São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006

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ADEUS AO STF

Ministro recebe condecoração do Congresso ao deixar o STF para retomar carreira política

Jobim defende lei contra abusos de CPIs

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em seu último dia como ministro do Supremo Tribunal Federal, cargo que ocupou por nove anos, Nelson Jobim pediu ontem a aprovação de uma lei disciplinando os poderes de atuação das CPIs e defendeu as liminares do tribunal contra atos dessas comissões, ao discursar da tribuna do Senado em uma sessão em sua homenagem.
Jobim disse que o STF deve fazer "o juízo da legalidade" dos atos contestados, independentemente das conveniências políticas, e defendeu em especial a liminar do ministro Cezar Peluso que suspendeu o depoimento do caseiro Francenildo Costa à CPI dos Bingos por suposta falta de ligação com o alvo da apuração.
Ele protestou contra a freqüente apresentação no STF de ações de inconstitucionalidade por forças derrotadas no Congresso: "Aqueles que não têm condições de superar as suas dificuldades e apelam a terceiros não merecem ter consideração", pois teriam renunciado à missão do parlamentar de resolver conflitos políticos no Legislativo: "O tapete azul do Senado não é o tapete vermelho do STF".
Jobim decidiu se aposentar a partir de hoje para se filiar ao PMDB a tempo de se candidatar nestas eleições. O cargo que disputará ainda é incerto.
Sobre a limitação do papel das CPIs, ele afirmou: "Os senhores precisam disciplinar as regras das CPIs, estabelecendo uma legislação que defina o que não pode e o que pode fazer, porque desde o governo Collor o STF está a construir o que o ministro Sepúlveda Pertence denomina uma doutrina de CPIs". Há uma semana, o julgamento no STF de um mandado de segurança de uma corretora contra a CPI dos Correios se tornou em uma espécie de sessão de desabafo, com protestos de cinco ministros, inclusive Jobim, ao que eles afirmam ser abusos das CPIs.
Jobim confirmou indiretamente a intenção de se candidatar. "Estou saindo do STF, mas não vou morrer de pijama", afirmou, parafraseando Ulysses Guimarães. "O fato verdadeiro é de que eu sempre me expus. Me cobrem erros, mas não me cobrem omissões." No STF, repetiu que não morrerá de pijama, e o ministro Sepúlveda Pertence o saudou dizendo: "Na advocacia ou na vida pública, o país tem muito a esperar. Dos anos no STF, a história lhe fará justiça".
Jobim recebeu do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), uma condecoração de grã-cruz do Congresso -uma faixa verde e amarela, semelhante à faixa presidencial. Ontem ele ainda negava o projeto político: "Sou candidato a advogado". Uma das possibilidades é concorrer ao governo gaúcho. Com a sua saída do STF, a presidência do tribunal passará a Ellen Gracie Northfleet.
Juízes são proibidos de ter atividade político-partidária. Além de Jobim, vários senadores peemedebistas fizeram referência à sua eventual candidatura. "Tenho certeza de que os quadros do PMDB vão recebê-lo para novos desafios e novas conquistas", disse Ney Suassuna (PB). Pedro Simon (RS) afirmou que o Rio Grande do Sul aguarda a volta de Jobim ao Estado.


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