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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ O MARQUETEIRO
Só a Pirulito Company, com sede nas Bahamas e cujo procurador
é um sócio do publicitário, recebeu US$ 875.338 no dia 2 de julho
Offshores ligadas a Duda receberam US$ 1,6 mi em 2003
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A mais nova leva de documentos encaminhada ao Brasil pelas
autoridades norte-americanas revela que três empresas offshores
ligadas ao publicitário Duda
Mendonça receberam US$ 1,59
milhão entre junho e julho de
2003, por meio de remessas realizadas no mercado financeiro dos
Estados Unidos. O dinheiro saiu
da conta bancária da Dusseldorf,
offshore que pertence ao publicitário e foi utilizada para receber
de forma ilegal pagamento por
serviços prestados ao PT.
Conforme os documentos, que
fazem parte do inquérito no qual
se investiga o mensalão, a operação de crédito mais expressiva foi
para a conta da Pirulito Company
Ltd., cujo procurador é Eduardo
de Matos Freiha, sócio de Duda.
Da mesma forma que a Dusseldorf, a Pirulito Company Ltd. tem
sede nas Bahamas. Sua conta bancária foi aberta em 16 de junho de
2003, no BankBoston de Miami
(EUA). No dia 2 de julho, a empresa recebeu US$ 875.338.
Em 18 de junho do mesmo ano,
a Dusseldorf mandou, também
pelo BankBoston em Miami, US$
218 mil para a conta da Raspberry
Company e outros US$ 500 mil
para a da Sttutgard Company
Ltd., esta última aberta dois meses
antes.
A maior parte desses recursos
foi posteriormente repassada para as contas das offshores Agata e
Maximus, que pertencem a doleiros e movimentaram milhões pelo MTB, banco investigado nos
Estados Unidos por suspeita de
prática de lavagem de dinheiro.
1997 a 2000
As operações da Agata com Duda e associados até então conhecidas estendiam-se de 14 de janeiro
de 1997 a 12 de julho de 2000. A
base de dados do MTB, obtida pela já extinta CPI do Banestado, registra oito operações em nome do
publicitário, num total de US$
668,2 mil. Outros 14 depósitos e
recebimentos são atribuídos a Zilmar Fernandes da Silveira, sócia
de Duda Mendonça.
A Agata, que movimentou mais
de US$ 600 milhões, segundo a
Polícia Federal, pertence aos doleiros Roger Clement Haber e
Myrian Haber. Eles vivem no Brasil, mas não foram localizados na
última sexta-feira pela Folha.
Os documentos relacionados a
Duda, que foram trazidos com
base em tratado de cooperação
internacional e por meio do DRCI
(Departamento de Recuperação
de Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional) do Ministério da
Justiça, também registram que o
dinheiro da Dusseldorf irrigou
outras quatro contas de pessoas
físicas que pertencem ao próprio
publicitário, a familiares dele e a
sua sócia Zilmar.
A conta de número 01122642,
aberta em 15 de setembro de 1994,
em nome de Duda e de seus filhos
Eduarda, Leonardo e Alexandre,
apresentava um saldo de US$ 7,5
milhões em janeiro de 1999. Durante o tempo em que esteve ativa, ao longo de 2002, a Dusseldorf
girou US$ 10,5 milhões no sistema
financeiro norte-americano.
Duda e Zilmar estão entre as 40
pessoas denunciadas ao Supremo
Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Antonio
Fernando Souza, por suposto envolvimento com irregularidades
relacionadas ao mensalão. São
acusados de praticar os crimes de
evasão divisas e lavagem de dinheiro, devido às operações financeiras realizadas no exterior à
revelia da Receita Federal.
Lavagem de dinheiro
Ao comentar na denúncia essas
operações, o procurador-geral
afirma que, "conscientes de que
os recursos recebidos tinham como origem organização criminosa voltada para a prática de crimes
contra a administração pública e
contra o sistema financeiro nacional, os denunciados deliberadamente articularam esquema para
dissimular a natureza, origem, localização, movimentação e a propriedade dos valores".
Em nome de Duda, seus familiares e sócios, o advogado Tales
Castelo Branco disse à Folha na
tarde de sexta-feira que seu cliente
não comentaria o assunto, mantendo a conduta que adotou desde que o publicitário se apresentou à CPI dos Correios. Segundo
Castelo Branco, o foro correto para tratar desse tema é o Poder Judiciário, mais especificamente o
Supremo Tribunal Federal, no
qual seus clientes foram denunciados. No ano passado, Duda revelou a existência da Dusseldorf e
disse que essa seria sua única conta no exterior. Ao ser questionado
novamente pela CPI, em 15 de
março deste ano, Duda silenciou.
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