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São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2003

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IGREJA

Bispos escolhem nova presidência da entidade e recebem visita de Lula

Assembléia define "ênfase" no papel político da CNBB

RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A ITAICI

A 41ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que começa hoje em Itaici, distrito de Indaiatuba (SP), e vai até o próximo dia 9, definirá a "intensidade" com que a entidade representará seu tradicional papel na vida política nacional nos próximos quatro anos.
Duas chapas apresentaram nomes para as eleições que definirão o perfil da CNBB. Embora os bispos tendam a discordar da denominação, elas podem ser classificadas como uma mais "conservadora" e outra mais "progressista".
Seus principais articuladores, que representam posições extremas em relação ao conjunto de seus colegas, discordam sobre o papel político a ser desempenhado pela entidade.
D. Amaury Castanho, bispo de Jundiaí, articulador da chapa mais conservadora -que indica d. Dadeus Grings, arcebispo de Porto Alegre, para a vice-presidência, e d. Walmor Oliveira de Azevedo, bispo auxiliar de Salvador, para a secretaria geral-, diz que "a CNBB não é uma entidade política", embora isso não exclua, ele afirma, "a preocupação social com os mais pobres".
Um dos principais articuladores da chapa mais "progressista", d. Tomás Balduino, lamenta o que chama de arrefecimento do caráter "profético" (político, combativo) da CNBB, que teria ocorrido nos últimos anos. Foram indicados por essa chapa d. Antônio Celso de Queiroz, bispo de Catanduva (SP), para a vice, e d. Pedro Luiz Stringhini, bispo auxiliar de São Paulo, para a secretaria geral.
Ambas as chapas indicaram o cardel-arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, d. Geraldo Majella Agnelo, para a presidência. É praticamente certo que ele seja eleito no próximo domingo.
D. Amaury afirma que o novo estatuto da entidade, elaborado em 2001, pode conduzir a CNBB a realizar melhor seus objetivos, que passam, segundo ele, "mais pelos caminhos da evangelização e menos pelos ideológicos e partidários". O estatuto privilegia a relação direta do Vaticano com os bispos e restringe a atuação de assessores -que, entre outras funções, elaboram "análises de conjuntura" social e política.
Para d. Tomás, entretanto, "a lei, uma vez feita, depende da administração". "Uma administração mais legalista vai tirar partido dessa lei para realizar esse retorno, consolidar o retorno à grande disciplina eclesiástica. Por outro lado, dependendo de quem administra, a lei é respeitada, mas não absolutizada."
A maioria dos bispos concilia e matiza as duas visões. Entre eles, o próprio d. Geraldo Majella, que deve vir a exercer a presidência. Membros da CNBB ouvidos pela Folha afirmam que a "inclinação" política da entidade tenderá a ser definida pelo perfil do secretário-geral, que desempenha o principal papel executivo na entidade.
D. Pedro Luiz, 49, um dos nomes apresentados, é encarregado da região do Belém, na periferia de São Paulo, e representante da CNBB na Pastoral Carcerária. É ainda o responsável pelas pastorais sociais da arquidiocese de São Paulo. "A missão da igreja não é política, mas tem incidência política, de modo especial na vida dos excluídos", ele diz.
D. Walmor, 49, é bastante afinado com a orientação de d. Geraldo Majella e tem trajetória acadêmica importante. Foi um dos responsáveis pela nova tradução oficial da Bíblia pela CNBB.
Simultânea ao processo de escolha da nova presidência será a discussão e aprovação do estatuto civil da entidade, que regula a maneira de ela se relacionar com a sociedade e o poder público. Serão eleitos ainda os presidentes das Comissões Episcopais de Pastoral. Para os cargos eletivos, os bispos não são obrigados a votar nos nomes apresentados pelas chapas, embora tradicionalmente escolham entre os sugeridos.

Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será o primeiro presidente a comparecer a uma assembléia da CNBB. Ele irá a Itaici na noite do dia 1º de maio. Sua visita será precedida pela divulgação de uma mensagem da conferência a respeito do Dia do Trabalhado.
Um dos temas tratados deve ser a participação da igreja no projeto Fome Zero. Segundo d. Raymundo Damasceno Assis, atual secretário-geral da entidade, o governo já teria procurado a comissão da CNBB responsável pelo "Mutirão para a Superação da Miséria e da Fome", lançado no ano passado, para discutir possíveis parcerias. Ele diz que o programa do governo responde a uma preocupação da igreja no Brasil, mas "deve ser acompanhado de outras políticas públicas para que não se transforme em projeto assistencialista".


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