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, que disse na semana passada não querer os venezuelanos como inimigo]". Segundo Chávez, é importante que se "acabe com a guerra verbal".


Colaborou a Redação, com agências internacionais

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