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ELIO GASPARI
A revolução econômica do andar de baixo
Há no mundo um mercado com 1 bilhão de novos consumidores e no Brasil
eles são 120 milhões
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O BOSTON Consulting Group
apresentou uma idéia à praça:
há 1 bilhão de novos consumidores prontos para serem atendidos
pela economia mundial. A maior parte
desse mercado está na China, na Índia
e no Brasil. Ele começa logo acima da
linha da pobreza e acaba no início da
classe média. São pessoas que estão fora do radar de muitas companhias e deverão provocar mudanças na economia mundial. Pode-se arriscar que sejam semelhantes às que ocorreram na
Europa nas duas décadas seguintes ao
fim da Segunda Guerra.
No Brasil, esse mercado tem 120 milhões de fregueses, com renda familiar
inferior a R$ 1.200 mensais. Eles produzem perto de um terço da renda nacional e ficam com metade do consumo, cerca de R$ 200 bilhões anuais.
Uma família típica gasta 78% do que
recebe em casa, comida, transporte,
saúde e telefone. Sobram 22% para ir
às compras.
No topo do grupo, o excedente chega
a 50% da renda. É um dinheiro que começa a mudar o perfil da produção nacional.
De cada 10 brasileiros que fazem
parte desse mercado, 6 trabalham na
informalidade e 8 recebem seus pagamentos em dinheiro. Mesmo assim,
gastam R$ 28 bilhões por ano com
prestações e 1 em cada 2 acredita que
poupará mais no ano que vem.
Esses brasileiros estão um pouco
melhor que os europeus do início da segunda metade do século passado. Como as coisas por lá foram de bom a melhor, aconteceram situações incríveis.
Em 1950, na Alemanha, venderam-se
900 mil pares de meias de náilon para
mulheres. Quatro anos depois, as alemãs compraram 58 milhões de pares
de meias. A explosão do consumo europeu levou o escritor comunista Roger
Vailland a dizer que os franceses não
precisavam de geladeiras, um "símbolo
da mistificação" americana.
"Nova classe média", "turma do bilhão", "neo-emergentes" ou seja qual
for o nome que se dê ao fenômeno, ele
está aí para mudar muita coisa.
Não é à toa que grandes empresas começaram a mergulhar na periferia das
grandes cidades e que o Banco Azteca
(capitais mexicanos) abriu no Recife
sua primeira agência sem exigência de
renda para abrir conta, nem cobrança
de tarifas. Ele opera acoplado a uma loja de móveis e aparelhos domésticos.
Do ponto de vista dos negócios,
quem não olhar para o andar de baixo
ficará com um mico. Do ponto de vista
político, seria muito simples supor que
essas famílias são devotas de Nosso
Guia. Podem não ser, mas foi no governo de Lula que o crédito se expandiu e
sobrou mais salário no fim do mês.
POSTE GANHA ELEIÇÃO, TUDO DEPENDE DO DONO
Contribuição para o debate da "teoria do poste", segundo a qual Nosso Guia não
conseguirá converter sua
força eleitoral em votos para
outro candidato.
O grande poste foi o general Henrique Lott, apoiado
pelo governo na eleição de
1955 e derrotado pelo oposicionista Jânio Quadros. A
comparação é trapaceira.
Juscelino Kubitschek não jogou seu destino político na
eleição de Lott. JK comprou
o poste, mas não o carregou.
À falta de bom precedente
em eleição presidencial, nos
Estados e nos municípios o
poste tem outra cara.
Em São Paulo, os governadores Adhemar de Barros
(1950), Jânio Quadros (1958)
e Orestes Quércia (1966) elegeram os postes Lucas Garcez, Carvalho Pinto e Luiz
Antonio Fleury. Em 1996,
Cesar Maia elegeu Luiz Paulo Conde para a Prefeitura do
Rio e Paulo Maluf colocou
Celso Pitta na de São Paulo.
Na Bahia, ACM elegeu três
postes (João Durval, Paulo
Souto e César Borges), mas
perdeu duas eleições, uma
para Waldir Pires e outra para Jaques Wagner.
A probabilidade de vitória
do poste está diretamente
relacionada com o interesse
do pajé na sua eleição. É aí
que mora a dúvida. Lula carregará o poste, ou fará como
JK?
COMISSÁRIA DILMA
Quem ouviu a ministra Dilma
Rousseff no jantar do Iedi de 20
de fevereiro, numa sala reservada
do restaurante DOM, em São
Paulo, não teve a menor dúvida:
ela informou que o governo estava coletando dados para incriminar o governo de FFHH na farra
dos cartões corporativos.
Como já se passou mais de um
mês, não é possível assegurar
qual foi a palavra exata da comissária. Pode ter sido "coletando",
"juntando" ou "levantando". O
tom era policial. Quando Dilma
mostrou seus poderes aos 30 industriais reunidos no DOM, a
companheira Erenice Alves
Guerra já havia reunido sua tropa
de elite no Palácio do Planalto.
NOVAS BASES
Há municípios do Nordeste e
de Minas Gerais onde a popularidade de Nosso Guia já rompeu a
barreira dos 80%.
NINA
O governo da Irlanda resolveu
maltratar os brasileiros que chegam àquele país. Caso para ser resolvido pela Polícia Federal, deportando meia dúzia de nativos
daquela terra, com preferência
para pessoas que trabalham no
Brasil com vistos de turista. Pena
que a Irlanda tenha se esquecido
do tempo em que exportou algo
como 5 milhões de miseráveis,
derrubados pela fome e pela falta
de trabalho. Esses batalhadores
foram acompanhados pelo estereótipo de bárbaros, briguentos e
bêbados.
Houve época em que estabelecimentos comerciais americanos
punham cartazes nas sua portas
informando: "Não aceitamos negros, irlandeses nem cachorros".
As madames de Londres e Nova
York anunciavam empregos domésticos com um código: "NINA"
(No Irish need apply", "Irlandeses não devem se candidatar".)
GRANDE RUBI
Está nas livrarias "A Vida
Louca de Porfirio Rubirosa, o
Último Playboy". Rubi (1909-1965) foi um fascinante picareta,
gigolô e vigarista. Sendo amigo
do rei (o ditador dominicano
Rafael Trujillo, com cuja filha
esteve casado) fez do mundo sua
Pasárgada, com as mulheres que
quis, nas camas que escolheu.
O livro do jornalista Shawn
Levy conta duas histórias. Numa, descreve os salões da grã-finagem onde Rubirosa brilhou,
com sua anatomia discutida em
cinco páginas definitivas. Noutra, mostra as conexões de um
picaretaço latino-americano
com milionários europeus,
americanos e inclusive irlandeses, como os Kennedy. Lá está o
falecido Instituto Brasileiro do
Café molhando a mão de Igor
Cassini, o colunista preferido de
Jackie. O que poderia ser um livro mundano é uma arguta reportagem política de um tempo
de grandes roubalheiras, lindas
mulheres e fantásticas boates.
Pena que Levy trate os milionários com uma ponta de rancor
proletário. Não se pode deixar
de admirar um homem capaz de
dizer que "a ambição da maioria
das pessoas é ganhar dinheiro, a
minha é gastar".
TUNGA TARIFÁRIA
O governo decidiu segurar o
preço da energia que vende aos
grandes consumidores. Não faz
isso só porque gosta deles mas
também porque o megawatt-hora comprado a R$ 80 ajuda a
baixar a inflação.
Essa filantropia transfere dinheiro do andar de baixo para o
de cima. A patuléia, consumidora de energia nos relógios, paga
de R$ 100 até R$ 800 pelo mesmo megawatt. Depois de pagar
pela construção das hidrelétricas que produzem energia barata, a choldra se vê obrigada a financiar as térmicas do megawatt caro.
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