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IGREJA
Bispos escolhem nova presidência da entidade e recebem visita de Lula
Assembléia define "ênfase" no papel político da CNBB
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A ITAICI
A 41ª Assembléia Geral da
CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil), que começa hoje em Itaici, distrito de Indaiatuba
(SP), e vai até o próximo dia 9, definirá a "intensidade" com que a
entidade representará seu tradicional papel na vida política nacional nos próximos quatro anos.
Duas chapas apresentaram nomes para as eleições que definirão
o perfil da CNBB. Embora os bispos tendam a discordar da denominação, elas podem ser classificadas como uma mais "conservadora" e outra mais "progressista".
Seus principais articuladores,
que representam posições extremas em relação ao conjunto de
seus colegas, discordam sobre o
papel político a ser desempenhado pela entidade.
D. Amaury Castanho, bispo de
Jundiaí, articulador da chapa
mais conservadora -que indica
d. Dadeus Grings, arcebispo de
Porto Alegre, para a vice-presidência, e d. Walmor Oliveira de
Azevedo, bispo auxiliar de Salvador, para a secretaria geral-, diz
que "a CNBB não é uma entidade
política", embora isso não exclua,
ele afirma, "a preocupação social
com os mais pobres".
Um dos principais articuladores
da chapa mais "progressista", d.
Tomás Balduino, lamenta o que
chama de arrefecimento do caráter "profético" (político, combativo) da CNBB, que teria ocorrido
nos últimos anos. Foram indicados por essa chapa d. Antônio
Celso de Queiroz, bispo de Catanduva (SP), para a vice, e d. Pedro
Luiz Stringhini, bispo auxiliar de
São Paulo, para a secretaria geral.
Ambas as chapas indicaram o
cardel-arcebispo de Salvador e
primaz do Brasil, d. Geraldo Majella Agnelo, para a presidência. É
praticamente certo que ele seja
eleito no próximo domingo.
D. Amaury afirma que o novo
estatuto da entidade, elaborado
em 2001, pode conduzir a CNBB a
realizar melhor seus objetivos,
que passam, segundo ele, "mais
pelos caminhos da evangelização
e menos pelos ideológicos e partidários". O estatuto privilegia a relação direta do Vaticano com os
bispos e restringe a atuação de assessores -que, entre outras funções, elaboram "análises de conjuntura" social e política.
Para d. Tomás, entretanto, "a
lei, uma vez feita, depende da administração". "Uma administração mais legalista vai tirar partido
dessa lei para realizar esse retorno, consolidar o retorno à grande
disciplina eclesiástica. Por outro
lado, dependendo de quem administra, a lei é respeitada, mas não
absolutizada."
A maioria dos bispos concilia e
matiza as duas visões. Entre eles, o
próprio d. Geraldo Majella, que
deve vir a exercer a presidência.
Membros da CNBB ouvidos pela
Folha afirmam que a "inclinação"
política da entidade tenderá a ser
definida pelo perfil do secretário-geral, que desempenha o principal papel executivo na entidade.
D. Pedro Luiz, 49, um dos nomes apresentados, é encarregado
da região do Belém, na periferia
de São Paulo, e representante da
CNBB na Pastoral Carcerária. É
ainda o responsável pelas pastorais sociais da arquidiocese de São
Paulo. "A missão da igreja não é
política, mas tem incidência política, de modo especial na vida dos
excluídos", ele diz.
D. Walmor, 49, é bastante afinado com a orientação de d. Geraldo
Majella e tem trajetória acadêmica importante. Foi um dos responsáveis pela nova tradução oficial da Bíblia pela CNBB.
Simultânea ao processo de escolha da nova presidência será a discussão e aprovação do estatuto civil da entidade, que regula a maneira de ela se relacionar com a
sociedade e o poder público. Serão eleitos ainda os presidentes
das Comissões Episcopais de Pastoral. Para os cargos eletivos, os
bispos não são obrigados a votar
nos nomes apresentados pelas
chapas, embora tradicionalmente
escolham entre os sugeridos.
Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva será o primeiro presidente a
comparecer a uma assembléia da
CNBB. Ele irá a Itaici na noite do
dia 1º de maio. Sua visita será precedida pela divulgação de uma
mensagem da conferência a respeito do Dia do Trabalhado.
Um dos temas tratados deve ser
a participação da igreja no projeto
Fome Zero. Segundo d. Raymundo Damasceno Assis, atual secretário-geral da entidade, o governo
já teria procurado a comissão da
CNBB responsável pelo "Mutirão
para a Superação da Miséria e da
Fome", lançado no ano passado,
para discutir possíveis parcerias.
Ele diz que o programa do governo responde a uma preocupação
da igreja no Brasil, mas "deve ser
acompanhado de outras políticas
públicas para que não se transforme em projeto assistencialista".
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